Título: MST quer eleger em 2010 um presidente de esquerda
Autor: Quadros,Vasconcelo
Fonte: Gazeta Mercantil, 26/01/2009, Brasil, p. A10

Brasília, 26 de Janeiro de 2009 - Dono de uma invejável base social - um universo de dois milhões e meio de pessoas distribuídas em assentamentos rurais e acampamentos de beira de estrada em todo o país -, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) chega aos 25 anos empenhado em ajudar a eleger em 2010 um governante de esquerda que restabeleça a bandeira do socialismo e se comprometa com uma reforma agrária de massa. Como fez há um quarto de século ao romper os vínculos com a Igreja Católica e com os sindicatos para se tornar autônomo, o movimento agora quer se distanciar de seus dois mais velhos parceiros, o PT e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas está de olho na passarela por onde desfilam os presidenciáveis e numa eventual polarização entre o PSDB, com o nome do governador de São Paulo, José Serra, e o PT, com a ministra Dilma Roussef.

"Este é um debate que está acontecendo e não há posições definidas pelo MST. Todavia, se for o cenário político da próxima eleição presencial se configurar em torno da Dilma e do Serra, uma tendência será de o MST apresentar suas propostas para uma política de desenvolvimento territorial para os dois candidatos, mas não manifestar posição como aconteceu na segunda eleição de Lula", diz o geógrafo Bernardo Mançano Fernandes, um dos maiores estudiosos do movimento, professor da Universidade Estadual Paulista (UNESP) e pesquisador do Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico (CNPq).

"Se o eleito for um progressista, facilita as mobilizações. Mas o nome ainda não é uma preocupação do MST", sustenta Fedenir de Oliveira, coordenador do movimento no Rio Grande do Sul. Pelo passado de guerrilheira e a simpatia que ainda desfruta nas fileiras esquerdistas, Dilma é, entre os presidenciáveis com perspectiva de crescimento, quem mais poderia atrair a simpatia dos movimentos sociais capitaneados pelo MST, que há muitos anos deixou de ser apenas um ator rural para exercer forte influência nas áreas urbanas.

De olho nessa seara, o presidente Lula já marcou seu nome na agenda do Fórum Social Mundial, no próximo dia 30, em Belém, e deverá levar a ministra a tira-colo. Sua pretensão esbarra, no entanto, na disposição do MST em romper com o governo, seis anos depois de ajudar a elege-lo. " O governo Lula é uma coisa, nós somos outra. Lula se afastou da esquerda. Olhando para 2010 a gente espera que o governo seja mais à esquerda que o de Lula", diz o economista João Pedro Stédile, fundador e principal dirigente nacional do MST. Ele afirma que também se esgotou o casamento forjado nas lutas de classe entre MST, PT e Central Única dos Trabalhadores (CUT), fundada por Lula no início da década de 1980. "Nascemos juntos, como parceiros de um mesmo projeto. Cada um na sua trincheira, mas todos se ajudando. Esse ciclo terminou na década de 1990, com o descenso do movimento de massas", decreta Stédile.

Nas palestras que fez durante o encontro encerrado ontem em Sarandi, sede do assentamento que resultou na primeira e mais importante invasão de terras, a Fazenda Anoni, Stédile disse que se o Lula tivesse cumprido a Constituição, desapropriando as terras improdutivas, o MST nem existiria mais. "Mas 25 anos se passaram e nada."

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 10)(Vasconcelo Quadros)