Título: Selic e Obama definirão rumo da economia brasileira
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Fonte: Gazeta Mercantil, 21/01/2009, Brasil, p. A5
21 de Janeiro de 2009 - A aceitação do programa de governo de Barack Obama no cenário internacional e o nível de queda do juro básico - a taxa Selic - são decisivos para definir com mais clareza qual será o futuro da economia brasileira, avalia o economista-chefe da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flávio Castelo Branco. Otimista quanto às ações do governo no combate à crise, a CNI espera para hoje corte de até 1 ponto percentual na Selic, ou seja, que a taxa caia para 12,75%. "Isso não vai colocar em risco as metas de inflação do Banco Central", afirmou Castelo Branco. Hoje o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC anuncia o novo patamar da Selic. Há expectativas de corte entre 0,5 e 1 ponto percentual sobre a taxa atual de 13,75% ao ano.
A CNI anunciou ainda no ano passado projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2,4% em 2009, mas essa estimativa, avisou o economista, pode ser revisada, dependendo da evolução de fatores externos e internos. As retrações dos indicadores industriais de novembro são, segundo Castelo Branco, uma resposta da economia brasileira à crise global. Segundo o economista, os efeitos da crise estão chegando mais rapidamente do que era esperado, o que pode significar ou o retorno também mais rápido a patamares de normalidade ou o aprofundamento dos problemas.
"Emprego é a preocupação maior do momento", admitiu o economista. Castello Branco defendeu maior facilidade nas relações entre empresa e empregados, mesmo que em caráter transitório, enquanto perdurarem os efeitos da crise. Ele disse que é preciso haver mecanismos que proporcionem flexibilidade nas relações trabalhistas, permitindo ajuste no atual cenário de transformações. "Primeiro é preciso usar os mecanismos que já existem. Se não forem suficientes, será necessário pensar em novos [mecanismos]", disse.
Destacou, ainda, que setores como os de bens de capital e de veículos são bastante sensíveis à oferta de crédito. Por isso elogiou medidas já implantadas - como a liberação de compulsórios para alavancar o volume de recursos disponível para empréstimos e a diminuição de tributos -, mas insistiu que a queda da Selic é indispensável, assim como a redução dos spreads bancários (diferença entre taxa de captação e de repasse).
Para garantir a economia aquecida, Castelo Branco afirma que uma boa alternativa é reforçar investimentos públicos em infraestrutura, incentivando a atividade econômica no atual período de crise e preparando o País para um novo período de retomada. "A crise vai ser superada e temos necessidade de infraestrutura", disse o economista.
Na segunda-feira, o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, anunciou dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) relativos a novembro, confirmando que nada menos que 654 mil trabalhadores com carteira assinada foram dispensados no último mês de 2008. Considerando os dados do Caged, Castelo Branco disse ser certo esperar nova retração do nível de emprego da indústria em dezembro. "Antes mesmo do Caged, o descompasso entre as vendas e as horas trabalhadas indicavam ajustes futuros", declarou o economista-chefe da CNI.
(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 4)(A.A.)