Título: Sem avanços concretos
Autor: Ribas, Sílvio
Fonte: Correio Braziliense, 22/03/2011, Economia, p. 13

Acordos assinados frustram expectativas. Para a CNI, único passo à frente é a abertura do diálogo

Apesar da assinatura de 10 acordos no fim de semana, a rápida passagem pelo Brasil do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, ainda não trouxe avanços concretos na superação de velhas pendências no comércio bilateral. Para a Confederação Nacional da Indústria (CNI), o maior significado da visita está na abertura do diálogo, destacando a criação de uma comissão conjunta para acompanhar os contenciosos.

A Comissão Brasil¿Estados Unidos para Relações Econômicas e Comerciais, um dos acordos firmados entre os dois países no sábado, já tem sobre a mesa temas conhecidos dos empresários. ¿Esperamos que este acordo permita, de forma acertada e firme, solucionar questões como a bitributação e as barreiras técnicas e sanitárias no comércio¿, comentou Robson Braga de Andrade, presidente da CNI.

Em 2004, a balança comercial entre os dois países gerou superavit de US$ 8 bilhões ao Brasil. Ano passado, contudo, o resultado se inverteu para deficit de quase o mesmo valor. A expectativa é de que o saldo negativo piore este ano, chegando a US$ 10 bilhões. A diferença dos volumes e do perfil dos produtos exportados, com predominância de matérias-primas no lado brasileiro, explica a virada.

Analistas ressaltam que, embora o presidente do EUA tenha mostrado boa vontade, a política comercial norte-americana é decidida basicamente pelo Legislativo, hoje dominado pela oposição. Os congressistas de lá também não têm dado sinais de flexibilidade em relação à concessão de subsídios agrícolas. Para a consultoria Rosenberg & Associados, a viagem do presidente dos EUA ¿consagra importância brasileira, mas deixa de lado questões concretas¿.

Equilíbrio Obama também destacou o interesse em aproveitar o crescimento brasileiro para ajudar a economia norte-americana. No discurso para cerca de 400 empresários brasileiros e norte-americanos, durante a cúpula organizada pela CNI, o conselho empresarial bilateral e a Câmara Americana de Comércio (Amcham), ele afirmou que ¿a possibilidade de vender mais produtos e serviços para um mercado que cresce como o Brasil significa criar empregos nos EUA¿. Ele calculou que, para cada US$ 1 bilhão de exportações de produtos norte-americanos, são criados 5 mil empregos em seu país.

Após se reunir a portas fechadas ontem, por meia hora, com Gary Locke, secretário norte-americano de Comércio, o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, afirmou que os EUA estão dispostos a rever as barreiras à entrada de produtos brasileiros no maior mercado do mundo. ¿O secretário admite ser preciso buscar mais equilíbrio nas relações comerciais e que há a necessidade de avaliações específicas, como no caso do etanol¿, disse.

A reunião com Locke contou também com a presença de Fred Hochberg, presidente do Eximbank, o banco norte-americano de fomento a importações e exportações. Com ele foi avaliada a disponibilidade de linha de financiamento de US$ 1 bilhão para projetos de infraestrutura voltados para a Copa do Mundo (2014) e as Olimpíadas (2016) no Brasil. A iniciativa, segundo Skaf, faz parte do desejo dos EUA em ampliar as exportações para o país. Eles também discutiram a retomada da Rodada Doha e a renovação do Sistema Geral de Preferências (SGP), considerado essencial por empresários.