Título: Proposta da Vale divide sindicatos de mineradores
Autor: Vizia,Bruno De
Fonte: Gazeta Mercantil, 26/01/2009, Brasil, p. A4

São Paulo, 26 de Janeiro de 2009 - Os sindicatos dos trabalhadores da indústria de extração de ferro e metais básicos (Metabase) da cidade de Congonhas e Ouro Preto, e o Metabase de Itabira, rejeitaram a proposta feita pela Companhia Vale do Rio do Doce (Vale), de garantir empregos até 31 de maio caso os trabalhadores aceitem licença remunerada com pagamento de 50% dos salários. Os sindicatos fizeram na última sexta-feira uma contra-proposta na qual tentam negociar a manutenção integral dos salários, estabilidade de empregos, e também a reintegração dos trabalhadores demitidos no último corte realizado pela empresa, "inclusive os demitidos pelas empresas terceirizadas, que devem ser admitidos como funcionários da Vale".

Os sindicatos divulgaram proposta pública na qual destacam que a mineradora é a maior empresa privada do Brasil, conta com R$ 15 bilhões em caixa, e "encontra-se em situação privilegiada para enfrentar os efeitos da crise econômica mundial". Segundo Valério dos Santos, presidente do Metabase de Congonhas, a empresa continua fazendo investimento e distribuindo dividendos como se não houvesse crise, portanto, "para nós a Vale é uma empresa completamente sadia, que pode oferecer aos trabalhadores uma proposta muito melhor do que essa, que, do jeito que está, não vamos aceitar".

A proposta da Vale, feita na última quinta-feira aos sindicatos de mineração de minério de ferro de Minas Gerais e do Mato Grosso do Sul, prevê licença remunerada com 50% do salário-base, garantido o mínimo de R$ 856, e manutenção de todos os benefícios do acordo coletivo de trabalho, firmado com os sindicatos. A contra-proposta do Metabase de Congonhas e de Itabira, além de exigir a garantia de emprego e manutenção do salário integral, pede ao Conselho de Administração da empresa que rejeite a remuneração mínima de US$ 2,5 bilhões em dividendos aos acionistas da mineradora, e abdique de realizar qualquer investimento no exterior.

Santos pretende que uma fatia dos recursos que serão pagos aos acionistas fique para a manutenção dos empregos em 2009. "Eles estão propondo corte de 50% nos salários dos empregados, então estamos propondo que seja cortado metade do valor a ser enviado aos acionistas, num total máximo de US$ 1,25 bilhão", destacou o sindicalista.

No entanto, a posição não é unânime entre os sindicatos de mineração. O Metabase de Mariana, por exemplo, aderiu a proposta por considerá-la benéfica à região. Segundo o presidente do sindicato, José Mafra Costa, aceitar o acordo "é um mal necessário, pois pelo menos estamos garantidos até o final de maio". O sindicalista destacou que o sindicato preferiu aceitar a proposta da mineradora porque "o cenário não é bom, e o emprego no interior é difícil. Os metalúrgicos da capital tem mais opções, aqui no interior só há uma oportunidade". Costa salientou que o comércio da cidade "comemorou" a assinatura da proposta, pois "a economia da região depende da manutenção destes empregos".

A Vale informou que até a última sexta-feira seis sindicatos, que representam 16 mil trabalhadores, já haviam aderido à proposta. A empresa destacou, entretanto, que o número de funcionários que deverão entrar em licença remunerada ainda é incerto, pois depende de remanejamentos internos, e de quantos sindicatos aderirão à proposta.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 4)(Bruno De Vizia)