Título: Crise provoca corte de 101,7 mil postos formais em janeiro
Autor: Aliski,Ayr
Fonte: Gazeta Mercantil, 20/02/2009, Brasil, p. A9

Brasília, 20 de Fevereiro de 2009 - A crise econômica eliminou mais 101.748 empregos formais do Brasil em janeiro de 2009. Este foi o pior resultado apurado para o mês registrado em toda série história do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho. Antes disso, o pior janeiro havia sido o de 1998, quando foram perdidas 85 mil vagas. Em igual período no ano passado, quando a economia mundial seguia em crescimento, o Caged registrou a criação de cerca de 143 mil vagas. Os dados foram divulgados ontem pelo ministro do Trabalho e Emprego, Carlos Lupi e representam uma retração de 0,32% sobre o estoque de empregos de dezembro.

O resultado negativo do mês passado corresponde ao saldo entre o fluxo de 1,216 milhão de admissões e 1,318 milhão de demissões. Isoladamente, o número de admissões é o segundo melhor da série histórica, perdendo apenas para janeiro do ano passado, quando as contrações atingiram a marca de 1,308 milhão. E foi sobre esse grande número de admissões que o ministro do Trabalho estruturou a tese de que o pior da crise já passou. "A diferença é que houve aumento maior dos desligamentos do que das admissões", comentou Lupi.

Apesar do grande volume de admissões, a quantidade de demissões foi ainda maior e representou recorde. O Caged acumula três meses consecutivos de saldos negativos na geração de empregos: queda de 41 mil vagas em novembro, 655 mil vagas em dezembro e mais 102 mil vagas em janeiro. Ou seja, a crise já fez evaporar 798 mil postos de trabalho formais. A perda de vagas é expressiva mas o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) prefere enfatizar o cálculo de que nos últimos 12 meses há um acúmulo de geração de 1,2 milhão de empregos formais. "A perda de 102 mil empregos não é boa para o País, mas há sinais inequívocos de melhora. Nenhum país contrata no meio da crise", disse o ministro.

Os sinais de recuperação, destacou Lupi, referem-se ao crescimento em janeiro na geração de emprego na área da construção civil (novos 11.324 postos de trabalho), serviços (2.452 empregos), administração pública (2.234 postos) e serviços industriais de utilidade pública (713 empregos). Por outro lado, a indústria de transformação perdeu 55 mil postos de trabalho, o comércio cortou quase 51 mil empregos e o setor agrícola acabou com outros 12 mil postos. O ministro destacou também que oito estados apresentaram saldo positivo na geração de emprego: Santa Catarina, Mato Grosso, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, Goiás, Paraná, Rondônia e Roraima. Em sentido inverso, o maior empregador do País, São Paulo, cortou 38,6 mil empregos no mês passado.

O ministro do Trabalho acredita que fevereiro será "fraco, talvez positivo", com crescimento do emprego nas áreas de construção civil e serviços em todo o Brasil, e também na agricultura do Sul e Centro-Oeste, devido ao avanço da nova safra. Para a indústria, há expectativa de que sejam reduzidos os ritmos das demissões, considerando principalmente a reação de produção do setor automotivo. Segmentos da indústria que foram beneficiados com a alta do dólar já estão reagindo, como a indústria de calçados, que gerou um saldo positivo de 880 novos postos de trabalho em janeiro. Borracha, fumo e couros geraram 176 novos empregos no mês passado, depois de cinco meses de queda. Lupi disse manter projeção de que o Brasil gerará 1,5 milhão de empregos este ano. Disse que só fará revisão da projeção depois de março.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 9)(Ayr Aliski)