Título: Bancos menores reduzem a oferta de crédito e lucros caem
Autor: Nascimento,Iolanda
Fonte: Gazeta Mercantil, 19/02/2009, Finanças, p. B1

São Paulo, 19 de Fevereiro de 2009 - Os balanços dos bancos de médio e pequeno portes que já divulgaram seus resultados de 2008 mostram o tamanho do estrago causado pela crise financeira mundial no mercado de crédito brasileiro - em que respondem por algo próximo de 20% -, no quarto trimestre do ano. O aperto da liquidez, somado ao cenário de incertezas sobre o real impacto da crise na economia, levou as instituições a reduzir as concessões de empréstimos, elevar as provisões contra eventuais aumentos de inadimplência (mesmo ela estando sob controle) e reduzir custos, muitas com enxugamento da estrutura. Fatores que afetaram os lucros no último quarto do ano dos bancos menores, que dificilmente finalizarão 2009 nos mesmos patamares de setembro do ano passado. Isto só deve ocorrer em meados de 2010, a continuar esse cenário, conforme avaliam alguns executivos.

O cenário, entretanto, não é de tragédia; é de cautela, afirmam. Os bancos são lucrativos e se armam de cuidados para que as operações continuem com os números azuis. Divulgaram balanços ontem o Banco Daycoval e o Banco Industrial e Comercial (BicBanco). Anteontem, o Banco ABC Brasil. Hoje sai o do Banco Fibra e nas semanas anteriores saíram os números dos bancos Indusval, Paraná, Banrisul e Pine. Todos apontaram reduções em suas carteiras de crédito no quarto trimestre, em relação a setembro.

O BicBanco reportou lucro líquido de R$ 320,5 milhões, alta de 76,2% comparativamente a 2007. No quarto trimestre, contudo, os ganhos ficaram em R$ 20,3 milhões, redução de 80,4% ante o terceiro trimestre e queda de 59,8% em relação a igual fase de 2007. Se não fosse o impacto líquido de cerca de R$ 60 milhões em provisões contra a inadimplência, o resultado teria crescido ante os R$ 50,4 milhões do quarto trimestre de 2007 e ficado em torno de 20% menor em comparação ao obtido entre julho e setembro, observa o vice-presidente executivo de operações do BicBanco, Milto Bardini. No total, as provisões brutas adicionais somaram R$ 101,6 milhões. "Carregamos nas tintas porque 2009 será um ano muito exigente", diz Bardini.

A redução na carteira de crédito do BicBanco foi de 17,3% ante setembro, para R$ 8,1 bilhões ao final de dezembro, resultando em alta de 5,9% em um ano. O estoque de crédito do Daycoval, de R$ 3,98 bilhões no encerramento de 2008, também cresceu no comparativo anual, 14,5%, mas a queda frente ao terceiro trimestre foi de 14%. O saldo total de crédito originado pelo Banco Fibra saltou de R$ 3,94 bilhões ao final de 2007 para R$ 4,05 bilhões em dezembro último, enquanto a aquisição de carteira caiu de R$ 505 milhões para R$ 263 milhões, em linha com a estratégia do banco de usar sua própria estrutura nessas operações. Osias Brito, vice-presidente-executivo corporativo do Fibra, afirma que em relação ao terceiro trimestre houve uma queda na carteira. "O cenário era muito adverso e preferimos usar os vencimentos (recursos dos pagamentos dos empréstimos) para manter o caixa alto", diz Brito, ressaltando que a liquidez do caixa tem variado de R$ 1,2 bilhão a R$ 1,6 bilhão, mais do que o dobro do normalmente mantido pela instituição.

O BicBanco, com cifra próxima de R$ 2 bilhões hoje, também deu prioridade à formação de caixa em detrimento da expansão da carteira, bem como o Daycoval. Carlos Dayan, diretor-executivo da instituição, avalia que banco bom é aquele que no quarto trimestre reduziu a carteira de crédito, optando por maiores garantias, pela qualidade do crédito e por liquidez. No final de 2008, o caixa líquido do Daycoval estava em R$ 1,1 bilhão, o maior de sua história.

O lucro do Daycoval foi de R$ 237 milhões no ano passado, avanço de 2,6% ante 2007. No quatro trimestre, contudo, os ganhos caíram 38,5% em relação ao terceiro trimestre e 39,5% ante igual fase de 2007, impactado particularmente pelas provisões, para R$ 36,7 milhões. Diferentemente de boa parte das instituições, o banco não fez provisões extras, mas reavaliou para cima os riscos da carteira, cliente a cliente e por setor, elevando-as em 31,2% no trimestre. No ano, ficou em R$ 183,3 milhões.

O Fibra, de capital fechado controlado pelo Grupo Vicunha da família Steinbruch, teve um lucro líquido de R$ 102 milhões no ano passado, 48% maior em comparação a 2007, resultado que teria sido de R$ 122 milhões, com alta de 77%, não fossem as provisões adicionais de R$ 33 milhões contra a inadimplência. As provisões, diz Brito, afetaram o resultado líquido do último trimestre, que teria girado em torno de R$ 30 milhões.

Os executivos afirmam que a liquidez já está retomando o curso normal, mas o aperto na captação de recursos - que resultou nos cortes no crédito, redução de prazos de empréstimos e dinheiro mais caro - deu-se, particularmente pelo menor volume de captações de depósitos no mercado interno. No BicBanco, o total de captações caiu 12,3% ante o terceiro trimestre e subiu 27,3% em 12 meses, fechando 2008 em R$ 8,82 bilhões. Os depósitos a prazo caíram 32% no trimestre, a R$ 3,8 bilhões. O Daycoval registrou redução de 17,7% e alta de 9,9% no total captado, para R$ 3,27 bilhões, enquanto os depósitos totais caíram 35,3% e 24,7%, respectivamente, somando R$ 1,75 bilhões ao final do quarto trimestre. "A grande surpresa agora em 2009 e, após o desconforto geral do último trimestre, é a liquidez que mês a mês foi voltando ao normal e hoje já se encontra em níveis anteriores no Daycoval", observa Dayan.

As captações totais do Fibra subiram 30% no comparativo anual, alcançando R$ 6 bilhões ao final de dezembro. O crescimento, explica Brito, resultou de um volume 88,6% maior nas captações externas, que foram a R$ 2,86 bilhões, em um momento em que o mercado externo estava praticamente escasso em recursos. "Temos uma história diferente no exterior, onde buscamos recursos há mais tempo que outros bancos do segmento, e também até por conta da forte penetração internacional do grupo (que controla ainda a siderúrgica CSN)." Em 2008, o banco fez oito captações estruturadas no exterior, somando US$ 538 milhões.

Para este ano, Brito estima um aumento médio de 15% na carteira do Fibra, enquanto acredita que o segmento de bancos brasileiros de médio e pequeno portes teria de crescer no conjunto das operações em 40% para voltar ao final do ano aos patamares de setembro de 2008. "Tudo dependerá do cenário e da liquidez. No atual contexto, isso só será retomado em meados de 2010." Dayan não arrisca uma previsão de crescimento para o estoque do Daycoval, que, diz, deverá voltar a crescer no segundo semestre. "A redução já chegou ao nível desejado." Para Bardini, apesar do ano difícil, a recuperação começará no segundo trimestre. Hoje, diz, o banco está nos mesmo níveis do final de 2008. Para o conjunto do setor, ele acredita em recuperação do crédito a partir da segunda metade do ano. Os bancos têm apetite, diz, é preciso apenas o cenário melhorar. (Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 1)(Iolanda Nascimento)