Título: Esforço para superar resistências políticas
Autor: Hessel, Rosana ; Caprioli, Gabriel
Fonte: Correio Braziliense, 21/03/2011, Política, p. 5

Muito além do contexto diplomático e da intenção de reforçar os laços políticos, a primeira visita ao Brasil do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, teve um forte componente econômico, evidenciado na disposição do estadista em afagar os maiores empresários do país. Segundo analistas e os próprios CEOs, mais do que oportunidades de negócios, Obama veio em busca de alternativas para recuperar a economia norte-americana, que luta para voltar a crescer neste período pós-crise. Apesar do gesto ter sido reconhecido como um pontapé inicial, a avaliação consensual é de que o jogo é longo e está indefinido. Para se traduzir em maior interação comercial efetiva, a visita de Obama dependerá agora da iniciativa privada e da movimentação política favorável, tanto no Brasil, quanto nos Estados Unidos.

Para Creomar de Souza, professor de relações internacionais da escola de negócios Ibmec-DF, a conversa com empresários simboliza a busca dos norte-americanos por novos consumidores. ¿Deixa ainda mais claro se tratar de uma economia que passa por profundos problemas e tenta, a todo custo, buscar novos mercados e recuperar os que foram perdidos¿, analisa. Depois da crise internacional de 2008, os Estados Unidos perderam para a China o posto de principal destino de exportações brasileiras.

O analista destaca, porém, que a rápida passagem de Obama pelo Brasil não é suficiente para destravar as relações comerciais. ¿É uma bobagem imaginar que dois dias de visita vão resolver todos os problemas. Há questões políticas, tarifárias e legais que devem ser modificadas¿, aponta. O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, reforça a avaliação. ¿Pode nascer a partir daqui uma nova fase de relacionamento econômico entre os dois países. O gesto de Obama propicia um ambiente melhor, mas não cria sozinho todas as condições para os negócios¿, ponderou.

Acordos No sábado, 10 acordos de cooperação bilateral foram firmados, prevendo, entre outros pontos, a formação de grupos de trabalho e a transferência de experiência entre os dois países ¿ por exemplo, no caso da preparação para a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016. Creomar de Souza lembra, no entanto, que o desenvolvimento dessas parcerias depende de outros agentes. ¿Não se sabe como a diplomacia de cada governo vai compreender essa integração. Depois disso, há outros atores, como os legisladores e a iniciativa privada, que precisam se engajar nessa disposição de Obama¿, afirma.

O presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, ressaltou que a questão do etanol ¿ um dos pontos de interesse destacados pelo presidente norte-americano ¿ é um dos exemplos de como apenas a vontade do chefe de Estado não é suficiente para se traduzir intenções em negócios concretos. ¿Obama está preocupado em expandir as matrizes mais limpas, mas sabe que há nos Estados Unidos uma briga política (o governo subsidia a produção local, dificultando a entrada de produtos importados no mercado) que não vai ser resolvida por ele, mas pelo Congresso¿, pontua.

Segurança testada Edson Luiz A segurança em torno do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, foi um dos principais testes para as Forças Armadas e as polícias do Brasil desde a realização dos Jogos Pan-Americanos, em julho de 2007, no Rio de Janeiro. No evento, o país colocou em prática pela primeira vez um esquema de trabalho conjunto entre as polícias estaduais e federais e a adoção de novas técnicas e equipamentos de segurança pública. No caso de Obama, a atuação dos brasileiros ficou no apoio ao serviço secreto norte-americano, o chamado ¿círculo de proteção¿, que consistiu na manutenção da vigilância nos locais por onde o chefe de Estado passaria e os hotéis onde se hospedou, além de compor o comboio presidencial.

Para especialistas, tanto as polícias Federal, Civil e Militar, além das Forças Armadas, possuem hoje condições de atuar em qualquer tipo de evento de grande porte, como competições esportivas internacionais e a segurança de uma autoridade do quilate de Obama. Antes do Pan-Americano, o país se mobilizou para outro fato que exigia um forte esquema de segurança: a visita do papa Bento XVI, em maio de 2007. Mais de 10 mil agentes de todas as polícias e das Forças Armadas estiveram em ação ¿ um efetivo pouco maior do que o usado na visita do presidente dos Estados Unidos. O forte aparato teve uma justificativa: o religioso passaria em carro aberto pelas ruas de São Paulo. Se Obama fizesse o mesmo em alguma cidade brasileira, segundo especialistas, os números da segurança duplicariam.

Segundo o especialista em segurança pública Daniel Sampaio, a partir de 2007, as instituições se capacitaram após receberem investimentos em novos equipamentos. ¿Isso ocorreu principalmente nas áreas de contraterror, detecção e destruição de materiais explosivos, além da inteligência, que é o essencial em ações de segurança¿, explica Sampaio, criador do Comando de Operações Táticas (COT), o grupo de elite da Polícia Federal. Ele também foi um dos coordenadores do esquema de segurança do Pan do Rio. ¿Hoje, 90% do trabalho têm que ser de inteligência, pois gera a prevenção de incidentes. Sobra uma pequena parcela destinada à repressão, que é onde nunca queremos chegar.¿

Daniel Sampaio avalia que as Forças Armadas também têm uma boa atuação na segurança de autoridades estrangeiras, mas a atuação direta nas ações pode representar um risco. ¿Muitos dos soldados que estão ali não possuem um preparo como o da polícia¿, observa o especialista. Mesmo assim, ele avalia que a presença de Exército, Marinha e Aeronáutica em eventos como a segurança de Obama é fundamental pelo fato de também estarem bem equipadas para esse tipo de trabalho. No esquema montado para o presidente dos Estados Unidos, o Exército e as outras duas corporações militares ficaram de prontidão e atuaram em barreiras pelos trajetos do presidente, incluindo o monitoramento naval e do espaço aéreo.