Título: Déficit em transações correntes cai 31,6% em janeiro de 2009
Autor: Aliski,Ayr
Fonte: Gazeta Mercantil, 25/02/2009, Brasil, p. A6

Brasília, 25 de Fevereiro de 2009 - O Brasil começou 2009 com um déficit em transações correntes de US$ 2,753 bilhões, o que representa uma retração de 31,65% na comparação com o déficit de US$ 4,028 bilhões registrado em janeiro de 2008. O que mostra que apesar da crise econômica mundial, houve uma melhora do perfil das contas externas. Para o ano todo o BC projeta um déficit em transações correntes de US$ 25 bilhões, frente US$ 28,3 bilhões, no ano passado. Para fevereiro o Banco Central projeta déficit em transações correntes de US$ 1 bilhão, contra US$ 1,8 bilhão de fevereiro de 2008.

"A despeito de uma piora do resultado comercial, a melhora na remessa de lucros, dividendos e serviços foi tão expressiva que permitiu a redução superior a US$ 1 bilhão quando se compara janeiro de 2009 com janeiro de 2008", disse o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes, em referência a atualmente o Brasil ser credor em moeda estrangeira.

Influenciados pela queda da lucratividade, as remessas de lucros e dividendos de janeiro atingiram US$ 698 milhões no mês passado, comparados a US$ 3 bilhões de janeiro de 2008. É o mais baixo volume de remessa de lucros desde setembro de 2005, quando atingiu US$ 644 milhões. Segundo Lopes, isso ocorre porque o passivo externo brasileiro é composto de investimentos. "E investimentos só se remunera quando a atividade permite", destaca. Ou seja, em momento de retração da economia, não há folgas para remeter recursos para o Exterior. Em fevereiro, as remessas de lucros atingiram US$ 665 milhões, conforme parcial até o dia 20. Para todo o ano de 2009 essas remessas devem atingir US$ 20 bilhões, frente US$ 33 bilhões, no ano passado.

Há uma acomodação nos gastos com transportes e viagens internacionais, em um reflexo da retração da economia e da desvalorização cambial. O saldo da conta de viagens internacionais ficou negativo US$ 251 milhões em janeiro, frente US$ 380 milhões, em igual período do ano passado. Até 20 de fevereiro, a conta de viagens internacionais apresenta déficit de US$ 101 milhões. Para todo 2009, o BC projeta gastos de US$ 1,5 bilhão na conta de viagens internacionais, contra US$ 5,1 bilhões, no ano passado. A lógica é que o nível de atividade está mais baixo, gerando menos renda, e com isso as pessoas viajam menos, seja do Exterior para o Brasil ou em sentido inverso. As viagens internacionais dos brasileiros têm, ainda, a limitação imposta pelo dólar mais caro.

A crise internacional mostrou seus reflexos também no volume de Investimentos Estrangeiros Diretos (IED) de janeiro, que atingiu US$ 1,933 bilhão, abaixo dos US$ 2,5 bilhões que haviam sido projetados em meados do mês passado pelo BC. Lopes explicou que o resultado do IED foi impactado negativamente devido a uma operação do setor de telefonia que provou a saída de US$ 600 milhões. O resultado do mês passado foi 44,4% menor que os US$ 3,478 bilhões de IED de 2008. Para o ano, o BC contempla IED de US$ 30 bilhões, frente US$ 45 bilhões do ano passado.

A divulgação dos dados das contas externas de janeiro traz também boas notícias, como a melhora nos índices de taxas de rolagem. O pior momento foi novembro, quando somente 22% dos créditos em vencimento conseguiam ser recontratados. O índice subiu para 47% em dezembro, atingiu 50% em janeiro e em fevereiro chegou a 92%, conforme resultado parcial até o dia 20. A média diária das contratações de Adiantamento de Contratos de Câmbio (ACCs) já atingiu US$ 151 milhões em fevereiro (na parcial até o dia 18), frente US$ 114 milhões em janeiro e US$ 147 milhões em dezembro. Em valores totais, houve um volume de contratação de US$ 2,392 bilhões em ACCs no mês de janeiro, frente 3,341 bilhões em janeiro do ano passado. Na parcial até 18 de fevereiro, a contratação de ACCs soma US$ 1,963 bilhão.

Em reversão à tendência dos últimos meses, fevereiro registrou, até o dia 20, o ingresso de US$ 452 milhões de capital estrangeiro no mercado de ações; embora no mesmo período tenha sido registrada saída de US$ 1,122 bilhão do mercado de renda fixa. Em janeiro, o mercado de ações perdeu US$ 542 milhões dos investidores externos e o segmento de renda fixa registrou fuga de mais US$ 1,629 bilhão. A dívida externa total caiu de US$ 200,2 bilhões, em janeiro, para US$ 199,5 bilhões, em fevereiro.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 6)(Ayr Aliski)