Título: Partidários de Serra cedem e concordam com prévias no PSDB
Autor: Correia,Karla
Fonte: Gazeta Mercantil, 18/02/2009, Brasil, p. A8
Brasília, 18 de Fevereiro de 2009 - O governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB) conseguiu deixar acuada a cúpula do partido ao elevar o tom da discussão em torno da realização de prévias para a definição do candidato tucano à presidência da República em 2010.
Em menos de dez dias, três gestos do mineiro - que deu prazo até março para a realização das prévias, flertou com o PMDB e se proclamou publicamente como uma opção para o Palácio do Planalto em 2010 - deixou os partidários do governador paulista, José Serra, diante de um impasse: ou ergue-se a bandeira branca a Aécio ou, rachada, a legenda deixa aberto espaço precioso para a candidatura governista à sucessão presidencial.
E a única oferenda de paz viável é a realização de prévias depois de abril de 2010, afirma o deputado tucano Paulo Renato Souza (SP), ligado a José Serra e líder do movimento que espelhou a divisão do partido ao rachar a bancada tucana na Câmara em duas: os liderados pelo deputado José Aníbal (SP), aliado de Aécio Neves, e os "independentes", partidários de José Serra que não aceitaram a reeleição de Aníbal no cargo de líder do PSDB na Casa.
A ala está ciente de que a oferta está longe de poder ser considerada como um passo em direção à tão desejada unificação do partido em torno de um candidato. De acordo com um aliado de José Serra na Câmara dos Deputados, o governador paulista reconhece que terá de seduzir, e não atropelar, Aécio Neves para ter chances de se consolidar como candidato do partido ao Palácio do Planalto.
"Serra sabe que terá de cantar Aécio Neves, que quer ser cantado pelo partido", resume o tucano. "O problema é que José Serra não sabe como cantar Aécio Neves. E Aécio não faz idéia da cantada que quer ouvir para ser seduzido."
Sem regras
Braço direito de José Serra na Câmara, o deputado Arnaldo Madeira (SP) argumenta que a realização de prévias e a definição antecipada da candidatura tucana ao Palácio do Planalto em 2010 engessaria a atuação de José Serra e de Aécio no governo dos estados, principal vitrine dos dois possíveis candidatos.
"Qualquer inauguração de obra passaria a ser vista como um ato de campanha antecipada, seria um flanco aberto a ataques de adversários na Justiça Eleitoral", observa o deputado. "Além disso, as prévias implicariam em uma campanha intensa junto aos diretórios estaduais, algo que demanda dinheiro e tempo de governadores que estão na ativa. É muito complicado."O maior problema, contudo, é a falta de regras no estatuto do partido para a realização de prévias, admite o deputado Paulo Renato. Não existe definição, por exemplo, de quem teria direito a voto dentro do partido - todos os filiados, ou só os diretórios estaduais, ou se a decisão dependeria de uma convenção partidária.
Também não há consenso sobre a aplicação de proporcionalidade por estados, onde o diretório com maior número de parlamentares no Congresso teria, em consequência, mais peso na escolha do futuro candidato.
"As regras terão de ser definidas com o jogo em curso, o que é a receita pronta de rachaduras ainda mais graves do que a que estamos enfrentando hoje", diz o deputado. "O problema é que esses critérios precisam de consenso entre os pré-candidatos. Seria uma discussão infindável."
Não há consenso nem mesmo sobre a realização do recadastramento dos filiados, defendido por uma ala do partido como essencial para viabilizar as prévias.
(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 8)(Karla Correia)