Título: Lula e dirigente holandês criticam o protecionismo
Autor: Cecília,Ana
Fonte: Gazeta Mercantil, 03/03/2009, Brasil, p. A5
São Paulo, 3 de Março de 2009 - A crise internacional, o encontro do G 20, em Londres, Inglaterra, em abril, e a reabertura das rodadas de Doha deram a tônica das declarações do presidente Lula e do primeiro ministro dos Países Baixos, Jan Peter Balkenende, no encontro de ontem, realizado na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Ambos os governantes afirmaram estar afinados quanto à necessidade de defenderem na próxima reunião dos 20 principais chefes de estado do mundo uma regulamentação do sistema financeiro internacional, sua fiscalização e medidas contra o protecionismo.
"Vamos trabalhar para encontrarmos, juntos, as soluções", comentou Jan Peter Balkenende, em relação à crise internacional. Segundo o dirigente dos Países Baixos, será preciso fazer "todo o possível" contra o protecionismo e trabalhar para que a agenda das mudanças climáticas avance. Segundo Balkenende -- que frisou a forte impressão deixada por Lula na Holanda em sua última visita de estado -- seu colega brasileiro tem sido uma voz importante no cenário internacional a ressaltar o impacto da crise internacional sobre os países pobres. "O senhor é um grande presidente. Quero agradecer por tudo o que ele tem feito pelos povos do mundo", afirmou o holandês.
De acordo com o primeiro ministro, apesar de seu país ser menor que o Brasil mais de 200 vezes, ainda assim, é o 7o. investidor e o 10o. PIB do mundo. Nesse sentido, o dirigente lidera uma comitiva de mais de 70 empresas holandesas ao Brasil e tem na sua agenda visitas à Embraer, Petrobras e à Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (pertencente à Universidade de São Paulo - USP) para conhecer seus avanços nos campos dos biocombustíveis. E, apesar de as importações brasileiras da Holanda resumirem-se a pouco mais de US$ 1,5 bilhão por ano, menos de 1% do total comprado pelo País, Balkenende considera o Brasil parceiro de status estratégico. "Além de Roterdam ser o primeiro porto de entrada para a Europa de produtos brasileiros como etanol, soja, café e cítricos, o Brasil é um player global respeitável", elogiou.
Para o dirigente holandês, o maior potencial de negócios entre os dois países está nos campos da energia, portos, transportes, construção, logística e manejo das águas.
Já, o discurso se Lula foi enfático. "Pesa sobre nós algumas responsabilidades. Não temos o direito de aceitar o protecionismo como solução para esta crise", acrescentou. "A saída é mais mercado", concluiu. Lula frisou a importância da reabertura das rodadas de Doha e, respondendo a jornalistas, afirmou sua crença no êxito das negociações. "Doha foi quase concluída no passado. Pesou a questão política das eleições nos Estados Unidos e na Índia, a serem realizadas no mês que vem. Não é algo que possa impedir uma nova rodada", argumentou. Segundo ele, os avanços nesse campo são imprescindíveis "para que os países pobres não se tornem em miseráveis devido a uma crise da qual não tiveram culpa".
Para o presidente brasileiro, a crise deverá aprofundar as relações bilaterais entre Brasil e Holanda, assim como as descobertas de reservas de petróleo Petrobras no pré-sal. "A Holanda tem muita experiência na construção de navios, estruturas off shore plataformas de petróleo", ressaltou.
Questionado sobre o desemprego no Brasil. Lula afirmou que o governo trabalha para que, ao final deste ano o País tenha aberto mais vagas do que as que forem fechadas. "Por isso estamos com três turnos nas obras do PAC, anunciamos o programa de habitação popular, o programa de renovação da linha branca e ações para a renovação da frota de caminhões", argumentou. Para Lula, a crise oferece um leque de oportunidades ao País. "Podemos fazer agora o que em tempos de normalidade teríamos muita dificuldade em discutir", disse.
Sobre a as demissões da Embraer, o presidente brasileiro lembrou que 90% de sua produção é destinada ao mercado internacional, cuja demanda está em queda. Segundo o presidente, as críticas que ele, Lula, teria a fazer à empresa, já foram feitas. "Mas, para resolver o problema, temos que levar a aviação regional a comprar seus aviões", argumentou. Ele criticou o fato de empresas brasileiras de aviação fazerem encomendas à Boeing e Airbus. "É um desafio promover essa discussão", concluiu.
(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 5)(Ana Cecília Americano)