Título: Embraer demite 20% de seu efetivo
Autor: Ottoboni,Júlio
Fonte: Gazeta Mercantil, 20/02/2009, Empresas, p. C1

São José dos Campos (SP), 20 de Fevereiro de 2009 - A Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer) iniciou ontem oficialmente a maior dispensa de sua história. A empresa demitirá 20% de seu efetivo, depois de seu presidente, Frederico Fleury Curado, ter negado veementemente desde dezembro último que não recorreria a demissões. A informação foi antecipada pela Gazeta Mercantil em sua edição de 11 de dezembro, quando revelou que a Embraer articulava a demissão de 4 mil empregados em conseqüência da crise internacional.

O número de demitidos alcançará a 4.273 empregados, a maioria de sua sede, em São José dos Campos (SP). Esse é o maior número de demissões da história da Embraer. A empresa terminou o ano de 2008 com um efetivo de 23.509 funcionários em todo grupo, que reúne instalações na China, Portugal, Cingapura, França e Estados Unidos.

Inicialmente, a multinacional brasileira pretendia promover as dispensas até o final de janeiro, mas com o vazamento das informações para a imprensa houve uma grande pressão por parte da sociedade, de sindicatos e do governo federal para se evitar o processo, que acabou transferido para o início da segunda quinzena de fevereiro.

"As reduções representam cerca de 20% do efetivo de 21.362 empregados da empresa e se concentram na mão-de-obra operacional, administrativa e lideranças, incluindo a eliminação de um nível hierárquico de sua estrutura gerencial. A expressiva maioria da mão-de-obra de engenharia mantém-se engajada nos programas de desenvolvimento de novos produtos e tecnologias, que prosseguem inalterados", informou a Embraer em comunicado oficial.

A Embraer efetuará demissões somente no Brasil, preservando os empregados das subsidiárias na China e em Portugal. Inclusive, há duas semanas a direção da multinacional brasileira deu garantias ao governo português que manterá seus investimentos no complexo industrial a ser criado na cidade de Évora.

Os contratos de investimento firmados com a Embraer, aprovados pelo governo português em setembro de 2008, estão avaliados em ¿ 170 milhões e projetam a criação inicial de 570 postos de trabalho. O prefeito de Évora, José Ernesto Oliveira, foi contatado pela direção da companhia que lhe assegurou ser o projeto em Portugal "estratégico" e que estaria "protegido contra a crise econômica" , conforme informou à Agência de Notícias Lusa.

Segundo o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, Adilson dos Santos, a entidade não recebeu qualquer informação da Embraer, contrariando acordo com a Procuradoria do Trabalho. Para Santos, a empresa tenta esconder os números reais das demissões, pois já se teria dispensado cerca de 700 empregados entre o final de 2007 até a última semana de janeiro deste ano. Isto elevaria as demissões para a casa dos 5 mil funcionários.

"O sindicato vem desde o final de 2008 pedindo esclarecimentos à empresa, que sempre disse que não demitiria ninguém e agora sequer fomos notificados oficialmente desta demissão em massa. O clima agora é de desespero por parte dos trabalhadores, muitos deles estão para se aposentar", disse o sindicalista.

O BNDES teria contatado o órgão sindical nos últimos dias atendendo uma solicitação para discutir a situação da empresa aeronáutica. Segundo a entidade de classe, desde sua privatização, a Embraer já recebeu mais de US$ 7 bilhões do BNDES em financiamentos e havia alternativas para se evitar esse volume de dispensas.

A folha de pagamento da Embraer até o momento era de R$ 1,6 bilhão anuais, gastos no pagamento de 13 salários. Isto representava um custo com pessoal de R$ 123 milhões mensais, o que equivale ao valor de mercado de quase dois jatos 190, comercializado a US$ 33 milhões.

O prefeito de São José dos Campos, Eduardo Cury, recebeu ontem os dirigentes sindicais para uma reunião na tentativa de minimizar os efeitos da crise social e econômica estabelecida no pólo aeronáutico da cidade. Ele foi informado nesta semana pelos diretores da companhia que haveria o corte de pessoal e agora estuda ações para minimizar o problema.

Cury determinou um esforço concentrado das secretarias de Desenvolvimento Econômico e da Ciência e da Tecnologia, de Relações do Trabalho e da Assessoria de Projetos Estratégicos para elaborarem um plano de ação imediata de apoio aos trabalhadores.

Encomendas da Azul

A Azul Linhas Aéreas, primeiro operador brasileiro a encomendar os produtos da Embraer, tem contratado 36 pedidos firmes e mais 40 opções para as aeronaves da família E-Jets 190/195. O contrato foi firmado no primeiro semestre do ano passado e soma US$ 1,4 bilhão em pedidos firmes, mas pode chegar a até US$ 3 bilhões num total de 76 aviões. As primeiras entregas para a Azul começaram em dezembro último e a companhia aérea já sinalizou que pode levar mais duas ou quatro aeronaves. Mesmo assim a carteira de pedidos firmes da Embraer encolheu. Caiu de US$ 21,6 bilhões em setembro passado para US$ 20,9 bilhões em 2008.

Colaboraram Marcello D¿Angelo

e Karla Sarquis(Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 1)(Júlio Ottoboni)