Título: Arrastão de Kassab na Bahia
Autor: Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 21/03/2011, Política, p. 8

O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, fez um arrastão na Bahia. De passagem por Salvador para o primeiro ato simbólico do Partido Social Democrático (PSD), ele arrebanhou cinco deputados federais, oito estaduais e uma centena de prefeitos, todos ligados ao vice-governador da Bahia, Otto Alencar (PP). Alencar encabeça a lista de assinantes do manifesto para a criação da legenda. ¿Conheço Kassab e (Guilherme) Afif desde 1989. Quando o Afif foi candidato a presidente, eu era do PL. Para mim, ingressar no PSD é um caminho natural. Além disso, trabalhei muito para que prefeitos do DEM, do PSDB e do PMDB apoiassem Wagner e muitos depois sofreram retaliações em seus partidos. Agora, eles têm um caminho¿, disse Alencar, que presidirá o PSD na Bahia e comandará a segunda força política no estado.

O ingresso de Otto Alencar foi selado depois que Kassab lhe garantiu que não haverá fusão com o PSB, compromisso repetido publicamente pelo prefeito paulistano no encontro em Salvador. ¿Isso acabou. Se houvesse fusão, eu não iria para o partido¿, comentou Alencar. E foi assim que ele conseguiu levar para a nova legenda uma série de prefeitos oposicionistas que já estavam com um pé na base governista da Bahia e do Brasil.

Na lista de prefeitos está o irmão do vice-governador baiano, Eduardo Alencar, prefeito de Simões Filho. Eduardo era do PSDB, mas apoiou Wagner para o governo estadual contra Paulo Souto (DEM). Dizia que não poderia deixar de votar numa chapa composta pelo irmão. O voto no petista fez com que Eduardo perdesse o controle do partido em seu município e a perspectiva de concorrer a um segundo mandato em 2012, uma vez que a sigla tucana foi entregue a um adversário político. Por isso, Eduardo sairá, agora, do partido.

O caso de Eduardo Alencar é similar ao de muitos prefeitos que pretendem deixar seus partidos. ¿Hoje, é como se houvesse a lei do passe na política. O jogador fica preso na legenda. Se briga com os dirigentes, pode perder o direito de buscar a reeleição, mas está preso ao partido porque, se sair, o partido pode ir à Justiça pedir o mandato. Como hoje a única maneira é um novo partido, o PSD veio na hora certa¿, avalia Alencar.

Base O atual vice-governador da Bahia já pertenceu ao grupo do falecido senador Antonio Carlos Magalhães. Em 2004, deixou a política e o padrinho. Voltou recentemente para ser candidato a vice na chapa de Jaques Wagner (PT). Ontem, Wagner recebeu seu vice e Kassab na residência oficial para dar as boas-vindas ao prefeito de São Paulo, ex-DEM, à base governista. Embora Kassab tenha dito que seu partido será independente, ¿do povo para o povo¿, a ala baiana será governo. ¿Apoio a presidente Dilma. Ela fará um bom governo e não creio em adversário forte para combatê-la¿, diz Alencar. Não por acaso, compareceram ao ato do PSD os senadores Walter Pinheiro (PT-BA) e Lídice da Matta (PSB-BA).

O vice-governador da Bahia conquistou para a base de Dilma dois deputados federais do DEM ¿ Paulo Magalhães, sobrinho do falecido senador Antonio Carlos Magalhães, e Fernando Torres. Os outros três que assinaram o manifesto do PSD já eram da base: Jânio Natal (PRP), Edson Pimenta (PCdoB) e José Carlos Araújo (PDT). Dos oito estaduais, dois são do DEM e três do PMDB. Os outros três vêm do PTdoB, do PRP e do PP. O PSD será a segunda força na Assembleia Legislativa do estado, só perdendo para o PT, que tem 14 deputados estaduais. Hoje ocorrerá o ato oficial de criação do partido, em São Paulo.