Título: Sem EUA, Davos vai em busca de soluções
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Fonte: Gazeta Mercantil, 26/01/2009, Internacional, p. A16
Genebra (Suíça), 26 de Janeiro de 2009 - A elite internacional da política e dos negócios comparecerá, a partir de quarta-feira, na grande reunião anual do Fórum de Davos, Suíça, tradicional paladino do capitalismo que agora aspira a ser o saneador de uma economia mundial em crise. Lugar de reunião privilegiado para perto de 2,5 mil altos funcionários, a 39ª edição do Fórum de Davos se desenrolará este ano em um ambiente deprimido e sem a presença de representantes americanos de peso.
A crise financeira, econômica e até sistêmica, junto com as ameaças ligadas à mudança climática, ocuparão a agenda durante os cinco dias que durará o fórum nessa aprazível estação dos Alpes suíços. O presidente e fundador do Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês), Klaus Schwab, prometeu que os participantes tentarão contribuir para o processo do G20 - grupo dos principais países industrializados e emergentes do planeta - antes da reunião de cúpula prevista para abril em Londres.
"Estamos ainda em plena crise", advertiu Schwab em Genebra, dizendo esperar que Davos, outrora conhecida por seus sanatórios para tratamento da tuberculose, seja o lugar onde se desenhe uma "convalescença" da economia mundial. Para isso, o ex-professor de economia contará com um grupo de personalidades especialmente nutrido este ano: 43 chefes de Estado e de governo, o dobro do habitual, segundo a WEF.
O primeiro-ministro da Rússia, Vladimir Putin, que participará pela primeira vez do Fórum de Davos, fará o discurso de abertura. Outro convidado de exceção será seu colega de Pequim, Wen Jiabao, acompanhado por uma importante delegação de empresários chineses. Seguindo a tradição, também estarão presentes a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, e o primeiro-ministro da Grã-Bretanha, Gordon Brown.
Mas a ausência de representantes significativos do novo governo de Obama faz pairar dúvidas sobre as ambições do programa do Fórum de Davos. Diante da gravidade da crise nos Estados Unidos, "para eles não é o momento de passear em Davos", disse Jean-Pierre Lehmann, professor da escola de comércio IMD, em Lausanne.
Os especialistas não esperam, portanto, nenhum milagre. Além disso, segundo dizem, os remédios que serão debatidos durante a reunião têm poucas possibilidades de marcar uma ruptura com a ideologia capitalista dominante. Poucos esperam assim que os "pirômanos transformados em bombeiros", segundo a expressão de uma economista frequentadora do fórum, entonem o mea culpa.
"Sempre houve uma nota de capitalismo evangélico nos fóruns anteriores, mas nunca um debate de base sobre o sistema", insiste Lehmann. "Tenho curiosidade especial por ver se haverá atos de contrição", acrescentou, perguntando-se com ironia: apesar de "todas essas mentes brilhantes, como é possível que todos nós fossemos pegos de surpresa pela tormenta?".
De fato, poucos são os pontos de consenso do Fórum que tenham resultado equivocados. No ano passado, o Fórum de Davos esperava que a solução para os problemas econômicos do mundo viesse dos países emergentes. Por isso é preciso tomar Davos pelo que é, recorda um economista familiarizado com o fórum: um "lugar de discussão sem grande impacto no mundo real", que consiste, antes de mais nada, numa oportunidade para os dirigentes "se reunirem numa área neutra".
Assim, o multimilionário Bill Gates, fundador da Microsoft, estará junto do presidente do Banco Central Europeu, Jean-Claude Trichet, e do presidente da Renault, Carlos Ghosn. À espera das grandes personalidades que chegarão em helicópteros particulares e veículos de luxo, a pequena localidade suíça vive agora dias frenéticos.
Os dois hotéis cinco estrelas, cujos 400 quartos são disputados pelos ricos e poderosos do planeta, terminam os últimos preparativos para uma reunião que, no entanto, contará menos este ano com as festas que habitualmente embalam a semana do fórum devido à crise.
(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 16)(AFP)