Título: Embraer irrita tribunal em dia de conciliação
Autor: Campbell,Ullisses
Fonte: Gazeta Mercantil, 06/03/2009, Economia, p. 14

Empresas

Enquanto T RT tentava um acordo entre a indústria de aviação e os trabalhadores, 27 empregados recebiam comunicado de dispensa

-------------------------------------------------------------------------------- Ullisses Campbell Da equipe do Correio Gustavo Moreno/CB/D.A Press Embraer: Trabalhadores protestam contra o corte de pessoal Campinas ¿ Nem os apelos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva surtiram efeito. Na primeira audiência em que os funcionários demitidos da Embraer e a diretoria-executiva da empresa ficaram diante de um juiz do Trabalho, na manhã de ontem, não saiu acordo para reintegrar os 4.270 funcionários desligados em 19 de fevereiro. Pelo contrário, enquanto o desembargador Luís Carlos Martins Sotero, presidente do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) da 15ª Região, em Campinas, tentava convencer a empresa a negociar com os demissionários, 27 empregados estavam recebendo cartas de demissão. São funcionários da linha de produção que estavam de férias e retornaram ao trabalho ontem.

Irritado com a intransigência dos advogados da Embraer, o desembargador resolveu manter a liminar que cancela as demissões e remarcou uma nova audiência para a próxima sexta-feira, 13 de março. ¿Não teria uma data melhor do que essa?¿, ironizou o demissionário Carlos Santos Júnior. Na segunda-feira, haverá um encontro informal entre o desembargador e as duas partes para tentar costurar o acordo que poderá ser selado na sexta. À Justiça do Trabalho, a Embraer alegou que demitiu 4.270 trabalhadores em razão da retração do mercado mundial de aviação. Os advogados da empresa afirmam que houve um decréscimo das ações e que clientes importantes da companhia estão em situação financeira difícil. Para provar ao desembargador Sotero que a crise internacional afetou a saúde financeira da empresa, os executivos entregaram a ele o balanço de 2008, apontando que o faturamento de 2008 ficou em torno de R$ 10 bilhões, repetindo os resultados recordes dos últimos anos. A Embraer também tem disse ter em caixa R$ 3,6 bilhões.

Bonificação De acordo com o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, o balanço da companhia mostra que há dinheiro suficiente para pagar os salários de todos os funcionários durante dois anos. Segundo os documentos da empresa, a carteira de pedidos firmes da empresa (encomenda garantida) continua em cerca de US$ 20 bilhões e a cadência de produção em 2009 também será maior em relação a 2008 em 20%. ¿A cada ano, a Embraer distribui uma bonificação de R$ 50 milhões a 26 pessoas da diretoria-executiva, conselho de administração e conselho fiscal. Portanto, é uma das demonstrações de que há espaço para cortar custos, sem que seja necessário demitir trabalhadores¿, alega o advogado do Sindicato, Aristeu Pinto Neto.

O Sindicato dos Metalúrgicos associa as demissões à perda financeira que a empresa teve no ano passado no valor de R$ 185 milhões ao ter apostado R$ 1,1 bilhão em derivativos. ¿A Embraer jogou no cassino, perdeu e agora penaliza os funcionários¿, acusa Pinto Neto. Ele propôs ontem que a Embraer reduza a jornada de trabalho de 43 horas semanais para 40 horas sem diminuir os salários. A empresa disse não ser possível.

A empresa metalúrgica Sobraer, também de São José dos Campos, demitiu na manhã de ontem 60 trabalhadores do primeiro turno. A empresa, que é fornecedora da Embraer, alegou que a fabricante de aviões cancelou uma série de encomendas.

-------------------------------------------------------------------------------- Telefonema de Lula

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que conversou com o presidente do Conselho Administrativo da Embraer, Maurício Botelho, e pediu que a empresa negocie com os sindicalistas a demissão dos 4,2 mil funcionários, anunciada na semana passada.

¿Acabei de conversar com o Maurício Botelho. Ele certamente está ligando agora para o Frederico (Curado, presidente da Embraer) com as sugestões que eu dei. Vamos ver¿, disse o presidente.

Questionado se há possibilidade de reversão das demissões, Lula respondeu: ¿Eu não diria reverter. Até porque a empresa só poderá reverter se tiver encomendas. Mas há chance de um negócio¿, comentou sem dar detalhes. Lula disse também que o governo vai manter os investimentos para elaboração de um novo projeto para construção de um avião semelhante ao Hércules. Essa pode ser uma encomenda que pode fazer com que a Embraer, pelo menos a médio prazo, recontrate parte dos demitidos.

¿(As Forças Armadas) não podem encomendar mais do que precisam. Não vamos comprar avião para não ter o que fazer. Estamos pensando em manter a ideia da construção de um avião de carga, que é substituto do Hércules. Já colocamos dinheiro no orçamento para garantir o projeto executivo do avião¿, explicou.

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O número Balanço R$ 10 bilhões foi o faturamento da companhia em 2008

-------------------------------------------------------------------------------- Dúvidas sobre a GM

A montadora de automóveis americana General Motors informou ontem que pode recorrer à lei de falências se o governo do país negar os US$ 16,6 bilhões de ajuda que vem pedindo e se a torneira do crédito continuar fechada para o grupo. O ex-número um mundial em vendas de veículos, completamente esgotado financeiramente e com os negócios em queda livre há meses, levantou ¿dúvidas substanciais¿ sobre sua viabilidade financeira em seu relatório anual.

¿A recorrência de nossas perdas operacionais e nossa incapacidade de gerar liquidez suficiente para enfrentar nossas obrigações e sustentar as atividades levantam uma dúvida substancial sobre nossa capacidade de sobreviver¿, explicou a General Motors (GM). Assim, o grupo lançou novamente a ameaça de uma quebra e de recorrer à lei americana de falências, que permitiria uma reestruturação protegida das cobranças dos credores. Na pior hipótese haveria uma liquidação pura e simples.

¿Caso não consigamos desenvolver um plano de reestruturação ou se uma facilidade de crédito não for disponibilizada, seremos forçados à liquidação, sob o capítulo 7 da lei de falências¿, afirmou a construtora.

O grupo, que já recebeu US$ 13,4 bilhões do Tesouro e acumula US$ 74 bilhões de perdas em seus dois últimos exercícios, espera que Washington se pronuncie sobre seu plano de viabilidade.

Esse plano deve ser finalizado até 31 de março e a administração Obama deve se pronunciar sobre sua pertinência para conceder eventualmente as somas extras solicitadas pela GM: até US$ 16,6 bilhões.