Título: Indústria de SP amplia demissões e corta 130 mil em dezembro
Autor: Vizia,Bruno De
Fonte: Gazeta Mercantil, 27/01/2009, Brasil, p. A4

São Paulo, 27 de Janeiro de 2009 - A indústria paulista demitiu 130 mil pessoas em dezembro, e fechou o ano de 2008 com saldo negativo de 7 mil empregos. Os dados foram divulgados ontem pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), que apontou o resultado obtido em dezembro como o pior para o mês desde 2003, início da série histórica avaliada.

A velocidade e a violência com que a crise atingiu a economia real e a indústria foram destacados por Paulo Francini, diretor do Departamento de Pesquisas Econômicas da Fiesp (Depecon), que se disse surpreendido pelo número de 2008. "Esperávamos uma leve alta, da ordem de 2%, para o emprego na indústria, mas o saldo negativo do ano passado pegou todos de surpresa", avaliou. A queda em dezembro, com ajuste sazonal, ficou em 2,72%, e a variação em relação ao mês de novembro ficou em -5,64%.

Perspectiva

Francini não arriscou projeções para este ano, mas adiantou que espera forte queda na atividade industrial de dezembro - que deverá ser divulgada amanhã - e mais reflexos da crise no mercado de trabalho nos meses de janeiro e fevereiro. "Todos, seja dirigente de empresa, seja consumidor, tem a mesma atitude na crise, que é de se proteger", destacou.

Ele salientou que historicamente há uma defasagem de aproximadamente quatro meses para que uma queda da produção afete o nível de emprego. "Mas neste caso vimos a atividade industrial cair prematuramente, ao mesmo tempo que o emprego, o que é algo sem precedentes", frisou o economista.

Apenas o setor sucroalcooleiro demitiu 79,2 mil pessoas em dezembro, e fechou o ano com saldo de 4,3 mil demissões, o que representa 62% do total auferido em 2008. "Os maus resultados gerais do fim do ano eliminaram todo o ganho de empregos até outubro", disse Francini.

Todos os 21 segmentos pesquisados demitiram em dezembro, resultado inédito para o indicador, que começou a ser apurado em 1994. Para o diretor da Fiesp, a indústria está mudando de patamar de produção, e essa mudança gera turbulência, pois vivemos um profundo processo de acomodação no emprego.

Caçada a grito

O economista criticou, de maneira velada, as determinações de manutenção de empregos, exigidas por diversos sindicatos. Ele destacou que existe uma relação direta, "que não vai mudar", entre volume de produção e emprego. "O que interfere no emprego é a demanda, e ela está sendo caçada a grito ultimamente", explicou.

Para Francini, não adianta vincular a concessão de crédito à manutenção de empregos. "Pode-se privilegiar projetos mais empregadores, mas nem sempre estes projetos são os mais interessantes para o País", ponderou.

Manifesto sem acordo

Também ontem a Fiesp, em conjunto com as federações do Comércio e Agricultura, ambas do estado de São Paulo, e centrais sindicais (excetuando-se a Central Única dos Trabalhadores - CUT), divulgaram manifesto com quatro sugestões para a manutenção do nível de emprego: acelerar a queda da Selic; reuniões do Comitê de Política Monetária a cada 15 dias; redução do spread bancário; e ampliação do número de integrantes do Conselho Monetário Nacional. Nenhum acordo foi mencionado no documento.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 4)(Bruno De Vizia)