Título: Mercado aposta contra o BC
Autor: Ribas, Sílvio
Fonte: Correio Braziliense, 22/03/2011, Economia, p. 12

A estratégia de combate à inflação no Brasil enfrenta o ceticismo do mercado. Com as expectativas dos analistas chegando ao limite do tolerável, o Banco Central terá que se preocupar com um efeito indesejado: a remarcação de preços para cima. O Boletim Focus, levantamento da autoridade monetária que ouve cerca de 100 instituições financeiras semanalmente, deu mais um novo sinal da descrença generalizada. Pela segunda vez seguida, a pesquisa registrou uma piora na expectativa de alta do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), de 5,82% para 5,88%, em 2011. A estimativa para o crescimento do país também caiu, de 4,10% para 4,03%.

Em 12 meses, a expectativa dos analistas é de que a inflação continue rondando os 7% anuais até agosto. Para Luís Otávio de Souza Leal, economista-chefe do Banco ABC, esse cenário de descrédito em relação ao BC ficou mais claro depois da última ata do Comitê de Política Monetária (Copom), que trouxe a indicação de que a instituição vai usar mais ações prudenciais para tentar conter a demanda e a inflação. ¿O mercado está interpretando os sinais mandados pelo BC¿, justificou Leal. ¿Eles (os analistas) acreditam que as medidas prudenciais podem desacelerar a economia, mas não teriam força para frear a inflação.¿

Em reunião trimestral com economistas, na semana passada, a estratégia da autoridade monetária ficou mais clara. A percepção é de que virão mais medidas alternativas ao tradicional aumento de juros. Como os economistas não conseguem incluir em seus cálculos a nova estratégia do BC e a autoridade monetária não divulga o alcance dessas medidas, a descrença avança. ¿Deixar as expectativas aumentarem o suficiente para que elas próprias tornem-se uma fonte de inflação é o maior perigo para os banqueiros centrais. Em algumas partes do mundo, eles já estão flanqueados¿, ressaltou Anthony Crescenzi, vice-presidente e estrategista da Pacific Investment Management Company (Pimco), maior gestora de recursos do mundo.