Título: BC deve manter ritmo de corte na taxa Selic
Autor: Carvalho,Jiane
Fonte: Gazeta Mercantil, 17/02/2009, Finanças, p. B3

São Paulo, 17 de Fevereiro de 2009 - A forte retração econômica, com perda de empregos e queda na atividade, deve levar o Banco Central ( BC) a manter o ritmo de queda da Selic, hoje em 12,75% ao ano. Se para a maioria foi surpresa o movimento do Comitê de Política Monetária (Copom) em janeiro, com o primeiro corte de um ponto na taxa, o próximo passo não deve causar o mesmo impacto. O Relatório de Mercado do BC, divulgado ontem, trouxe pela primeira vez a previsão dos analistas ouvidos semanalmente apontando Selic a 11,75% ao ano em março, quando o Copom volta a se reunir. Há tantos elementos técnicos quanto subjetivos que sustentam um ritmo mais forte de relaxamento da política monetária.

"O risco de uma desaceleração maior na economia doméstica é muito grande. Por outro lado, a probabilidade de um descontrole inflacionário é baixa, o que facilita a tarefa do BC de reduzir o juro", explica Francisco Pessoa Faria, economista da Consultoria LCA. Os dados mais recentes do mercado de trabalho e do setor industrial foram muito ruins. Em dezembro, o setor industrial registrou queda de 1,1% sobre igual período do ano anterior, após 29 meses consecutivos de expansão. Também em dezembro, o emprego na indústria recuou 1,8% em relação a novembro, maior retração da série histórica com início em 2001. Esse resultado foi o terceiro negativo consecutivo, período em que acumulou perda de 2,5%. "O risco de uma desaceleração no PIB brasileiro só não é maior por conta da expectativa de juros cada vez menores ao longo do ano", diz Faria.

O economista-chefe do banco WestLB, Roberto Padovani, lembra da importância de evitar ruídos em um momento atípico como o atual. "A condução das expectativas do mercado é muito importante e, independente dos fatores técnicos que justificam outro corte de um ponto, o consenso que está se formando acaba pautando a própria decisão do BC" , diz Padovani. Para o economista, o crescimento do PIB neste ano não deve passar de 2%, bem inferior ao PIB potencial do País, entre 4% e 4,5%.

Com uma conduta considerada conservadora, o BC normalmente opta por cortes graduais na taxa Selic, esperando que a economia reaja. "O momento agora é atípico. O BC tenta antecipar os efeitos da política monetária", diz Padovani. "O BC está fazendo corretamente a política anticíclica necessária para enfrentar a crise atual", aponta Faria. Nos últimos dez anos, foram poucos os momentos em que o BC optou por cortes menos tímidos na taxa. Em 1999, em uma situação atípica por conta da desvalorização cambial, a taxa foi ajustada de 45% para 34%. Depois, em julho de 2003, o corte foi de 2,5 pontos percentuais, de 24,5% para 22%. "A Selic menor, associada às medidas fiscais como redução no IR e no IPI, devem dar resultado", completa Faria, da LCA, que estima crescimento de 2,5% do PIB no ano. Para o final de 2009, economistas ouvidos pelo BC estimam Selic em 10,50% ao ano.

Ver também pág. A4

(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 3)(Jiane Carvalho)