Título: Lula aceita explicações da empresa para cortes
Autor: Bompan,Fernanda
Fonte: Gazeta Mercantil, 26/02/2009, Brasil, p. A8

Brasília, 26 de Fevereiro de 2009 - O recado do governo foi de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ficou consternado ao saber dos detalhes que levaram a Embraer a demitir 4,2 mil empregados, mas que nada pode fazer para reverter as dispensas que foram antecipadas pela Gazeta Mercantil no dia 11 de dezembro do ano passado.

O presidente Lula abriu a reunião de ontem no Palácio do Planalto para tratar do assunto, pedindo que a empresa esclarecesse os motivos das demissões. O presidente da Embraer, Frederico Fleury Curado, atribuiu o corte ao arrefecimento da demanda internacional. Disse que a previsão de receita da empresa este ano era de US$ 6,5 bilhões, mas caiu 15,3% para US$ 5,5 bilhões. E as encomendas e entregas de aviões recuaram 30% deste ano até 2012. Segundo ele, a previsão de produção caiu de 270 aeronaves este ano para 242. Ainda assim, o volume fica acima dos 204 aviões fabricados no ano passado.

Curado garantiu que não haverá mais demissões. E assegurou que a empresa não foi irresponsável quando decidiu reduzir em 20% o seu pessoal. Ele disse que não seria possível conceder férias coletivas aos demitidos porque não há previsão de a demanda internacional se recuperar no curto prazo. "Não seria possível dar férias coletivas quando não se tem visão de curto prazo; a demanda só vai se recuperar daqui a dois ou três anos", disse aos jornalistas depois da reunião com o presidente e ministros que durou mais de duas horas.

O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, afirmou ter lido a matéria da Gazeta Mercantil há três meses, mas disse que a Embraer não confirmou a informação.

Ainda assim, Miguel Jorge disse que o presidente Lula não sabia com antecedência sobre as demissões da Embraer. De acordo com ele, embora a União tenha participação no capital da empresa, com direito a veto por ter a ação especial golden share, a única intervenção do governo, neste caso, se dá na hora da venda da empresa, nada pode ser feito em caso de demissões.

Ao atribuir as demissões da Embraer à redução da demanda mundial por aviões, o presidente da Embraer disse que a crise não está na empresa e nem no Brasil. "O problema é do mercado mundial. Mais de 90% da receita da Embraer vem do mercado externo", disse Curado, ao explicar que essa foi a explicação passada ao presidente Lula.

Diante desse cenário, o presidente Lula não pediu para a empresa, privatizada em dezembro de 1994, recontratar os funcionários, disse Miguel Jorge.

Curado afirmou que a empresa voltará a contratar apenas quando o mercado internacional se recuperar. Porém, Lula pediu que Curado estude medidas adicionais de apoio aos demitidos. Por enquanto, o presidente da Embraer garantiu o pagamento do plano de apoio aos ex-funcionários e concedeu o pagamento de plano de saúde aos demitidos e seus dependente durante um ano. Curado lembrou que essa não é a primeira vez que a empresa demite. "Em setembro de 2001 a empresa havia dispensado 15% dos funcionários. E vamos recontratar tão logo volte a demanda do mercado externo", prometeu.

Também participaram da reunião, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, além do presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, e três executivos da Embraer: Mauricio Botelho, presidente do Conselho Administrativo; Luiz Carlos Siqueira Aguiar, vice-presidente Financeiro e Horacio Forjaz, vice-presidente de Assuntos Corporativos.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 8)(Viviane Monteiro)