Título: Após 10 anos, cai receita com exportação
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Fonte: Gazeta Mercantil, 03/02/2009, Agornegócio, p. B10

São Paulo, 3 de Fevereiro de 2009 - Após dez anos de crescimento contínuo, a receita com as exportações do agronegócio brasileiro deve cair. O recuo do resultado das vendas externas em 2009 pode chegar a 25,9%, de acordo com projeção feita pelo secretário de Relações Internacionais do Agronegócio do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Célio Porto. Em um cenário nem tão pessimista, segundo ele, o setor renderia à balança comercial US$ 63,4 bilhões - queda de 10,7% -, interrompendo a sequência de alta que culminou com US$ 71,8 bilhões vendidos no mercado internacional em 2008.

Na melhor das hipóteses, as exportações do agronegócio poderiam chegar a US$ 66,51 bilhões, na pior delas a US$ 57 bilhões, calcula Porto. Esse recuo será compensado, na mesma proporção, pelo aumento da receita em real. Com o dólar a R$ 2,30, os US$ 63,4 bilhões poderiam ser convertidos em R$ 145,9 bilhões - compensando integralmente a perda de 10,7% em moeda americana nesse cenário. Para o secretário de Relações Internacionais do Mapa, a retração dos preços agrícolas e dos volumes negociados são subtraídas da desvalorização cambial superior a 40% registrada em 2008 - daí um crescimento em real limitado aos 10,7% mencionados anteriormente. "O agronegócio responde bem à variação cambial", argumenta Porto.

"No cenário atual a oferta não consegue acompanhar a demanda, que está aquecida", avalia o atual presidente do Conselho Superior de Agronegócios da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Cosag/Fiesp) e ex-ministro do Mapa, Roberto Rodrigues. Para ele, a expectativa em relação às exportações do agronegócio apresentada por Porto "é otimista" e leva em consideração os preços praticados em janeiro, portanto é suscetível a "mudanças".

O comportamento das exportações em 2009 projetado pelo Mapa já começa a pesar na balança comercial do setor. De acordo com levantamento da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), no primeiro mês do ano o Brasil embarcou 35,5% menos carne bovina na comparação com o mesmo mês do ano passado. Essa queda no volume e a desvalorização de 25% renderam 51,6% menos aos frigoríficos brasileiros. Couro e óleo de soja bruto também protagonizaram quedas significativas na balança do agronegócio - saldos 58% e 60% menores respectivamente em relação ao período de 2008.

Além da retração na demanda, esses setores específicos sentiram sobremaneira a redução na concessão de Adiantamentos sobre Contrato de Câmbio (ACC¿s), mecanismo usado para antecipar ao exportador o valor negociado no mercado internacional. Célio Porto calcula que eles, os ACC¿s, ficaram quase 50% menor em relação à média mensal de US$ 239 milhões registrada em setembro do ano passado, ou US$ 120 milhões.

Em janeiro de 2008, os bancos concederam US$ 152 milhões em ACC¿s às empresas exportadoras. "Começamos o ano com um volume muito baixo de ACC¿s. O crédito concedido à exportação foi inferior ao de qualquer outro mês de 2008", informa Célio Porto. Essa redução que, aliada à falta de crédito dos principais compradores, atingiu em cheio as carnes brasileiras já motiva negociações entre os representantes do setor e o governo. A indústria frigorífica pleiteia isenção de PIS e Cofins, antecipa Benedito Ferreira, diretor do Departamento de Agronegócios da Fiesp (Deagro).

O açúcar bruto e o milho não enfrentaram as mesmas barreiras para alcançar o mercado externo. O País vendeu duas vezes mais do derivado da cana-de-açúcar neste janeiro em relação ao mesmo mês do ano anterior. E a receita com essas vendas cresceu 140,6%, segundo dados da Secex. Mais 131,9% de suco de laranja foram negociados no mercado internacional, mas a queda superior a 50% na cotação da bebida, conteve o crescimento mensal da receita em 14,6%.

Barreiras protecionistasAlém dos entraves econômicos, às exportações do agronegócio brasileiro se apresentam entraves políticos. Medidas antidumping retornam à cena - a União Europeia já subsidia derivados de lácteos despejados fora do velho continente. O já esperado aumento de práticas protecionistas, comum em momentos de crise, é visto com maus olhos por Célio Porto. Para ele, essa nova configuração do comércio internacional deve impacto as vendas externas brasileiras.

"Em 2008, tivemos preços elevados, e vários países ensaiaram medidas contra as exportações. Agora é o contrário, com medidas contra a importação, por conta da crise enfrentada por vários países. Isto preocupa, porque o Brasil é um grande exportador", disse Porto. Para Roberto Rodrigues, essas medidas "inibem a formação de novos mercados" fechando as portas de saída da crise mundial.

(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 10)(Gilmara Botelho)