Título: Novas tecnologias são arma contra o atraso
Autor: Lavoratti, Liliana
Fonte: Gazeta Mercantil, 23/01/2009, Brasil, p. A8

São Luís, 23 de Janeiro de 2009 - As novas tecnologias vieram para ajudar os estados do Nordeste, Norte e Centro-Oeste do País a melhorar o nível de instrução da população. O atraso em relação ao desenvolvimento do Sul e Sudeste, somado às dificuldades decorrentes das largas distâncias entre o interior e os centros urbanos, está sendo vencido pela educação à distância, cada vez menos complicado e a baixo custo. Essas facilidades estão sendo exploradas em várias universidades abertas, como é o caso da Universidade Virtual do Maranhão (Univima).

Em 2005, uma pesquisa encomendada ao Ipea (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas) pelo então governador do Maranhão, Reinaldo Tavares, estampou uma realidade desoladora. O estado levaria mais 15 anos para alcançar a média dos indicadores educacionais do Nordeste, e 50 anos para chegar aos nacionais, se fosse mantida a estrutura de ensino pública e privada vigente à época, em todos os níveis (fundamental, médio e superior). Apenas 3% dos jovens entre 18 e 24 anos estavam na universidade, sendo que destes, 80% eram moradores da zona rural que migravam para a capital, São Luís, ou algumas cidades que possuíam cursos universitários.

"Tínhamos de fazer uma estratégia para zerar o mais rápido possível esses quinze anos de atraso em relação aos estados vizinhos, e levar a escola à zona rural. Mas a única alternativa era chegar lá via satélite, do contrário não abrangeríamos distâncias tão grandes como as nossas", afirma o secretário estadual de Ciência e Tecnologia do Maranhão, Othon de Carvalho Bastos. Foi assim que surgiu a Univima, que ampliou o ensino superior e médio em todo o interior, melhorando a formação dos professores da educação fundamental. O mesmo estudo do Ipea havia detectado que 65% dos professores da rede pública estadual e municipal, do ensino fundamental e médio, não tinham passado pela universidade.

Ampliado no atual governo de Jackson Lago (PDT), neste ano o projeto começará a atuar também em pós-graduação, com alguns cursos de mestrado e doutorado, por meio de convênios com universidades do Sul e Sudeste do País. A Univima acoplou ainda os Centros Tecnológicos (Cetcs) e conta com a logística de 18 pólos tecnológicos em 18 cidades - locais que agrupavam a rede pública de ensino médio e superior e depois da criação da Univima também servem de estrutura para os alunos assistirem as aulas virtuais, transmitidas via satélite. "Por enquanto as aulas chegam aos pólos, mas um dia elas chegarão também às residências. E se na zona rural não tiver eletricidade, vamos usar energia solar, eólica", prevê Othon.

A Univima já graduou 700 alunos em Matemática, 500 em Administração e 50 em Química. Apenas 20% dos cursos são presenciais. "Basta um local com 80 cadeiras, uma TV, um computador multimídia, uma antena de banda larga, um microfone e uma webcam para multiplicar o ensino de uma forma interativa, pois embora os professores não estejam fisicamente em sala de aula, os alunos podem fazer perguntas em tempo real, ao final da exposição, e a qualquer momento por meio de e-mail", diz Othon.

A expansão do ensino à distância é apenas uma das mais de dez iniciativas que começam a implantadas para fazer de 2009 o ano da inovação tecnológica no Maranhão, acentua o presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Fapema), Sofiane Labidi. Os novos programas vão desde o estímulo à inovação tecnológica nas micro e pequenas empresas, incluem um hospital virtual para atender a população nos locais mais distantes, onde não há médicos disponíveis; e passam pela ênfase à pesquisa nas áreas de biocombustíveis - de babaçu e mamoma - e tecnologia aeroespacial - em Alcântara está instalado o Centro de Lançamento de foguetes e satélites.

"Todas as ações irão compor o Parque Tecnológico - Maranhão Pólo Tech", diz Labidi, um cientista nascido na Tunísia e formado na França que há 14 anos vive no Maranhão, onde foi parar como professor visitante para implantar o primeiro programa de pós-graduação da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Ele lembra que a Fapema tem neste ano R$ 30 milhões para aplicar nessas ações. Os resultados, acrescenta, vão se somar ao esforço do governo federal, que promete construir no estado 14 novos Cefet (Centro Federal de Educação Tecnológica) até o final de 2010. Algo expressivo, pois até agora só existem duas dessas escolas funcionando no estado.

Ao lado da qualificação dos recursos humanos, os projetos da Fapema visam estimular a inovação tecnológica, principalmente nas pequenas e médias empresas. "Com o fenômeno da globalização, as empresas maranhenses estão em competição direta com empresas dos quatro cantos do mundo. Entretanto, poucas adotam alguma iniciativa para colocar a inovação tecnológica em prática", comenta o presidente da Fapema.

Foi pensando em preencher essa lacuna que surgiu o "Inova Maranhão", composto de várias ações e com recursos para financiar projetos de inovações tecnológicas em produtos, processos ou serviços oferecidos por empresas, ou consórcios empresariais, desde que maranhenses e classificados como micro ou pequenas empresas.

Essa ambiciosa estratégia abrange ainda a aprovação na Assembléia Legislativa da Lei Estadual da Inovação, tornando o Maranhão o sétimo estado da federação a dispor desta legislação, em complementação à Lei Federal de Inovação - que regulamena o investimento estadual na área e permite a criação do Fundo Estadual de Incentivo à Inovação Tecnológica. "Não vamos parar nisso. Vamos avançar também na produção de software, na biotecnologia, na tecnologia aeroespacial. A ideia é explorar todas as nossas potencialidades", conclui Labidi.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 8)(Liliana Lavoratti - A jornalista viajou a convite da Fapema)