Título: Vale lucra R$ 10,4 bilhões no trimestre
Autor: Lorenzi,Sabrina
Fonte: Gazeta Mercantil, 20/02/2009, Brasil, p. A4
Rio, 20 de Fevereiro de 2009 - No auge da crise financeira e do balde de água fria sobre as vendas de minério de ferro, a Vale lucrou R$ 10,4 bilhões e gerou receita de R$ 17 bilhões. O resultado do último trimestre de 2008 reflete, entre outros fatores, ganhos com aplicações financeiras e o dólar mais caro, que valoriza o produto da empresa vendido no mercado internacional. O lucro da mineradora em todo o ano passado foi de R$ 21,7 bilhões - teria sido de R$ 29 bilhões não fossem ajustes contábeis.
O resultado da Vale em reais no trimestre superou as mais otimistas projeções. O banco Banif previa lucro entre R$ 4 bilhões e R$ 5 bilhões, mas já apontava que a empresa deveria ter ganhos a mais com receitas financeiras, de aplicações e com o câmbio. No resultado em dólares, pelo padrão USGAP, os resultados ficaram mais em linha com as projeções, pois os efeitos cambiais não pegaram os analistas de surpresa. A Vale lucrou US$ 1,3 bilhão de outubro a dezembro.
"A Vale reagiu de maneira bastante pró-ativa, adaptando suas operações à deterioração do ambiente econômico. Cortes de produção envolvendo a paralização temporária das unidades operacionais de custo mais alto e a implantação de novas prioridades estratégicas são os principais componentes da nossa rápida resposta à recessão global. A minimização de custos, a flexibilidade financeira e operacional e a conciliação da preservação do caixa com a busca por opções de crescimento rentáveis, assumiram importância fundamental no atual cenário", assinala a companhia em documento ao mercado.
No meio do furacão, a Vale aumentou o lucro em 136,9% em relação ao último trimestre do ano passado. Mas o lucro diminuiu comparado ao terceiro trimestre, em 16%. "A partir de outubro de 2008, quando anunciou o corte de 30 milhões de toneladas na produção de minério de ferro e a parada de algumas minas, a empresa precisou lançar mão de alguns mecanismos de ajuste de mão-de-obra para conseguir manter o nível de emprego", cita a empresa.
Foram demitidos 1,3 mil funcionários. Houve remanejamento de 800 empregados, que foram transferidos de unidade ou de função. A empresa deu férias coletivas a 5.500 empregados de Minas e Mato Grosso do Sul. E 390 empregados estão em suspensão temporária do contrato de trabalho e "passando por cursos de qualificação profissional, que duram de dois a três meses". São operadores de mina que estão sendo treinados para ocuparem posições de mecânicos , eletricistas e soldadores. Além disso, a licença remunerada: 125 empregados estão entrando em férias remuneradas em Minas. Pelo acordo firmado com os sindicatos, eles ficarão em casa até 31 de maio de 2009, tendo garantidos os seus empregos e todos os direitos trabalhistas.
As demissões da Vale mesmo com o caixa forte causou reações negativas na sociedade, inclusive do presidente Lula. Para um analista, o resultado das contas tão positivo expôs a companhia a um clima constrangedor. "Depois desse balanço, ela vai ficar mal na foto", comenta. Outro especialista, porém, rebate: "Se você tiver uma empregada doméstica que não terá trabalho para fazer, você vai mantê-la simplesmente porque ela é boazinha? Ninguém é pago para não fazer nada."
A receita da Vale no quatro trimestre foi de R$ 17,946 bilhões, superando em 15,6% os R$ 15,521 bilhões alcançados no quatro trimestre de 2007, e 16% abaixo dos R$ 21,387 bilhões do trimestre anterior. "A queda de R$ 3,441 bilhões na comparação com o trimestre anterior reflete basicamente: redução no volume de vendas em vários segmentos, menores preços de vendas no segmento de minerais não ferrosos, contribuindo para reduzir a receita em R$ 2,828 bilhões; e a depreciação do real frente ao dólar, colaborando para um aumento da receita em R$ 4,713 bilhões.
No quarto trimestre, o Ebtida alcançou R$ 6,559 bilhões, 42,2% abaixo do montante registrado no trimestre anterior, de R$ 11,352 bilhões. A distribuição da geração de caixa por área de negócio em 2008 foi: minerais ferrosos com 71,6%, minerais não-ferrosos com 24,2% logística com 4,2% e siderurgia 0,1%, descontando os gastos com pesquisa e desenvolvimento, que representaram 0,1%.
Perspectivas positivas
Para a Vale, o anúncio de um "considerável programa de gastos públicos na China, de RMB 4 trilhões ( R$ 1,4 trilhão ), concentrado na área de infraestrutura, e uma forte recuperação do ritmo de expansão dos empréstimos bancários estão estimulando o nível da capacidade utilizada da indústria a se elevar novamente" o relatório ao mercado lembra que nos últimos dez anos, a produção de aço chinesa cresceu 4,4 vezes, passando de 114,6 milhões de toneladas métricas (Mt) para 502 Mt.
No ano, a Vale teria lucrado cerca de R$ 29 bilhões, não fossem os descontos que as novas normas contábeis exigiram. A desvalorização de ativos no exterior e o ágio que a Vale pagou para ficar com a canadense Inco diminuíram, sobretudo após a crise. E a desvalorização teve de ser descontada. No ano, a Vale obteve receita bruta de R$ 72,766 bilhões, a mais elevada da história e 9,6% acima do valor de 2007. As exportações da Vale a partir do Brasil foram de US$17,606 bilhões e a margem Ebit atingiu 42,3%, ante 45,3% em 2007. Os produtos mais importantes em termos de geração de receita em 2008 foram: minério de ferro (R$ 31,1 bilhões), níquel (R$ 10,6 bilhões), pelotas (R$ 9,8 bilhões), transporte ferroviário de carga geral para terceiros (R$ 3,7 bilhões) e cobre (R$ 3,6 bilhões), alumínio (R$2,8 bilhões) e alumina (R$ 2,7bilhões).
(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 4)(Sabrina Lorenzi)