Título: Construção de status
Autor: Jeronimo, Josie; Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 20/03/2011, Política, p. 5

Uma avaliação é consenso: a vinda do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, ao Brasil consolida o país como formador de opinião no cenário não apenas regional, como também global. ¿O Brasil, sem triunfalismo, mostrou que está chegando lá, que é interlocutor para qualquer cenário¿, defendeu o ex-secretário-geral do Itamaraty, o diplomata Marcos Azambuja. Especialistas ouvidos pelo Correio avaliam de forma positiva a posição de destaque conquistada pela diplomacia brasileira e indicam que os acordos firmados entre os dois países representam, principalmente, o trampolim para uma agenda de negociações ¿ e não necessariamente medidas práticas a serem executadas em curto prazo.

Para Azambuja, a presença de Obama significa também uma mudança de postura na política internacional norte-americana. ¿Os EUA sentiram que precisam conversar mais e melhor, ouvindo o seu vizinho. E os dois países se deram conta de que devem melhorar a qualidade do relacionamento¿, reitera. Ainda segundo o diplomata, que ocupa a Vice-Presidência do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), a presença de Obama no Brasil no momento em que os Estados Unidos autorizam uma ação militar em outra nação evidencia a importância do país para o vizinho. ¿A pressão para ele cancelar a viagem deve ter sido enorme. Muitas pessoas achavam que não era hora de viajar ao Brasil. O fato de o Obama ter mantido a visita sugere que ele não quer dar tratamento emergencial à política, mas defender interesses americanos de longo prazo¿, disse.

Mito Doutora em ciência política pela Universidade de São Paulo e professora de Relações Internacionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Cristina Pecequilo defende a vinda de Obama como um ato mais simbólico do que prático. ¿Existe um mito do presidente americano como o homem mais poderoso do planeta, mas a verdade é que ele não tem muito a conceder. É um presidente que parece ter poder, mas na prática é limitado pelo Congresso Nacional dos Estados Unidos. Na questão comercial, por exemplo, quem bate o martelo é o parlamento.¿ Pecequilo afirma que o encontro marcou os temas convergentes que devem ser tratados pelos países nos próximos meses. Ainda assim, eles devem ser considerados elementos de acordos feitos basicamente para dar sequência a negociações. ¿Os países criaram uma dinâmica de negociação positiva para os próximos meses. É o início de uma estrutura de negociação, na qual vai se buscar avançar em temas¿, defendeu. Ontem, foram firmados 10 acordos entre os governos brasileiro e norte-americano.

O especialista Christian Lohbauer, integrante do Grupo de Análise de Conjuntura Internacional da Universidade de São Paulo (Gacint/USP), considera que a visita do presidente americano deixa a desejar se forem considerados apenas os acordos firmados. No entanto, ele defende que o encontro entre os chefes de Estado abre caminho para importantes mudanças, especialmente no campo econômico: ¿O Brasil e os EUA têm agenda de oportunidades bilaterais muito grandes, talvez as maiores entre os países desde o pós-guerra¿, considera.

Derrota sentida Em 4 de novembro do ano passado, o democrata Barack Obama sofreu uma de suas piores derrotas desde que assumiu a Presidência dos Estados Unidos. Na ocasião, os republicanos retomaram a maioria na Câmara e conquistaram importantes cadeiras no Senado do Congresso Nacional dos Estados Unidos. A perda da hegemonia no parlamento fez com que o dirigente admitisse que precisava se reavaliar. ¿Temos de melhorar¿, afirmou.