Título: Indústria em debate
Autor: Ribas, Sílvio
Fonte: Correio Braziliense, 22/03/2011, Economia, p. 13

Representantes do setor privado discutem hoje a portas fechadas, na sede paulista da Confederação Nacional da Indústria (CNI), propostas a serem implementadas pela nova Política de Desenvolvimento Produtivo, em elaboração pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic) e batizada de PDP2. Especialistas ouvidos pelo Correio acreditam, contudo, que o pacote deverá socorrer menos a indústria que ações exigidas de outras pastas.

Para eles, o principal papel do ministro Fernando Pimentel, titular do Mdic, será o de articular concessões da equipe econômica (Fazenda, Banco Central e Planejamento) às demandas de exportadores e empresas que sofrem maior concorrência externa. Conforme sinais emitidos até agora por secretários do Mdic, o PDP2, que deverá ser anunciado no fim do semestre, dará prioridade à inovação e ao controle de importações desleais.

Alcides Leite, consultor e professor de economia da Trevisan Escola de Negócios, avalia que o PDP2 parece ¿superficial, pontual e sem conteúdo estratégico¿. O ideal seria o Mdic traçar um ¿plano consistente, com metas de curto, médio e longo prazos em favor da indústria¿, completa. E esse esforço envolveria corte de alíquotas de tributos, sem precisar de chancela do Congresso e sem riscos de queda na arrecadação. A burocracia para exportar é um capítulo à parte. A movimentação em portos, por exemplo, ainda precisa da emissão de documentos de 14 ministérios.

Para Mauro Zilbovicius, professor de gestão industrial da Fundação Vanzolini, o maior desafio do Brasil é inverter a perigosa tendência de invasão de importados com valor crescente enquanto decai o percentual de manufaturados nas exportações. Mais incisivo, Manoel Canosa Miguez, diretor da Comissão de Defesa da Indústria Brasileira (CDIB), acha que mais relevante seria a Casa Civil coordenar uma série de medidas, começando pela aplicação de regras antidumping a diversos países da Ásia que atuam de forma coordenada com a China para driblar cotas de importação.

Já Juan Quirós, diretor da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), defende a redução do custo trabalhista e a ampliação do acesso ao crédito. (SR)