Título: Lula quer mais ousadia contra a crise econômica
Autor: Oliveira,Ana Carolina ; Aliski ,Ayr
Fonte: Gazeta Mercantil, 03/02/2009, Brasil, p. A6

3 de Fevereiro de 2009 - Ousadia do governo, com mais investimentos oficiais, incluindo um reforço no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), luta contra o custo do crédito e aumento no volume de dinheiro disponível. Esses são os principais ingredientes que o Brasil vai utilizar para combater o agravamento da crise econômica mundial. O recado foi dado pelo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva na reunião ministerial realizada durante todo o dia de ontem na Granja do Torto, em Brasília.

"Aumentando investimentos, emprego e acumulando reservas, o Brasil se preparou para atravessar essa crise melhor", disse o ministro da Fazenda, Guido Mantega, ao final da reunião. "Não é momento de reação tímida ou retraída. O presidente quer ousadia", destacou o ministro da Fazenda, que foi o porta-voz de Lula para comunicar as conclusões da reunião.

A ordem dada aos ministros é manter projetos econômicos e sociais, a despeito da retração mundial. A estratégia, portanto, é aumentar a intervenção do Estado na economia. "Todos os programas prioritários do governo estão mantidos", garantiu Mantega, destacando que os cortes no orçamento resumiram-se a gastos de custeio, não de investimento e serão temporários. Será observado o comportamento da arrecadação até março, para que então sejam realizados ajustes no orçamento. "Faremos tudo o que for necessário para manter investimento", afirmou Mantega.

Quanto ao reforço do PAC, Mantega não informou qual será o volume de recursos adicionais, porém avisou que é certo que novos projetos serão incluídos. "O PAC será aumentado com programas em todos os setores, logística, estradas e ferrovias", disse o ministro. Apesar de o novo PAC ter sido apresentado ontem à cúpula federal pela ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, os números só serão informados ao público amanhã.

Sobre o péssimo resultado da balança comercial, que em janeiro registrou déficit, Mantega afirmou que é um retrato da crise global, que reduz os fluxo de comércio mundial. Por isso, destacou que é importante que os países não se fechem em blocos. "Não podemos permitir a volta do protecionismo. Seria incorrer em erro semelhante ao que houve depois da crise de 1929", declarou. Uma das estratégias seria ampliar o comércio na América do Sul, utilizando sistemas de pagamentos em moedas locais, assim como foi posto em prática no ano passado entre Brasil e Argentina.

"O comércio externo está sendo reduzido. Isso afeta todos os países, inclusive a China", disse Mantega, ao criticar os países ricos. "A crise financeira não foi equacionada satisfatoriamente nos países avançados. Quem gerou a crise não soube administrá-la", declarou, ao justificar que neste início de ano há uma desaceleração econômica global, afetando fluxos de comércio. Ou seja, o Brasil tem menos para quem vender no exterior. Segundo Mantega, há consenso internacional de queda de até 2% no Produto Interno Bruto (PIB) das economias desenvolvidas e de crescimento de 3% nos países emergentes, incluindo o Brasil.

"Hoje eles [os países desenvolvidos] não têm nada para nos ensinar. Não vamos seguir a rota da desaceleração", sustentou o ministro da Fazenda. Mantega falou também das ações que já vinham sendo adotadas para blindar o Brasil dos efeitos da crise. O ministro destacou a importância de o Banco Central ter adotado medidas para aumentar a liquidez de crédito no mercado interno e ter reduzido a taxa Selic, a redução de tributos federais, a luta contra o custo do crédito por meio dos bancos oficiais, incluindo o combate aos altos spreads bancários, e a injeção de R$ 100 bilhões no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). "Com isso, o BNDES passa a ter R$ 168 bilhões", destacou Mantega. A manutenção do programa de investimentos da Petrobras também foi citada como estratégia contra a crise.

Spread mais baixo

"O spread pode ser mais baixo no Brasil", admitiu ontem o ministro da Fazenda, Guido Mantega, ao deixar a Granja do Torto, em Brasília, ao fim da reunião ministerial convocada pelo Presidente Lula. Disse que os bancos públicos já reduziram seus spreads e estão oferecendo crédito mais barato. "Isso estimula a competição", disse. Mas ainda assim, destacou: "Existem outras maneiras [de reduzir o spread], estamos abertos ao diálogo", disse. "O Banco do Brasil e a Caixa já estão praticando taxas menores", afirmou Mantega. O ministro disse ainda que o reforço de caixa do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) é outra forma de forçar a queda do spread, porque esse banco oferece tradicionalmente crédito mais barato e com taxas mais leves. Mantega destacou que Lula cobrou dos ministros da área econômica informações sobre a falta de crédito e exigiu medidas para garantir que investidores tenham condições de manter projetos.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 6)(Ana Carolina Oliveira e Ayr Aliski)