Título: Divergência entre líderes europeus
Autor: Rothenburg, Denise; Luiz, Edson
Fonte: Correio Braziliense, 20/03/2011, Política, p. 2

A cúpula extraordinária de Paris deu início às operações militares na Líbia e fez transparecer uma diferença entre as grandes potências na abordagem da crise, principalmente a Alemanha. O país se absteve, assim como o Brasil, na votação do Conselho de Segurança sobre a intervenção militar. Apesar do acordo de partir para a ação contra o regime de Muamar Kadafi, o clima não foi de unanimidade. Enquanto o presidente francês Nicolas Sarkozy ordenou os ataques aéreos, apoiado pelo primeiro-ministro britânico, David Cameron, e pelo presidente americano, Barack Obama, a chanceler alemã, Angela Merkel não participou das negociações depois de ter escolhido o silêncio.

O encontro entre líderes de 22 países na capital francesa durou cerca de duas horas e foi liderado por seu anfitrião, Sarkozy. O presidente francês conversou dias antes com o britânico Cameron para mobilizar uma aliança entre representantes europeus, árabes e os Estados Unidos. A chanceler alemã teria ficado de fora da lista após a abstenção na ONU. Merkel nunca escondeu sua oposição a uma resposta mais dura à Líbia, especialmente na última reunião da União Europeia (UE), na última segunda-feira, e acabou se afastando do processo. ¿Como todo mundo sabe, a Alemanha não vai fazer parte de qualquer intervenção militar e, por essa razão, decidimos nos abster da votação. Isso não deve ser confundido com neutralidade¿, afirmou a chefe do governo alemão à imprensa.

Para não perder força na aliança militar com a França, Merkel deve enviar um suporte extra às tropas da Organização do Tratado Atlântico Norte no Afeganistão para liberar as forças aéreas para atuarem na Líbia, além de ter se convidado para a cúpula, segundo o jornal britânico The Telegraph. A chefe da diplomacia da UE, Catharine Ashton, tentou amenizar os conflitos internos ontem e declarou que não há desconforto entre os países europeus. ¿Eu não acho que esse episódio pode ser visto como grupos que estejam uns contra os outros. Ninguém votou contra a resolução da ONU e isso é extremamente importante¿, disse à imprensa.

A Itália, principal parceira comercial da Líbia, aceitou os termos de intervenção e agora se preocupa com uma possível represália contra suas zonas costeiras. De acordo com o primeiro-ministro Silvio Berlusconi, por enquanto o país deve apenas fornecer bases militares para ajudar na intervenção. Bélgica, Holanda, Dinamarca, Noruega e Qatar confirmaram que vão participar das intervenções. Para David Cameron, era hora de os países europeus tomarem uma atitude contra o massacre promovido por Kadafi. ¿Era o que ele queria. Mentiu para a comunidade internacional sobre o cessar-fogo. Continua maltratando seu povo. Por isso, é o momento de passar à ação de forma urgente¿, declarou o primeiro-ministro britânico.