Título: Lessa exorta indústria a fazer projetos
Autor: Luciana Otoni
Fonte: Gazeta Mercantil, 22/09/2004, Nacional, p. A-5
"Nossa angústia são os projetos das grandes empresas. O Brasil precisa de maiores gestos". O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Carlos Lessa, fez ontem um apelo para que o setor industrial apresente projetos de impacto na estrutura da economia brasileira. "Nossa angústia são os projetos das grandes empresas", desabafou. "O Brasil precisa de maiores gestos de audácia do empresariado nacional", acrescentou Lessa. Ele disse também que a sustentabilidade do desenvolvimento de longo prazo estará ameaçada caso os grandes grupos produtivos não reajam positivamente à retomada dos investimentos.
Ao fazer o apelo por grandes projetos, Lessa apontou o potencial de alavancagem de R$ 30 bilhões do BNDES e disse ser a favor da redução da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) de 9,75% para 8% ao ano. A TJLP é uma taxa de longo prazo usada nos 430 mil contratos de financiamento que o banco de fomento possui junto às empresas de grande porte. O BNDES está movimentando neste ano um orçamento de R$ 47,3 bilhões e a projeção para 2005 é de um volume financeiro de R$ 60 bilhões.
Ontem, o presidente do BNDES e os demais membros da diretoria do banco foram homenageados pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), em Brasília. O presidente da CNI, Amando Monteiro Neto (PTB-PE), disse que a homenagem não deve ser interpretada como um movimento a favor de Lessa. "Não é nada pró-Lessa porque a posição dele está consolidada e ele tem a confiança do presidente", afirmou Monteiro Neto.
O presidente do BNDES fez um breve balanço das ações e informou que os empréstimos a médias e pequenas empresas expandiram 32% neste ano. Por outro lado, ele apontou que os grandes financiamentos continuam restritos aos setores de celulose, siderurgia e construção naval e que há carência por projetos de característica estruturante. Nesse aspecto, o presidente do BNDES fez uma análise do potencial de alavancagem do banco de fomento e considerou que a carteira de R$ 30 bilhões em ações poderia gerar mais R$ 30 bilhões em novos recursos para o financiamento dos investimentos.
"O BNDES é o guardião da maior carteira de ações e possui contratos com as melhores empresas do País, mas não securitiza, não emite cotas de fundos, não faz nenhuma operação em fundos derivativos", disse. "Tenho R$ 30 bilhões em ações que poderiam se converter em mais R$ 30 bilhões de capital e isso depende de uma decisão do Conselho Monetário Nacional (CMN)", disse Lessa.
Os empresários elogiaram a recém-adotada linha de capital de giro de R$ 2,5 bilhões direcionada ao setor industrial. Os recursos estão sendo ofertados a uma taxa de 11% ao ano (que se reduz à metade caso haja compromisso de abertura de novas vagas de trabalho ou de aumento da produção), com carência de 12 meses, prazo de amortização de 24 meses. Dos R$ 2,5 bilhões ofertados, o banco emprestou R$ 390 milhões.
A homenagem prestada pelos industriais à direção do BNDES mostrou que, em vários aspectos, a iniciativa privada e o banco estatal de fomento estão alinhados. A proposta de redução da TJLP é um dos elos dessa ligação. Ontem, os empresários voltaram a enfatizar que a redução da taxa representaria um sinal de confiança do governo na economia. "Admitindo-se uma inflação de 5,5% por que não poderíamos ter uma taxa de 8%?", indagou Armando Monteiro Neto. "É preciso que a TJLP se alinhe um pouco às taxas internacionais. Quando a grande empresa capta recursos lá fora, capta a 6,75% ao ano", complementou Monteiro Neto.
A proposta encontra respaldo da parte do presidente do BNDES, embora essa seja uma taxa definida pelos membros do CMN. No cálculo da TJLP, o Conselho considera a projeção da inflação em 12 meses e a avaliação de risco-país feita pelas agências de `rating¿. Lessa disse que a tendência de alta da taxa Selic preocupa, mas se posicionou a favor do rebaixamento da TJLP. "Meu voto é pela redução. Esse seria um sinal importante", disse. O BNDES possui 430 mil contratos atrelados à TJLP que representam R$ 100 bilhões em contratos de financiamento firmado com grandes empresas.