Título: Itaú Unibanco lucra R$ 10 bilhões
Autor: Nascimento,Iolanda
Fonte: Gazeta Mercantil, 26/02/2009, Finanças, p. B1

São Paulo, 26 de Fevereiro de 2009 - O Itaú Unibanco Banco Múltiplo - maior instituição financeira da América Latina criada a partir da fusão das operações do Banco Itaú Holding Financeira e do Unibanco, em novembro do ano passado - registrou um lucro líquido de R$ 10 bilhões em 2008, uma retração de 16,1% comparativamente aos R$ 11,92 bilhões apurados no ano anterior. Apesar da redução, os ganhos são os maiores já obtidos por uma instituição bancária brasileira e superam os verificados pelo Banco do Brasil (R$ 8,8 bilhões) e Bradesco (R$ 7,62 bilhões), seus concorrentes mais próximos. A queda decorreu, particularmente, da maior incidência de eventos extraordinários positivos em 2007, quando a instituição contabilizou, por exemplo, ganhos de R$ 2,14 bilhões com vendas de participações em empresas, como a Redecard, Serasa e BM&F Bovespa.

Em 2008, o Itaú Unibanco totalizou um efeito negativo superior a R$ 1 bilhão com a amortização do ágio decorrente da negociação entre os bancos, que foi praticamente neutralizado por receitas extraordinárias equivalentes, disse ontem Roberto Setubal, presidente-executivo do banco, durante a divulgação dos resultados da instituição, acrescentando que todo o ágio já foi abatido. Setubal explicou que os números são pro forma, isto é, consideram os resultados dos bancos conjuntamente nos dois anos, como se já estivessem integrados.

No total, os efeitos não recorrentes negativos somaram R$ 567 milhões em 2008, oriundos em especial de despesas com a integração das operações e com provisões adicionais para crédito de liquidação duvidosa. O banqueiro informou que a instituição fez provisões adicionais contra a inadimplência de R$ 4,7 bilhões no ano passado, quando totalizou R$ 9,72 bilhões em provisões, 38,5% acima do exercício anterior. Se não forem considerados os efeitos extraordinários, o lucro líquido pro forma sobe 8,1% no comparativo anual. No quarto trimestre, sem eventos, o lucro cai 6,6%, para R$ 2,33 bilhões em 2008. Com efeitos, a redução é mais acentuada, de 34,5%, para R$ 1,87 bilhão, impactado, principalmente, pelas provisões contra a inadimplência, que foram a R$ 2,97 bilhões no período, alta de 70,5% em relação a intervalo idêntico de 2007.

Setubal considera que a crise financeira mundial desacelerará o crescimento da atividade econômica brasileira, afetando o nível de emprego, o que levará a uma deterioração do atual patamar de inadimplência. O cenário indica que o Brasil está muito próximo de ultrapassar seu pico histórico de inadimplência (de 8,4% sobre a carteira de pessoa física em maio de 2002), o que ocorrerá ainda este ano, avalia. Em dezembro, conforme dados do Banco Central (BC), o índice de inadimplência de pessoa física no País ficou em 8,1%, mesmo percentual registrado pelo Itaú Unibanco ao final de 2008. Na média das carteiras, a inadimplência do banco subiu de 4,6% em setembro para 4,8% em dezembro, mas ainda é menor que os 5,1% do último mês de 2007.

Entre os destaques do balanço do Itaú Unibanco estão os expressivos crescimento da carteira de crédito, que puxou os ganhos do banco, das captações de recursos e dos ativos totais. O Itaú Unibanco encerrou dezembro com R$ 600,38 bilhões em recursos captados, sendo R$ 118,9 bilhões em depósitos a prazo. A expansão foi de 17,6% e 206,2%, respectivamente.

As operações de crédito cresceram 6,7% ante o terceiro trimestre e 34% em 12 meses, alcançando R$ 271,93 bilhões, o que ajudou a impulsionar em 42,4% em um ano os ativos totais do conglomerado, que somaram R$ 632,72 bilhões no encerramento de 2008. Com seu apetite por incorporações e aquisições, o Banco do Brasil, contudo, está muito próximo de retomar a liderança do mercado brasileiro em ativos, posição perdida após a fusão de Itaú e Unibanco.

Hoje, o Banco Nossa Caixa, adquirido pelo BB no final do ano passado, divulga seus resultados de 2008, mas considerando-se os seus números até setembro, mais 50% do Banco Votorantim, comprado este ano, e as incorporações em curso do Banco do Estado do Espírito Santo (Banestes) e do Banco de Brasília (BRB) - a partir de dados, do primeiro semestre de 2008, os últimos disponíveis desses dois últimos bancos -, o BB já soma cerca de R$ 624,7 bilhões em ativos, aproximadamente R$ 8 bilhões menos que Itaú Unibanco.

O aumento do volume de recursos emprestados às empresas foi determinante para o desempenho da instituição no crédito. Com estoque de R$ 153,46 bilhões ao final de dezembro, a expansão na carteira de pessoa jurídica foi de 41,9% em um ano. O saldo das grandes empresas somou R$ 100,84 bilhões, com alta de 41,2% na mesma base de comparação. A carteira de micro, pequenas e médias empresas evoluiu 43,2%, para R$ 52,61 bilhões.

Setubal afirmou que o banco continua este ano com o seu plano de avançar no crédito para as pequenas e médias empresas, segmento que entrou no foco em 2008 e carteira que poderá puxar o crescimento de 15% que o executivo estima para o estoque total neste ano. A menor expansão deve-se, afirmou, à retração da demanda verificada a partir do acirramento da crise e também de uma política de maior seletividade do banco nas concessões de empréstimos.A carteira de pessoas físicas totalizou R$ 93,17 bilhões em 2008, uma elevação de 24,3% em 12 meses. O estoque de veículos, com alta de 35,8%, somou R$ 47,85 bilhões; o de cartão de crédito, com alta de 19,4%, fechou o ano em R$ 23,63 bilhões; e o crédito pessoal, evolução mais tímida de 8,8%, foi a R$ 21,68 bilhões em dezembro.

As operações da financeira do Itaú, a Taií, serão integradas à Fininvest, braço financeiro do Unibanco, e a marca Taií vai deixar de existir, disse Setubal, observando que não havia razão para a manutenção de duas marcas em apenas um segmento de negócio. "Vai prevalecer a Fininvest porque ela tem mais tradição no segmento." O executivo afirmou que a consolidação dessas unidades não vai gerar mais demissões e fechamento de lojas. No final do ano passado, o Itaú fechou 10% da rede Taií, o que ocasionou demissões que chegaram a cerca de 300 profissionais somente no Rio de Janeiro, segundo o sindicato local. Conforme Setubal, a fusão não deverá gerar demissões em massa no conglomerado, que aproveitará as saídas normais de pessoas, em torno de 10 mil por ano, para ajustar os quadros.

Ver também pág. B3

(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 1)(Iolanda Nascimento)