Título: Número de horas trabalhadas na indústria cai 8% em dezembro
Autor: Aliski,Ayr
Fonte: Gazeta Mercantil, 04/02/2009, Brasil, p. A6

Brasília, 4 de Fevereiro de 2009 - O número de horas trabalhadas na indústria brasileira caiu 8% e o nível de emprego apresentou retração de 0,5% em dezembro, na comparação com o mês anterior. O índice de Utilização de Capacidade Instalada (UCI) também apresentou comportamento negativo, recuando de 81,4% para 80,2%, a maior queda desde 2003. Ainda assim, o faturamento real cresceu 1,4% de novembro para dezembro. Os dados foram anunciados ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e estão dessazonalizados, ou seja, livres de efeitos como variação de inflação e quantidade de dias úteis de cada mês. A entidade aposta em retomada do crescimento econômico somente a partir do segundo trimestre, e mantém estimativa de alta do Produto Interno Bruto (PIB) de cerca de 2% em 2009.

No acumulado de 2008, na comparação com o ano anterior, o nível de emprego na indústria cresceu 4%, o número de horas trabalhadas aumentou 4,8% e o faturamento foi ampliado em 5,7%. Segundo a CNI, esses números refletem os resultados bastante positivos dos três primeiros trimestres do ano passado, que não foram suplantados pela forte desaceleração do último trimestre.

A queda no número de horas trabalhadas remete a situação da indústria brasileira em dezembro passado ao mesmo cenário de 2006, destaca o economista-chefe da CNI, Flávio Castello Branco. Ele também avalia que o Brasil corre forte risco de entrar em recessão, ao enfrentar queda consecutiva do PIB durante dois trimestres. Isso porque a CNI trabalha com expectativa de queda do PIB tanto no último trimestre de 2008 como no primeiro trimestre de 2009, com retomada do crescimento somente a partir de abril. O presidente da instituição, Armando Monteiro Neto, estima que a retração da economia no primeiro trimestre deste ano será mais leve do que no final de 2009. "A base já está deprimida", disse. Ou seja, não há muito espaço para cortar ainda mais nos indicadores da economia.

"A desaceleração está se dando de forma mais abrangente, mais forte e mais acentuada. O processo é bem mais amplo do que imaginávamos no começo", disse o dirigente, destacando que o déficit da balança comercial em janeiro é um indicador concreto do prolongamento da crise. Para driblar a turbulência, Monteiro Neto defende maior agilidade e força nas ações de governo. Entre as medidas, o presidente da CNI inclui maior liberação de depósitos compulsórios, redução mais rápida e mais forte da taxa Selic, luta contra o spread bancário, apoio ao setor exportador e reforço dos programas públicos de investimento, como no pacote de estímulo à construção civil, que é esperado para esta semana.

Segundo Monteiro Neto, o Banco Central - responsável pela definição da taxa Selic - tem que ser mais ágil. "Outros países estão respondendo de forma muito rápida. O Banco Central está dançando em ritmo diferente do ritmo da nossa economia", afirmou. A CNI quer que o Comitê de Política Monetária (Copom) se reúna com maior frequência do que a cada 45 dias. Monteiro Neto acredita que o juro básico pode cair para um dígito no primeiro semestre.

O presidente da CNI admite que somente o corte na Selic não é suficiente, e defende ações que reduzam os spreads bancários (diferença entre as taxas de captação e de repasse de recursos). Admitiu, porém, que a mudança das expectativas quanto ao futuro da economia (ou seja, a partir do momento em que as expectativas não forem tão pessimistas) vai permitir corte nos spreads. Segundo Monteiro Neto, os elevados spreads são gerados também por questões como concentração bancária e incidência de tributos. "Mas há medidas de curto prazo que podem ser adotadas", disse. Ele ressaltou que os bancos públicos podem ser agentes indutores da redução das taxas. O dirigente destacou também a importância do reforço no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e do pacote de apoio à construção civil. "Vai ajudar a amortecer o impacto desse processo de desaceleração", disse.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 6)(Ayr Aliski)