Título: Sim à nova Constituição é maioria no início das apurações
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Fonte: Gazeta Mercantil, 26/01/2009, Internacional, p. A16
La Paz, 26 de Janeiro de 2009 - A votação do referendo sobre a controvertida nova Constituição da Bolívia foi marcada por um clima de paz tanto nos distritos favoráveis como nos de oposição ao presidente Evo Morales, depois de muitas semanas de confrontos verbais em razão do projeto, que para a oposição favorece os indígenas e os pobres.
As primeiras urnas foram fechadas às 16h locais, quando começou a contagem manual de votos. Cerca de 3,9 milhões de pessoas maiores de 18 anos foram convocadas a votar contra ou a favor da elaboração da nova Constituição, com a qual Evo Morales pretende promover grandes mudanças no país mais pobre da América do Sul. Segundo jornais locais, o "sim" à Constituição era maioria nas primeiras mesas eleitorais fechadas ontem.
O ministro do Interior, Alfredo Rada, responsável pela segurança interna, qualificou a votação como uma "jornada democrática, tranquila e exemplar". A versão foi corroborada pela missão da Organização de Estados Americanos (OEA) que acompanhou o pleito. Segundo Rada, os únicos incidentes isolados estão relacionados à denúncia de indução de votos em três regionais do país.
A inédita eleição para a aprovação ou rejeição da nova Carta Magna provocou reações diversas em bairros pobres e abastados de La Paz, relacionadas ao grau de compreensão da cédula: uma folha com duas perguntas de "Sim" ou "Não" para a nova lei, e sobre a extensão máxima das terras agrícolas privadas (5 mil a 10 mil hectares).
Nas zonas pobres, como de Vino Tinto, no leste da capital, os fiscais de mesa de votação tiveram problemas para explicar a característica da cédula, pois a população está acostumada a votar em cédulas multicoloridas para eleger o presidente desde 1982, quando os militares entregaram o poder aos civis.
O panorama parecia diametralmente oposto no colégio Franco-Boliviano, no exclusivo bairro de Achumani, no sul da cidade. "As pessoas chegam informadas, elas já sabem como votar", declarou Vania Rueda, de 20 anos, presidente de mesa num centro de votação onde o governo de Morais encontra resistência.
O texto submetido à consulta popular é fruto de um precário consenso político alcançado em outubro do ano passado no Congresso, época em que país estava à beira de uma guerra civil. O novo projeto substituirá a Constituição vigente desde 1967.
As diferenças na Bolívia com relação ao apoio ou rejeição da nova Constituição se concentram em dois discursos: o levantado pelo presidente Morales em apoio à norma, e dos prefeitos de cinco das nove regiões do país que a rejeitam.
Para Morales, o primeiro aymara a chegar à presidência, a aplicação da lei fundamental permitirá encaminhar o país para a "justiça social", porque alcançará a incorporação plena dos indígenas nas tomadas de decisão públicas. Para os opositores, como o prefeito Rubén Costas, líder de Santa Cruz, a região mais rica do país e bastião dos rebeldes, a nova lei fundamental pode prorrogar o mandato de Morales, porque está influenciada pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez, firme aliado ideológico do governo de La Paz.
Evo Morales espera obter um triunfo histórico do "sim" no referendo. A validação popular lhe dará a possibilidade de se candidatar à reeleição em 6 de dezembro deste ano e buscar um segundo mandato de 5 anos. Se a proposta for rechaçada, Morales deve cumprir normalmente seu mandato até 2011.
(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 16)(AFP)