Título: Itália utilizará todos os recursos para exigir extradição de Battisti
Autor:
Fonte: Gazeta Mercantil, 22/01/2009, Brasil, p. A9
Roma, 22 de Janeiro de 2009 - O ministro italiano das Relações com o Parlamento, Elio Vito, afirmou ontem que o governo do premier Silvio Berlusconi está disposto a utilizar "todos os recursos possíveis" para exigir do Brasil a extradição do ex-ativista Cesare Battisti, condenado à prisão perpétua pela Justiça italiana.
Em declaração à Câmara dos Deputados, Vito explicou que está em estudo uma série de iniciativas que em breve serão colocadas em prática pelos ministérios italianos da Justiça e das Relações Exteriores, entre as quais se incluem recursos legais dirigidos ao Supremo Tribunal Federal do Brasil.
O ministro, membro da coalizão governista Povo da Liberdade, acrescentou que o governo italiano "já deu numerosos passos nos mais altos níveis" desde a divulgação da notícia da concessão a Battisti de status de refugiado político no Brasil, na última semana.
Desse modo, continuou Vito, estariam "criadas as condições" para que seja "revista" a decisão tomada pelo ministro da Justiça do Brasil, Tarso Genro.
O ministro das Relações com o Parlamento também expressou que o Poder Executivo "compartilha o estupor e o profundo desgosto" manifestado pelo presidente italiano, Giorgio Napolitano, com a decisão brasileira.
O Brasil concedeu na última semana status de refugiado político ao escritor e ex-ativista Cesare Battisti, condenado na Itália por quatro assassinatos que teriam sido cometidos na década de 1970, quando liderava o grupo de extrema-esquerda Proletários Armados pelo Comunismo (PAC).
Tarso Genro argumenta que sua decisão foi baseada na "existência fundada de um temor de perseguição" contra Battisti, que alega inocência. Com a medida, Battisti ganha o direito de morar e trabalhar no Brasil, e não pode ser extraditado, como pede a Justiça italiana.
Consultas a embaixador
O chanceler italiano, Franco Frattini, está "avaliando a conveniência de chamar a Roma para consultas o embaixador da Itália no Brasil, Michele Valensise", segundo informou uma nota divulgada ontem pela chancelaria italiana.
A proposta foi encaminhada ao chanceler pelo ministro da Defesa da Itália, Ignazio La Russa, no âmbito da tensão entre Roma e Brasília desencadeada pela decisão do ministro da Justiça, Tarso Genro, de conceder refúgio político ao ex-ativista italiano Cesare Battisti.
"É compreensível, ainda que extremo, o pedido de Daniela Santanche [líder do Movimento pela Itália] pela retirada de nosso embaixador no Brasil. Por outro lado, acredito que seja totalmente factível a possibilidade de chamar nosso embaixador para consulta e levarei ainda hoje essa hipótese à livre avaliação do ministro das Relações Exteriores, Franco Frattini", havia anunciado La Russa.
¿Eu fui um dos primeiros a alertar o governo brasileiro sobre o risco de que a grande amizade entre os povos da Itália e do Brasil seja profundamente minada pela imprudente decisão de um ministro brasileiro, não contestada pelo presidente Lula, de considerar o terrorista assassino Battisti como um perseguido político", declarou o ministro da Defesa.
"Os fatos estão me dando razão", acrescentou La Russa. "Os protestos continuam a se multiplicar e atualmente setores de fora da política cogitam a hipótese de uma campanha de boicote do turismo italiano no Brasil. Com exceção dos amigos políticos de Battisti, todos os setores parlamentares [italianos] se manifestaram contrários à decisão brasileira, bem como as máximas autoridades do Estado".
O senador italiano Maurizio Gasparri, do partido Povo da Liberdade (PDL), declarou que as autoridades brasileiras estão "divididas sobre a extradição de [Cesare] Battisti", solicitado pela Itália.
"Ninguém quer colocar em discussão a soberania nacional do Brasil, mas a extradição de Battisti está se tornando um ""caso"" interno, de divergência entre as autoridades brasileiras", declarou o senador. Líder da bancada da PDL no Senado, Gasparri disse que seu partido "já apresentou uma moção na convicção de que esta questão não possa ser deixada de lado".
"Também o Parlamento italiano deve agir para fazer as autoridades brasileiras entenderem que a impunidade para um criminoso assassino é intolerável", ressaltou em referência ao pedido feito ontem ao Senado italiano, para que se pronuncie contra a decisão brasileira de conceder refúgio a Battisti.
(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 9)(Ansa)