Título: Crise leva indústria paulista ao pior trimestre desde 2002
Autor: Saito,Ana Carolina
Fonte: Gazeta Mercantil, 29/01/2009, Brasil, p. A4

São Paulo, 29 de Janeiro de 2009 - A indústria de transformação paulista intensificou o ritmo de queda do nível de atividade no final do ano passado. Após declínio de 1,7% em outubro e de 3,3% em novembro na comparação mensal, o setor apresentou retração de 5,2% em dezembro, considerando o ajuste sazonal. Com o resultado, o Indicador do Nível de Atividade da Indústria (INA) encerrou o quarto trimestre de 2008 com um recuo de 10,2%, o pior desempenho trimestral desde 2002 - início da série histórica do índice medido pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

Apesar dos fortes reflexos da crise sobre a atividade entre outubro e dezembro, a indústria paulista cresceu 4,8% no ano passado. No entanto, a taxa é inferior à expansão de 6,1% de 2007 e ficou abaixo da previsão da Fiesp de alta entre 6,5% e 7%. "O resultado não chega a ser decepcionante, mas o preocupante é a rota que está sendo percorrida pela atividade industrial do estado de São Paulo", disse Paulo Francini, diretor do Departamento de Pesquisas Econômicas (Depecon ) da Fiesp. "A queda se amplia a cada mês. É uma rota de queda crescente", acrescentou.

Só no último bimestre de 2008, o nível de atividade apresentou queda de 8,5%, ajustada sazonalmente. Essa é maior retração desde o segundo bimestre de 2003, quando o recuo superou 12%. Francini lembrou, entretanto, que os cenários eram bem diferentes nos dois anos. Em 2003, após a queda, começou uma recuperação com um quadro favorável para as exportações. "Na época, estávamos vivendo um espetáculo, uma pirotecnia do mundo, que, agora, está com as luzes apagadas", afirmou.

A crise financeira internacional atingiu com mais força a partir do final do ano passado os setores industriais mais dependentes do crédito. No último bimestre, o nível de atividade da indústria paulista de veículos automotores apresentou uma queda expressiva, 19,4%, com resultados negativos de 11,1% e 8,3% em novembro e dezembro, respectivamente, na comparação mensal. Mas o bom desempenho antes do agravamento da crise em setembro levou o setor a um crescimento de 6,5% no acumulado do ano passado em relação a 2007. A mesma trajetória foi seguida pelo segmento de máquinas e equipamentos, que fechou 2008 com alta de 5,4%, mas registrou queda de 15% nos dois últimos meses de 2008, após retração de 8,1% em novembro e de 7% em dezembro.

O nível de utilização da capacidade instalada ´(Nuci) instalada recuou no último mês do ano ao menor patamar da série. De novembro para dezembro, o Nuci, passou de 81,6% para 80,3¨%, com ajuste sazonal, e de 82,1% para 77,8% na série sem ajuste.

Entre os componentes do INA, o total de horas pagas e horas trabalhadas na produção recuaram, respectivamente, 11,3% e 15,3% em dezembro. No ano, o resultado é positivo, com altas de 4,1% e 3,6%. As vendas reais, por sua vez, caíram menos no final do ano, 1,3% em dezembro, após retração de 9,7% em novembro, encerrando 2008 com alta de 4,1%. A Fiesp atribui a queda menos expressiva à desvalorização do câmbio a partir nos últimos meses do ano passado.

Perspectivas de emprego

Segundo o diretor da Fiesp, a tendência é que a indústria continue na "rota" de queda iniciada no final do ano passado, com reflexos negativos no mercado de trabalho e nos investimentos. Francini afirmou que mudanças no nível de atividade normalmente levam de quatro a cinco meses para apresentar impactos no emprego. Na atual crise, no entanto, a resposta tem sido mais rápida. Em dezembro do ano passado, a indústria paulista, por exemplo, reagiu com o corte de 130 mil vagas.

A percepção do setor em relação à situação atual piorou entre a primeira e segunda quinzena de janeiro. O indicador do Sensor, levantamento realizado pela Fiesp com grandes empresas, atingiu 38,9 pontos, ante média de 43,5 pontos na apuração anterior - quando está abaixo de 50 pontos, índice mostra avaliação negativa. "O Sensor indica que estamos olhando para frente com uma continuidade da queda da atividade da indústria de São Paulo. Teremos um período de agravamento dos efeitos fortes da crise, que começaram se sentir no final do ano passado", afirmou.

A pesquisa sinaliza que as empresas estão com estoques excessivos. O indicador para esse quesito recuou de 38,4 para 31,4 pontos em quinze dias. No caso do emprego, a pontuação caiu 44,2 para 37,2. As expectativas para investimentos também estão em baixa, passou de 44,2 para 37,1pontos, segundo a Fiesp.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 4)(Ana Carolina Saito)