Título: Evento discutirá efeitos da crise internacional e sustentabilidade
Autor: Abade,Luciana
Fonte: Gazeta Mercantil, 27/01/2009, Brasil, p. A7

Brasília, 27 de Janeiro de 2009 - Quase simultaneamente ao Fórum Econômico Mundial, que começa amanhã em Davos, na Suíça, inicia-se hoje, em Belém, no Estado do Pará, a nona edição do Fórum Social Mundial (FSM). O fórum foi criado em 2001 por representações de esquerda, numa tentativa de fazer um contraponto social ao encontro de Davos. A crise econômica mundial será o foco dos dois eventos, mas pela primeira vez as propostas do FSM de um "outro mundo" parecem não apenas possíveis, mas necessárias.

A presença em Belém do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que em 2007, ano de vertiginoso crescimento econômico, preferiu Davos ao FSM realizado no Quênia, é um sinal da nova dimensão que será dada ao encontro. Além da crise econômica, a sustentabilidade ambiental também estará no centro do debate. Mais de 100 mil pessoas são aguardadas no evento, que terá 2.600 atividades, incluindo seminários, conferências, assembléias, atos culturais e marchas.

"Esse fórum será estratégico", afirma Tatiane Dahmer, diretora da Associação Brasileira de Organizações Não-Governamentais (Abong). Ela explica que o fórum será estratégico porque confrontará o modelo econômico vigente no mundo que, quando entra em colapso, partilha o prejuízos entre todos.

"Queremos um Estado forte e universalista", argumenta Tatiane, contraponde-se aos articuladores de Davos, "que defendem um Estado mínimo no campo dos direitos e máximo quando se trata da defesa do capital".

Perfil dos participantes

A realização do Fórum na região amazônica trará outra novidade: a forte presença de indígenas e de povos ribeirinhos e quilombolas não apenas como anfitriões, mas como protagonistas do movimento. Um público totalmente diferente do que costuma comparecer ao evento.

De acordo com levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), a maioria dos participantes do fórum são jovens com alto grau de escolaridade. Em 2005, primeiro ano em que foi realizado o levantamento, 73% dos participantes possuíam curso superior completo. No ano passado, esse percentual subiu para 81%. O fórum realizado em Mali, em 2006, registrou o menor percentual de jovens participantes na história do evento: 56% tinham entre 14 e 35 anos. Já em Porto Alegre, em 2005, 70% dos participantes estavam nessa faixa etária.

Na próxima quinta-feira, os presidentes Lula, Evo Morales, da Bolívia, Hugo Chávez, da Venezuela, Rafael Correa, do Equador e Fernando Lugo, do Paraguai, se encontram com integrantes do fórum em um evento organizado pela Central única dos Trabalhadores (CUT), Ibase e Instituto Paulo Freire (IPS).

Mais de 8 mil pessoas devem se reunir nesse encontro, que será realizado no Centro de Convenções do Hangar. No dia seguinte, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reúne, em evento fechado, com lideranças e integrantes do fórum.

Preparação

A capital do Pará teve que multiplicar a capacidade hoteleira e recorrer à hospedagem alternativa para receber os cerca de 100 mil participantes. Para completar as oito mil vagas disponíveis na rede hoteleira convencional, o esquema de hospedagem dos participantes teve que incluir casas de famílias, alojamentos e acampamentos nos campi das universidades Federal do Pará (UFPA) e Federal Rural da Amazônia (UFRA).

Aproximadamente 85 mil vagas alternativas foram levantadas na cidade. Dois novos hotéis foram abertos para o FSM. A cidade recebeu cerca de R$ 13 milhões em investimentos turísticos do governo federal em parceria com o governo do estado. Mais de 1.500 voluntários foram treinados nas últimas semanas.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 7)(Luciana Abade)