Título: Consumidor quer aproveitar descontos e foge do crediário
Autor: Leite,Valéria Serpa
Fonte: Gazeta Mercantil, 29/01/2009, Administração&Serviço, p. C3

São Paulo, 29 de Janeiro de 2009 - O consumidor paulistano está mais disposto a sair às compras no primeiro trimestre deste ano do que estava no mesmo período do ano passado. Dados da pesquisa de Intenção de Compras no Varejo, realizada pelo Programa de Administração de Varejo (Provar) em parceria com a Felisoni Consultores Associados, mostra que 66,6% dos consumidores da capital paulista pretendem realizar compras entre janeiro e março deste ano, contra 56,6% no mesmo período do ano passado.

Em tempos em que consumidores do mundo inteiro se retraem no que diz respeito a compras, o indicador a princípio parece animador. Mas na avaliação do coordenador do Provar, Claudio Felisoni, esta não é exatamente uma boa notícia. "Por trás disso pode estar o início de uma trajetória de desaceleração e é nisso que acreditamos", afirma o professor que avalia com cautela todos os indicadores positivos da pesquisa.

No último trimestre de 2008, 73,8% dos consumidores tinham a intenção de realizar compras, uma alta sazonal provocada pelo período de Natal. "Mas na realidade o Natal acabou não sendo tão bom assim. Muitos consumidores podem ter postergado as compras para o começo do ano em busca de preços melhores", diz.

Na opinião de Felisoni, o crescimento na intenção de compras no primeiro trimestre deste ano está sendo motivado por promoções e ofertas de preço, oferecidas em intensidade maior agora do que no primeiro trimestre de 2008.

Isso pode levar a um aumento no volume de vendas de varejistas, mas a uma queda no faturamento. Com base em dados históricos das vendas do varejo brasileiro calculados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Provar estima uma redução da ordem de 1,85% no faturamento do setor entre janeiro e março. Os principais responsáveis pela retração devem ser hipermercados e varejistas de alimentos e bebidas, que, de acordo com o estudo, devem ter queda de 2,25% no período.

Menos crediário

A pesquisa realizada pelo Provar entre os dias 5 e 9 deste mês mostra ainda que a intenção do consumidor é reduzir o uso do crediário para realizar as compras. No caso da linha branca, por exemplo, a intenção de uso do crediário, que era de 87,5% no primeiro trimestre de 2008, passou para 33,9% este ano. Já para materiais de construção a queda é de 74,4% para 4,7%. "As pessoas estão mais cautelosas, talvez por medo de perder o emprego e por isso não querem assumir uma nova dívida", afirma Felisoni. "Além disso, aproveitam os preços baixos das queimas de estoques para comprar à vista."

De acordo com o estudo, descontando gastos considerados "obrigatórios" (alimentação, habitação, vestuário, transporte, saúde e educação), deve sobrar para o consumidor 19,7% de sua renda para "outros gastos", o mesmo percentual verificado no primeiro trimestre de 2008.

A diferença está no comprometimento da renda disponível com as despesas de crediário: 12,79% nos três primeiros meses do ano passado e 8,10% este ano.

A intenção de gastos do consumidor caiu em relação ao primeiro trimestre de 2008 em quatro das dez categorias pesquisadas . Mas caiu também em oito categorias, em relação ao quarto trimestre do ano passado. No caso de eletroeletrônicos, por exemplo, a intenção de gastos caiu 32,6% em relação ao quarto trimestre e 3,3% em relação ao primeiro.

Os produtos que os consumidores mais pretendem adquirir no primeiro trimestre estão na categoria cine e foto: 13,6%, seguidos por produtos da linha branca (10,6%) e informática (9%).

Compras na internet

Realizada em parceria com a e-bit, a pesquisa de intenção de compras na internet mostra uma diferença no comportamento do e - consumidor em relação aos do varejo físico. Enquanto na primeira pesquisa observou-se um aumento na intenção de compras, nesta (realizada com moradores do estado de São Paulo), houve uma queda de 88% para 84,3% dos consumidores dispostos a realizar compras no primeiro trimestre. "Isso pode mostrar que estes estão mais bem informados que os outros sobre a crise", acredita Felisoni.

O professor ressalta ainda a diferença de renda média dos consumidores que compõem as duas amostras: R$ 1,4 mil (na primeira pesquisa) e R$ 4 mil, na segunda.

(Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 3)(Valéria Serpa Leite)