Título: Cooperativas contam com ajuda oficial para comercializar safra
Autor: Batista,Fabiana
Fonte: Gazeta Mercantil, 29/01/2009, Agronegócio, p. B10

São Paulo, 29 de Janeiro de 2009 - Apostando em um irreversível crescimento mundial, as cooperativas agropecuárias investiram em 2008 pelo menos 70% do total de R$ 10 bilhões aplicados em todos os 13 ramos do setor cooperativo. Melhorias e ampliação do processamento de carnes, armazenagem e infra-estrutura lideraram o recebimento de recursos. Mas agora, com reservas de capital gastas e diante de uma demanda retraída, o setor estima que precisará que o governo injete R$ 4 bilhões de capital de giro para irrigar a atividade. "O setor pegou impulso, apostando em uma decolagem, que foi interrompida pela crise. Muita reserva de capital foi usada nessa alavancagem", afirma Márcio Lopes de Freitas, presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB).

O valor de R$ 4 bilhões é avaliado como "pequeno" se considerar que a necessidade de recursos para custeio das cooperativas fica entre R$ 40 bilhões a R$ 45 bilhões por ano, conforme explica Freitas. Parte do pleito da OCB deve ser atendido hoje pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) que promete liberar R$ 700 milhões via Proodecoop - que já recebeu a liberação de R$ 300 milhões. "O governo se comprometeu a viabilizar mais R$ 1 bilhão", acrescenta Freitas. A proposta para viabilizar os outros R$ 2 bilhões é de fazê-los capitalizarem a cooperativa por meio de financiamento de "cota-parte" (como se a cooperativa emitisse ações e os cooperados subscrevessem com esse financiamento). A proposta é que o recurso seja emprestado com prazo de pagamento mais longo, de oito anos, e três de carência. A OCB também propõe que os cerca de R$ 4 bilhões que o setor possui de créditos de impostos federais, sobretudo Pis e Cofins, possam ser utilizados para pagamento de outros tributos.

Freitas avalia que o setor de carnes é o que mais demanda capital de giro neste momento. "Com excesso de produção, alguns produtos, como o frango, precisam de recurso para segurar estoques. Além disso, este setor tem ciclo mais longo de financiamento do produto, que começa na compra do grão para fazer a ração, produção do pintinho até o pagamento pelo frango pronto e do beneficiamento", resume o presidente da OCB.

Com cerca de 15% a 20% mais estoques do que em anos anteriores, as cooperativas produtoras de grãos do Paraná parecem estar em situação menos desconfortável. "Digamos que esse ramo tem condições de sair do problema mais rápido do que os outros", justifica Freitas.

Robson Mafioletti, assessor técnico-econômico da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), explica que após os anos ruins de 2005 e 2006, as cooperativas de grãos tiveram anos rentáveis nas safras 2006/07 e 2007/08. "Elas conseguiram se capitalizar um pouco melhor. Estavam com a situação mais favorável", diz Mafioletti.

Ele não sabe ao certo o volume dos estoques de grãos da safra passada que ainda estão com as cooperativas, mas trata-se de um volume, pelo menos, 15% maior do que o que normalmente é mantido nos armazéns. "Os preços ficaram deprimidos no segundo semestre, o que inibiu a comercialização. Esse produto agora está com liquidez melhor. Mas é preciso ponderar que uma outra safra está chegando e será necessário recursos para estocagem", explica Mafioletti.

As cooperativas agropecuárias do Paraná investiram em 2008 R$ 1,275 bilhão, segundo a Ocepar, 23% mais do que em 2007. "Os setores de avicultura e lácteos foram os que mais fizeram ampliações. Não temos fechado uma perspectiva para 2009, mas estamos otimistas de que os investimentos vão se manter ou reduzir apenas um pouco, pois há projetos que já estão em andamento", diz o executivo da Ocepar.

Exportações

Responsáveis por 38% do Produto Interno Bruto (PIB) da agropecuária brasileira, as cooperativas deste ramo exportaram em 2008 US$ 4,01 bilhões, 21,49% mais que em 2007 (US$ 3,3 bilhões). Os complexo soja continuou a liderar entre os produtos com US$ 1,27 bilhão, crescimento de 48,47% em relação a 2007, seguido do sucroalcooleiro (US$ 1,08 bilhão) e das carnes (US$ 814,61 milhões). Apesar de a soja em grão ainda estar na liderança, sua participação tem recuado com 53% do total embarcado pelas cooperativas agropecuárias, ante os 59% de 2007. A participação da receita com produtos industrializados na balança nacional cresceu. Em 2007, a exportação de farelo de soja representou 8,4% do total deste produto embarcado por todas as indústrias de óleo do País. Em 2008, esse percentual elevou-se para 9,2%. Movimento semelhante ocorreu com o óleo, que avançou de 6,1% para 6,8% de participação nas exportações nacionais.

(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 10)(Fabiana Batista)