Título: Sou eleito pela Casa e não pela cúpula
Autor: Correia,Karla ; Bruno,Raphael
Fonte: Gazeta Mercantil, 03/02/2009, Brasil, p. A7

Brasília, 3 de Fevereiro de 2009 - A sessão que elegeu o deputado Michel Temer (PMDB-SP) o mais novo presidente da Câmara, com 304 votos, ontem, começou tensa. Logo na abertura dos trabalhos, grupos de apoiadores dos concorrentes Ciro Nogueira (PP-PI) e Aldo Rebelo (PCdoB-SP) protestaram contra a decisão da Mesa Diretora de antecipar a sessão das 12h para as 10h e de estabelecer que a vitória na votação seria realizada por maioria simples dos deputados presentes, e não por maioria absoluta dos parlamentares da Casa.

Os ânimos se acirraram ainda mais quando a tropa de choque de Temer, receosa de que um anúncio precoce da vitória de José Sarney (PMDB-AP) no Senado custasse ao candidato peemedebista preciosos votos de parlamentares que não desejavam ver o PMDB no comando das duas casas, tentou acelerar o início da votação na Câmara, para irritação do grupo de Ciro e Aldo.

Temer, exibindo bom humor e confiança, circulava pelo plenário cumprimentando e conversando com colegas. Primeiro candidato a subir na tribuna, o peemedebista tentou se desvencilhar da imagem de candidato das cúpulas partidárias, sem contato com as bases: "Estamos todos do mesmo lado, o lado do poder Legislativo", disse.

O candidato peemedebista não convenceu Ciro, que fez um discurso duro direcionado a Temer. "Para serem ouvidos, os senhores (deputados) precisam ser enxergados", criticou. "alguns presidentes que passaram pela Casa veem quase que como um sacrifício conversar e conhecer os colegas. Depois de eleitos, se isolam e se estabelecem deputados de primeira e segunda categorias. Acredito que esse isolamento é uma das principais causas de alguns dos piores problemas que a Câmara enfrentou nos últimos anos."

Aldo encerrou os discursos dos candidatos. Num tom mais sóbrio, lembrou a experiência que adquiriu durante os anos que comandou a Casa (2005-2006), quando enfrentou a crise política gerada pela descoberta do "mensalão" e a invasão de militantes de grupo ligado ao Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra. Mas não perdeu a chance de criticar o suposto "elitismo" da candidatura Temer.

"Não creio que essa sessão seja apenas para referendar um acordo político de cúpulas feito dois anos atrás", comentou, em referência ao acerto entre PT e PMDB realizado em 2007, que possibilitou a eleição de Arlindo Chinaglia (PT-SP).

No início da tarde, apoiadores de Ciro anunciavam a vitória de Sarney no Senado na esperança de mobilizar votos contrários a Temer. O líder do PT na Câmara, Maurício Rands (PE), tentava tranquilizar os receosos de defecções na bancada petista. "Tenho confiança de que os deputados estão com a opinião formada que não será alterada pelo resultado do Senado."

Quando o painel eletrônico da Câmara se abriu, Temer contabilizava 304 votos, contra 129 de Ciro e 76 de Aldo. "Se tivéssemos quebrado o acordo, teríamos jogado o PMDB nos braços de (José) Serra em 2010", justificou Rands.

Temer assumiu a presidência da Câmara com um discurso de reconciliação. "Eu não sou um deputado eleito pelo PMDB, sou um deputado eleito pela Casa", disse. "Vamos atravessar um biênio complicado, não será fácil. Temos que nos harmonizar. Acima de qualquer divergência está o interesse do país."

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 7)(Raphael Bruno)