Título: Novas tecnologias para o campo ganham reforço financeiro da UE
Autor: Tenório,Roberto
Fonte: Gazeta Mercantil, 02/02/2009, Agronegócio, p. B15

São Paulo, 2 de Fevereiro de 2009 - O desenvolvimento de novas tecnologias para fortalecer a produção agropecuária no Mercosul ganhará fôlego extra neste ano com os recursos financeiros da União Europeia. Desenvolvidos pelo inédito intercâmbio entre os quatro países do bloco, os projetos receberam no início deste mês os recursos para o início dos trabalhos. No total, cinco projetos dos setores público e privado foram selecionados em dezembro por cientistas do bloco da América do Sul e receberão cerca de ¿3 milhões para aumentar a aplicação tecnológica na região. Os valores contemplarão estudos nos setores que produzem de aves, gado, soja e eucalipto. A maior parte será aplicada na produção de vacinas contra a febre aftosa e controle de doenças bacterianas do gado, somando cerca de ¿1,16 milhão de euros.

Além do estreitamento político, a cooperação do bloco europeu é considerada por especialistas como uma maneira de aproveitar a plataforma de produção do Mercosul para desenvolver tecnologias que atendam melhor as exigências do mercado internacional. O programa é coordenado pela Biotecsur, que no Brasil é administrada pela Secretaria de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento (Seped) do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT). No ano passado, os recursos para desenvolvimento de pesquisas no Brasil bateram recordes em alguns institutos de pesquisa, aumentando o potencial da agricultura nacional

O desenvolvimento de novas vacinas contra a febre aftosa contará com a participação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Leda Castilho, professora e pesquisadora da universidade, revela que a vacina desenvolvida para os bovinos utiliza apenas proteínas da capa do vírus que geram a resposta imune no organismo do animal. "Trata-se de um conceito novo de vacina. Ela não é formada pelo próprio vírus inativado, o que diminui o risco no momento da manipulação". Ela conta que as primeiras remessas de recursos para os projetos chegaram após a virada do ano.

Segundo Leda, a prática de subsídio da UE é utilizada regularmente. "No orçamento dos projetos já é incluída essa possibilidade", explicou. Disse ainda que é uma medida muito importante para o intercâmbio científico entre os países europeus e o Mercosul. Porém, observa que não há previsão para a tecnologia chegar aos produtores.

Apesar de envolver outros parceiros comerciais, a expertise brasileira em algumas situações será a balizadora dos estudos, conforme avaliou Dario Grattapaglia, da Embrapa recursos genéticos e biotecnologia para florestas. No entanto, explica que isso não impede que novas informações sejam trocadas entre os países.

A estatal brasileira foi uma das vencedoras no projeto dos eucaliptos, cujo objetivo é, basicamente, explorar atributos de plantas de outras regiões e aproveitar suas características positivas. "O eucalipto do Uruguai, por exemplo, possui madeira com qualidade superior à brasileira. Porém cresce mais lentamente. O objetivo é descobrir essas propriedades e criar novas variedades", esclarece Grattapaglia.

O estudo de novos tipos de eucaliptos receberá da UE cerca de ¿ 558,3 mil. Grattapaglia explica que também existem empresas envolvidas nos projetos. "Mas são de pequeno e médio porte e deverão fornecer apoio estrutural para os estudos". Ele acredita que o potencial produtivo do País é um dos grandes atrativos para investimentos estrangeiros.

No pacote ainda está incluído a identificação de genes que melhoram o cultivo da soja em aspectos hídricos e sanitário, orçado em ¿ 750 mil. Abrangerá também o fortalecimento do status sanitário avícola por meio de novas metodologias para detectar doenças como gripe aviária, salmonela, com um montante de ¿492 mil.

(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 13)(Roberto Tenório)