Título: BB lucra R$ 8,8 bilhões, 74% mais
Autor: Nascimento,Iolanda
Fonte: Gazeta Mercantil, 20/02/2009, Finanças, p. B1

São Paulo, 20 de Fevereiro de 2009 - Os resultados do Banco do Brasil (BB) divulgados ontem mostram o verdadeiro formato das tais oportunidades que, como afirmam alguns, os momentos de crise podem ocasionar. O BB registrou lucro histórico de R$ 8,8 bilhões, o maior crescimento na carteira de crédito desde 2000 e os seus depósitos a prazo subiram mais de 75% em 12 meses (R$ 149,8 bilhões), retrato da fuga dos investidores em tempos de crise para as instituições "consideradas mais seguras". Os ativos totais da instituição foram a R$ 521,3 bilhões no fechamento de 2008, alta de 42% em um ano e de 13,8% no trimestre, o que o deixa mais próximo de voltar à liderança do ranking brasileiro nesse quesito, posição que perdeu após a fusão do Itaú Unibanco, em novembro último.

Conforme projeções do BB, ao consolidar as compras realizadas nos últimos quatro meses - o controle do Banco Nossa Caixa e em torno de 50% do Banco Votorantim -, o que deve ocorrer ainda este ano, seus ativos sobem 18,1%, para R$ 615,6 bilhões, considerando os dados de setembro dos bancos adquiridos. A definição pelo primeiro lugar está na dependência da divulgação dos números de 2008 de Itaú Unibanco - cujos ativos somavam R$ 575 bilhões em setembro - nas próximas semanas.

A instituição controlada pelo Estado finalizou 2008 com lucro líquido recorde R$ 8,8 bilhões, evolução de 74% sobre o exercício anterior, em grande parte influenciada pelo aumento de 39,9% das operações de crédito. Pesquisa da Economatica indica que é o terceiro maior lucro registrado no sistema financeiro nacional, sendo os R$ 8,97 bilhões do Banco Itaú Holding Financeira e os R$ 8,48 bilhões do Bradesco, obtidos em 2007 e ajustados pelo IPCA, os maiores, respectivamente. No quarto trimestre, os ganhos de R$ 2,94 bilhões do BB subiram 142% comparativamente a igual fase de 2007 e 57,7% ante o terceiro trimestre do ano passado. Os resultados consideram inúmeros efeitos extraordinários negativos e positivos, mas o presidente do BB, Antônio Francisco Lima Neto, observou que o histórico de lucro recorrente (sem eventos extras) do banco é consistente e crescente e em 2008 também teria sido recorde.

O quarto trimestre foi marcado por efeitos não recorrentes. Entre os principais, estão os R$ 5,32 bilhões positivos oriundos de reconhecimento com ganhos atuariais da Previ (Caixa e Previdência dos Funcionários do BB), provisões adicionais de R$ 1,59 bilhão contra crédito de liquidação duvidosa e um reconhecimento de perdas atuariais de R$ 1,25 bilhão - despesas com planos de saúde dos aposentados do BB, que seriam abatidas em 15 anos, sendo R$ 80 milhões anuais, e que foram lançadas integralmente.

"Aproveitamos um ano de lucros bons para lançar despesas, livrando os balanços futuros, e também para elevar provisões contra um eventual aumento da inadimplência", explicou vice-presidente do BB, Aldo Mendes. Sem os efeitos, o lucro ficou em R$ 6,7 bilhões em 2008, alta de 13,7%. No último trimestre, somou R$ 1,6 bilhão, 26,1% superior ao de igual período de 2007, mas 20,2% menor ante o terceiro trimestre. Em 2008, o Bradesco apresentou queda de 4,9% no lucro líquido no comparativo anual, para R$ 7,62 bilhões.

A curva de crédito, como ressaltou Lima Neto, foi excepcional. O estoque total - incluindo operações externas, internas, prestação e garantias - subiu 11% no trimestre e 41,9% em um ano, alcançando R$ 237,2 bilhões em dezembro. Sem avais, a carteira subiu 11,2% e 39,9%, respectivamente, para R$ 224,8 bilhões. A estimativa do presidente do BB para o crescimento do saldo neste ano é de 17%, alimentado por uma expectativa de alta entre 20% e 25% da carteira de pessoa física, de 15% a 20% em pessoa jurídica e de 10% no financiamento ao agronegócio. Para o mercado brasileiro, Lima Neto estima avanço entre 15% e 20% e diz que o BB tem fôlego para crescer mais que os 17%. Para elaborar as projeções, o BB considera aumento de 2% no Produto Interno Bruto (PIB), uma taxa Selic em 10,50% ao final do ano e IPCA em torno de 4,5%.

O estoque de crédito para as empresas subiu 13,9% no trimestre e 48,4% em um ano, para R$ 97,2 bilhões em dezembro. As micro e pequenas empresas responderam por R$ 34,9 bilhões do total, com alta de 9% e 41,7% na mesma base de comparação. Já as médias e grandes tiveram saldo de R$ 62,3 bilhões, avanço de 16,8% e 52,4%. O crédito para pessoa física tingiu R$ 48,8 bilhões, superior em 12,4% e 52,5%, respectivamente, com destaque para o financiamento de veículos (R$ 6,7 bilhões e alta de 19,4% e 120,7%), cartão de crédito (R$ 7,6 bilhões e alta 15,6% e 99,6%) e consignado (R$ 17,6 bilhões e alta de 21,2% e 48,4%). No total, o BB investiu R$ 14 bilhões na compra de carteiras de crédito em 2008, sendo que parte desses compromissos será rolado neste ano também.

Carteira imobiliária

No financiamento imobiliário, segmento que começou a disputar no ano passado, a carteira atingiu R$ 100 milhões e a expectativa de Lima Neto é atingir R$ 1 bilhão este ano, já que agora o BB pode utilizar 10% dos recursos de poupança para essa modalidade de crédito. O banco tem ainda uma linha de R$ 1 bilhão de recursos do FGTS para explorar o segmento e, como também deseja o governo, vai dar ênfase para a baixa renda, aproveitando sua base de 18 milhões de clientes com renda de até três salários mínimos.

A carteira de crédito do agronegócio encerrou dezembro em R$ 18,5 bilhões, evoluindo 3,3% em relação a setembro e R$ 57,7% em 12 meses. As operações de comércio exterior totalizaram R$ 15,1 bilhões, alta de 17,2% e 32,9%. Lima Neto disse que, apesar das provisões extras, a inadimplência está sob controle, tendo caído de 2,7% sobre o total das operações em 2007 para 2,4% no ano passado.

Um dos destaques foi a evolução das captações totais do BB, que subiram 12% em tempos de crise, de R$ 300,8 bilhões em setembro para R$ 337 bilhões em dezembro. Os depósitos totais saíram de R$ 215,7 bilhões para R$ 246,03 bilhões.

(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 1)(Iolanda Nascimento)