Título: Juro americano favorece emergentes
Autor: Alessandra Bellotto
Fonte: Gazeta Mercantil, 22/09/2004, Finanças & Mercados, p. B-1

Fed sinaliza continuidade do gradualismo e abre espaço para melhora dos ativos brasileiros. Amplamente esperada, a decisão do Federal Reserve (Fed, banco central americano) - que elevou o juro básico do país em 0,25 ponto percentual para 1,75% ao ano - deve ter um impacto positivo nos mercados emergentes e, conseqüentemente, no Brasil, na opinião de boa parte dos analistas. Isso porque o cenário desenhado pelo presidente da autoridade monetária, Alan Greenspan, é de recuperação do ritmo da atividade econômica e do mercado de trabalho, mas sem pressões inflacionárias - o que sinaliza que a política de elevação da taxa manterá o ritmo moderado, com chances até de uma interrupção nesse ciclo.

Os juros nos Estados Unidos iniciaram 2004 em 1%. Com três altas consecutivas de 0,25 ponto, a taxa volta ao patamar de outubro de 2002. E pode não parar por aí, já que até o final do ano há mais duas reuniões: nos dias 10 de novembro e 14 de dezembro.

"A decisão, em linha com as expectativas do mercado, é uma boa notícia para o Brasil", afirmou o economista-chefe do Banco Schahin, Cristiano Oliveira. Segundo ele, ainda que o impacto nos mercados tenha sido quase nulo, as perspectivas até o final do ano são favoráveis. "O Brasil será beneficiado com o cenário internacional de tranqüilidade, associado ao quadro interno de crescimento econômico". Ele citou ainda como reflexo o maior grau de previsibilidade das ações do BC brasileiro.

Com o quadro que combina a recuperação moderada do mercado de trabalho americano ao recuo da inflação e das expectativas futuras, citado no comunicado divulgado pelo Fed, não há como descartar - na avaliação de Oliveira - a hipótese de haver só mais um ajuste de 0,25 ponto até o fim do ano. Nesse cenário, o economista prevê o forte recuo dos juros dos títulos de dez anos do Tesouro americano, podendo romper o piso dos 4% em meados de outubro - ontem, a taxa recuou para 4,04%.

Para o economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Rosa, "a decisão coroa o quadro favorável para mercados emergentes". Segundo ele, isso porque a economia mundial - liderada pelos EUA - está crescendo, mas ainda com os juros em patamar reduzido, o que significa ampla liquidez. "O cenário para captações brasileiras continua positivo."

Rosa destacou que, para a política monetária dos EUA atingir o patamar neutro, novos aumentos devem ocorrer. "O juro real continua negativo (considerando uma taxa nominal de 1,75% e uma inflação próxima dos 3%) e, portanto, há espaço para altas", disse. Segundo o economista, Greenspan reafirmou no comunicado que a política monetária continua acomodativa e, portanto, dá a entender que manterá o ajuste.

Porém, os sinais de melhora da atividade econômica com a recuperação moderada do mercado de trabalho não vêm acompanhados de uma pressão inflacionária, apesar da alta do petróleo. "Nesse cenário, o Fed pode se dar ao luxo de manter a taxa inalterada até o final do ano", disse. Segundo o economista, os analistas estrangeiros trabalham com essa hipótese. Mas, ele acredita que haverá mais uma elevação de 0,25 ponto, para 2%.

Para Vladimir Caramaschi, economista-chefe da Fator Corretora, apesar de manter a perspectiva de ritmo moderado de alta de juro, o Comitê adverte que "irá responder às mudanças nas perspectivas econômicas da maneira necessária ao cumprimento de sua obrigação de manter a estabilidade de preços". Isso, segundo ele, pode ser um sinal de que uma alta mais agressiva no juro não deve ser descartada, implicando em um ajuste para cima nas taxas de médio e longo prazo nos EUA. "Para o Brasil, a notícia não é positiva, já que pode interromper, ou ao menos reduzir, a tendência de queda do risco país", disse Caramaschi. Ontem, porém, o risco recuou 0,70%, para 462,5 pontos. O dólar fechou em queda de 0,31%, a R$ 2,866. Na BM&F, o contrato de janeiro, o mais líquido, ficou estável em 16,70%.