Título: Dupla vitória torna PMDB parceiro privilegiado para 2010
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Fonte: Gazeta Mercantil, 03/02/2009, Brasil, p. A8

Brasília, 3 de Fevereiro de 2009 - Vencedor nas disputas pelas presidências da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, o PMDB, maior partido do país, conquistou ontem uma situação ainda mais privilegiada para negociar a composição das coligações partidárias das eleições de 2010.

No Senado, com o apoio do DEM e do PTB, o senador José Sarney (PMDB-AP) conquistou 49 votos contra 32 de Tião Viana (PT-AC), seu único adversário na disputa.

Já o deputado Michel Temer (PMDB-SP), apoiado por 14 partidos, entre eles o PT, o PSDB e o DEM, sagrou-se o novo presidente da Câmara. Obteve 304 votos, enquanto Ciro Nogueira (PP-PI) e Aldo Rebelo (PCdoB-SP) somaram 129 e 76 votos, respectivamente.

"O PMDB saiu muito fortalecido e evidentemente pesa mais para o jogo de 2010", disse à Reuters o deputado José Eduardo Cardozo (SP), secretário-geral do PT, partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que ficou de fora dos dois postos estratégicos do Congresso sob a anuência de Lula.

Além do controle das duas Casas, onde possui uma bancada de 20 senadores e 94 deputados, o poder do PMDB vai além. A sigla comanda seis ministérios: Comunicações, Integração Nacional, Saúde, Agricultura, Defesa e Minas e Energia.

Ramificações

O partido também é campeão em ramificações, o que é considerado estratégico para quem pretende ter palanques em todo o Brasil nas campanhas eleitorais. Nas eleições municipais de outubro de 2008, o PMDB conquistou o melhor resultado entre os partidos políticos, com vitórias em 1.308 prefeituras, sendo cinco capitais.

A legenda elegeu ainda 8.308 vereadores. Tem também o maior número de governadores, em sete unidades da federação, alguns dos quais de peso político e econômico.

Ciente do potencial do PMDB, a oposição iniciou uma aproximação do partido com o objetivo de construir os entendimentos necessários para ampliar a base de apoio de seu candidato à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Não foi à toa, portanto, que DEM e PSDB apoiaram Michel Temer na Câmara e os Democratas aderiram à candidatura de José Sarney no Senado.

"Não foi feito nenhum compromisso de o PMDB e o Democratas estarem juntos em 2010", explicou o líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN)."Mas afinidades foram praticadas ao longo dessa campanha e produziram um relacionamento mais robusto", acrescentou o senador

O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), minimizou o fato de estar em campo oposto ao do PMDB na eleição no Senado, uma vez que o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), lidera as pesquisas de intenção de votos para a eleição de 2010.

Os tucanos apoiaram a candidatura de Tião Viana, em uma aliança inusitada.

Cortejo

"As pesquisas mostram que está na frente o candidato de um partido que não tem a presidência de nenhumas das Casas", ponderou o parlamentar.

Cortejado por governo e oposição, o PMDB é historicamente dividido e atavicamente exigente. Além da disputa por poder entre as alas de deputados e senadores, parte do partido pretende apoiar a possível candidatura da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), em 2010. Outro grupo tem a intenção de reforçar a campanha de Serra.

"Eu espero que todo o PMDB venha a apoiar o Serra. Eu vou trabalhar para isso", afirmou o presidente do PMDB em São Paulo, Orestes Quércia, presente ao Congresso.

Parceiro dos governos Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso e Lula, o PMDB cobra pela parceria com postos de comando, como os seis ministérios atuais.

Apesar de ter enfrentado Sarney no Senado, com a candidatura do senador Tião Viana, o PT não vê risco de atrito com o novo presidente, até porque o senador é aliado do governo.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 8)(Reuters)