Título: Preço mudou de patamar, diz diretor da Petrobras
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Fonte: Gazeta Mercantil, 22/09/2004, Energia, p. A-7

O diretor da área internacional da Petrobras, Nestor Cerveró, admitiu que o patamar do preço do petróleo no mercado internacional mudou, mas evitou comentar se isso fará a estatal elevar os preços da gasolina e do diesel no Brasil. "O cenário é claramente de mudança de patamar do preço do petróleo e, no médio prazo, não deve cair abaixo de US$ 35 o barril", disse o executivo. A Petrobras trabalha com preço de referência do barril de petróleo negociado no mercado internacional entre US$ 20 e US$ 30.

A estatal vem mantendo os preços praticados no mercado interno, apesar da alta no mercado internacional. Executivos de alto escalão da empresa, incluindo o presidente da estatal, José Eduardo Dutra, têm argumentado que a empresa não elevará os preços até a configuração de novo patamar, dada a volatilidade no mercado. O último aumento da estatal brasileira, praticamente única produtora do mercado, foi realizado em meados de junho, quando reajustou diesel e gasolina em torno dos 10%.

O risco de ruptura no abastecimento de petróleo pelo Iraque, que tem uma das maiores reservas mundiais, tem colocado pressão sobre os preços. Aliado a isso, a forte demanda da China e a redução dos investimentos em produção no mundo, segundo Cerveró, pesam sobre a commodity. "Por isso não acredito que vá baixar do patamar que está hoje", disse.

Ele não explicou, no entanto, porque a estatal mantém os preços dos combustíveis. "O que posso dizer é que continua sendo um bom negócio continuar procurando petróleo", desconversou. Ontem, o representante da Agência Internacional de Energia (AIE), Norio Ehara, afirmou durante seminário do setor no Rio de Janeiro que o preço do petróleo deve se manter alto no médio prazo, mas previu que no longo prazo deverá haver uma busca pelo aumento de produção.

"A dúvida no momento é essa, se o produtor está ou não tentando aumentar a produção", disse Ehara. Ele não quis estimar o preço que o combustível deve atingir nos próximos meses. "Isso é uma questão de mercado e o mercado é um monstro que ninguém pode controlar."

Atividades na Bolívia

A Petrobras reiterou ontem que manterá todas suas atividades na Bolívia, segundo seus planos prévios, apesar das profundos mudanças previstas na legislação do país andino, que preocupam outras grandes petroleiras. "Não existe a menor possibilidade de deixarmos de atuar na Bolívia", disse Cerveró. A companhia expandiu suas atividades de prospecção, produção e comercialização para o resto da América do Sul e só se mantém ausente no Chile, Paraguai e Uruguai, países onde, no entanto, estuda vários projetos de investimento.

"Não vamos sair (da Bolívia) no momento em que cresce a demanda de gás natural no Brasil, Argentina e Paraguai", disse Cerveró. A Petrobras, principal empresa estrangeira na Bolívia, é a maior produtora de hidrocarbonetos no país, especialmente de gás, que exporta para o Brasil através de um gasoduto boliviano-brasileiro com capacidade para 30 milhões de m³ por dia.