Título: Indústria pede cuidado em elevar a meta
Autor: Luciana Otoni
Fonte: Gazeta Mercantil, 22/09/2004, Nacional, p. A-5

A revisão para cima da meta de superávit primário de 4,25% do Produto Interno Bruto (PIB) deve ser examinada com cuidado, segundo a avaliação do presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto (PTB-PE), ao comentar a possibilidade cogitada pelo governo de ampliar o saldo fiscal. "Essa é uma questão delicada que surge em um momento em que se tem esse problema da infra-estrutura. Há demandas que são urgentes e aí eleva-se o superávit quando há pressão de demanda por recursos em investimento", disse Monteiro.

O debate sobre a elevação do superávit primário (receita menos despesa do setor público exceto os gastos com juros) surgiu nos últimos dias como alternativa ao aumento continuado da taxa básica de juros (Selic) que, na última semana, passou de 16% para 16,25% ao ano. Para 2004, a meta de 4,25% do PIB acertada com o Fundo Monetário Internacional (FMI) representará uma economia de R$ 71,5 bilhões.

No entanto, entre janeiro e julho, o setor público (União, estados, municípios e empresas estatais) obteve um superávit de 5,59% do PIB, o correspondente a R$ 52,8 bilhões. Com esse resultado, o setor público necessitará economizar R$ 18,7 bilhões para cumprir a meta acordada com o FMI.

Armando Monteiro apontou o risco de redução dos investimentos se a meta for aumentada. Por outro lado, ele contrapôs os impactos da calibragem da política monetária via elevação da taxa de juros. "Se ficarmos trabalhando só com a taxa de juros para debelar pressões inflacionárias, vamos sempre ficar alternando esse ciclo de crescimento com movimentos contracionistas da economia." As declarações foram dadas durante homenagem feita pela CNI à diretoria do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Monteiro Neto disse, sobre os recentes aumentos de preços, que alguns setores industriais não têm conseguido conter os repasses. "É uma questão concreta: as pressões de custo existem e chega um momento em que não se tem mais condições de absorver essas pressões", disse. Ele citou o efeito combinado das tarifas públicos, valorização dos insumos e pressão por recomposição de salários.