Título: Copom reduz Selic para 12,75% e sinaliza ciclo curto de cortes
Autor: Filgueiras,Maria Luíza
Fonte: Gazeta Mercantil, 22/01/2009, Finanças, p. B1

BC ressalta que ¿parte relevante¿ do ajuste já foi feita; na prática, mudança é pequena. Por: Maria Luíza Filgueiras ¿ SP O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu ontem reduzir a taxa Selic em 1 ponto percentual, alterando o juro básico de 13,75% para 12,75% ao ano. A decisão não foi unânime ¿ cinco membros votaram na redução de 0,75 ponto. Assim como o comitê, o mercado estava dividido entre os dois cortes, mas as expectativas por uma reação agressiva do BC foram reforçadas com a divulgação dos últimos índices de atividade econômica, como a redução de emprego formal e produção industrial, compilados respectivamente do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) e pela Confederação Nacional das Indústrias (CNI). Acendeu-se a luz vermelha entre economistas e analistas de investimento. Entretanto, o que permitiu ao BC trocar um ajuste longo e mais suave por um ciclo que parece ser curto e agressivo de flexibilização de juro é a estimativa de que é possível manter a inflação dentro da meta, já que a desaceleração econômica e a queda no preço das commodities compensam a pressão cambial sobre os preços domésticos. O relatório Focus desta semana projetou um IPCA de 4,8% em 2009. Em nota, a autoridade monetária destacou que o comitê realizou de imediato parte relevante do movimento para a taxa básica, ¿sem prejuízo para o cumprimento da meta para a inflação¿. A interpretação do economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, é que os próximos cortes devem ser menores. ¿A nota sugere novos passos, que devem ser de pelo menos mais dois cortes, mas não de um ponto. Este corte pode representar pouco mais da metade da redução a ser feita, que já estimávamos entre 2,5 e 3 pontos no total¿, diz Gonçalves. Para André Lóes, economista-chefe do HSBC, a indicação do BC é oposta. ¿Acho que o destaque para parte relevante indica maior agressividade, não só para o início do movimento¿, diz o economista, que pode rever a projeção total para o ano de corte de 3 pontos. A avaliação de Jankiel Santos, economista-chefe do BES Investimento, é que na próxima reunião, em março, também não deve ser definida por votação unânime. ¿Quem votou por 0,75 vai continuar de olho na inflação, com os dados de fevereiro, e quem optou por 1 ponto focando o desaquecimento econômico não achará números alentadores na atividade de janeiro¿, avalia Para Silvio Campos Neto, economista-chefe do Banco Schahin, o Copom pode realizar um segundo corte da mesma magnitude na próxima reunião. Ele ressalta que os contratos de DI futuro já vinham trocando as apostas nos últimos dias pelo corte mais forte e curto. ¿Os investidores já estavam embutindo nos contratos um meio termo entre 0,75 e 1 ponto¿, diz. No dia 2 de janeiro, o DI de um dia com vencimento em janeiro de 2010 (contrato mais negociado) apontava juros de 12,16% ao ano ¿ no fechamento de ontem, o contrato projetava 11,15%. O consenso é que, do ponto de vista prático, o corte traz pouca mudança, assim como traria a redução de 0,75 ponto. O fato de o BC manter a taxa na reunião anterior foi equivalente à uma alteração para cima, já que demais países aceleraram o corte de juros com o acirramento da crise econômica. O último brasileiro foi em setembro de 2007 e, para que o País deixasse a liderança de maior taxa de juros reais, descontada a inflação projetada para os próximos 12 meses, seria necessário um corte de 3 pontos de uma só vez, conforme levantamento da UpTrend Consultoria Econômica. O corte, impensável para o conservador BC, deixaria o Brasil atrás da Hungria. Com o corte de ontem e a inflação projetada, o juro real brasileiro fica em 7,6% ao ano. A última vez em que o Copom cortou 1 ponto nominal foi em dezembro de 2003. Agora, a redução de juro tem efeito mais psicológico que prático, avaliam os economistas. ¿Mais importante que o tamanho do primeiro corte, que não deve surtir grandes efeitos de curto prazo, é a sinalização de retomada do ciclo de afrouxamento monetário, como aquele iniciado em 2005¿, diz Jason Vieira, economista-chefe da UpTrend. ¿O efeito maior é na confiança do empresário e do consumidor, já que mostra que o BC vai agir para combater a recessão, configurada quando há dois períodos de retração econômica¿, avalia José Góes, economista da Wintrade, referindo-se ao quarto trimestre de 2008 e às expectativas para o PIB do primeiro trimestre deste ano. Corte de taxas bancárias O efeito mais imediato do corte dos juros básicos é a leve redução de taxas bancárias. Ontem, logo após o anúncio de corte pelo BC, diversos bancos divulgaram redução das taxas cobradas dos clientes. O Banco do Brasil informou que reduzirá juros a partir da próxima sexta-feira. O Itaú terá taxas menores a partir de segunda-feira. A Caixa reduzirá a taxa de onze linhas de empréstimos. O Unibanco também fará cortes a partir de segunda-feira.