Título: Força e Fiesp aprovam uso de FGTS para completar salários
Autor: Vizia,Bruno De
Fonte: Gazeta Mercantil, 12/02/2009, Brasil, p. A4

São Paulo e Brasília, 12 de Fevereiro de 2009 - A possibilidade de utilizar os recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para complementar parte da renda de trabalhadores que tiverem sua jornada, e consequentemente seus salários reduzidos, que está em estudo pelo governo, foi considerada positiva por sindicalistas e por representantes da indústria. A proposta deverá ser levada em breve ao Presidente da República, disse ontem o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, após reunião do Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador (Codefat), em Brasília, na qual foi anunciada a ampliação de parcelas do seguro-desemprego para trabalhadores dos setores mais atingidos pela crise.

Ambas as ações foram comemoradas pelo presidente da Força Sindical, deputado Paulo Pereira, que destacou a manutenção da renda como principal benefício das propostas. "São positivas, na medida em que o governo abre alguma possibilidade de mantermos os recursos dos trabalhadores, que têm perdido poder aquisitivo nessa conjuntura", avaliou. O sindicalista pondera que, mesmo sendo os recursos do FGTS "dinheiro do trabalhador", a proposta é válida porque o "empregado estaria usando esse dinheiro para girar a economia, e portanto fortalecendo o mercado interno e mantendo o nível de atividade, o que cria mais empregos e diminui o impacto da crise".

Entretanto, Pereira salienta que a utilização dos recursos tem que ser voluntária. "Não pode ser uma coisa obrigatória, tem que ser só por um período, e a decisão de utilizar tem que partir do trabalhador." O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, também avaliou positivamente as propostas. "Sempre fica a preocupação porque há uma redução de salários, mas qualquer medida que auxilie a manutenção de empregos é bem-vinda", frisou Skaf.

A Central Única dos Trabalhadores (CUT) realizou ontem evento nacional em defesa do emprego e renda. Foram organizados manifestações, atos públicos e protestos nas capitais e principais cidades do País. O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC paralisou por três horas as atividades na fábrica da Volkswagen em São Bernardo do Campo, e interrompeu por 15 minutos o trânsito em quatro faixas Via Anchieta na altura do km 23.

Governo nas negociações

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que a negociação entre empresas e sindicatos é o caminho para resolver questões de trabalho nesse momento de enfrentamento da crise financeira internacional. Segundo ele, o governo só irá interferir se for chamado.

"O governo só entra na negociação entre o capital e o trabalho no dia em que uma das partes pedir e as duas concordarem. Eu era dirigente sindical e nunca aceitei que o governo se metesse nas minhas negociações. Tudo o que eu queria era liberdade para negociar", disse Lula, após almoço com o presidente da Namíbia.

Lula não respondeu diretamente a perguntas de jornalistas sobre a possível flexibilização de saques do FGTS para trabalhadores que aceitarem mudanças no contrato de trabalho e redução de salários, em consequência da crise internacional. Ele também reclamou de pessoas falarem sobre medidas, como essas, para a imprensa, antes mesmo de apresentá-las a ele.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 4)(Bruno De Vizia e Agência Brasil)