Título: Ministros discutem derrubada de barreiras protecionistas
Autor:
Fonte: Gazeta Mercantil, 02/02/2009, Internacional, p. A9

Davos (Suíça), 2 de Fevereiro de 2009 - O crescente protecionismo ameaça aprofundar a crise econômica e explicita a necessidade de um novo acordo comercial para manter o comércio fluindo - quanto a isso muitos ministros do comércio e líderes políticos concordam. Mas como acontece frequentemente na política do comércio internacional, as ações - ou a falta delas - contradizem as palavras.

Em reunião paralela ao encontro anual do World Economic Forum (WEF) em Davos, na Suíça, os ministros de comércio exterior, juraram tratar um acordo na prolongada Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC). E repetiram a promessa feita pelos líderes do G20, grupo das nações ricas e emergentes, feita em novembro, de não impor barreiras ao comércio. Mas não estabeleceram uma data para que os 153 membros da OMC forcem um avanço em Doha - especialmente porque os EUA ainda não têm um ministro.

As advertências e promessas em relação ao protecionismo aumentam diante de uma série de impostos crescentes, do retorno de subsídios, e de barreiras não-tarifárias erguidas nos últimos meses. "Há um foco considerável sobre o protecionismo (em Davos), com toda a retórica correta", disse o presidente do Goldman Sachs International, Peter Sutherland. "Mas a retórica não tem sido justificada pelo desempenho do governo em chegar a um acordo em Doha", acrescentou.

Pacote de Obama

Ainda que o Congresso procure formas de aumentar o pacote de incentivo de US$ 819 bilhões do presidente Obama, o resto do mundo se pergunta como Washington vai pagar tudo isso. Poucas pessoas no WEF questionam a necessidade de estimular a economia dos EUA, com um pacote que poderia chegar a US$ 1 trilhão em dois anos. Mas o efeito colateral de longo prazo por causa de empréstimos maiores contraídos pelo governo federal, e seu potencial para aumentar a inflação e as taxas de juros pelo mundo, parecem ganhar mais atenção no fórum do que em Washington.

A maioria dos temores sobre a dívida governamental se concentrou em empréstimos contraídos por países europeus como Espanha, Grécia e, especialmente, Grã-Bretanha, que também estão no meio de um socorro bancário considerável. Isso forçou a libra esterlina a uma baixa histórica frente ao dólar, algo que não ocorria há 23 anos.

Ao mesmo tempo em que o status do dólar como refúgio em tempos de caos deve evitar a venda desenfreada dos estoques, por enquanto, especialistas financeiros alertam que se fatores fundamentais, como a falta de reservas americanas e déficits orçamentários inchados, não mudarem, o dólar pode eventualmente ter uma queda fenomenal.

"Não há muito para onde correr", avisa Alan S. Blinder, economista de Princeton que é ex-vice-presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) em Washington. Para ele, o valor de longo prazo do dólar frente outras moedas é vulnerável. "Em certo momento, deve haver tanta dívida do Tesouro que os investidores podem começar a se perguntar se estão sobrecarregados de ativos em dólar", diz Blinder.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 9)(Reuters e The New York Times)