Título: Quedas sucessivas do PIB levam economia da Suécia à recessão
Autor: Vizia,Bruno De
Fonte: Gazeta Mercantil, 03/03/2009, Internacional, p. A14

Estocolmo *, 3 de Março de 2009 - A economia da Suécia entrou oficialmente em recessão na última sexta-feira, dia 27 de fevereiro, ao registrar retração de 4,9% em seu Produto Interno Bruto ( PIB) do quarto trimestre de 2008, em comparação com igual intervalo do ano anterior. De acordo com dados divulgados pelo Statistics Sweden, quando comparado ao terceiro trimestre, o recuo do PIB sueco foi de 2,4%, e ao registrar dois trimestres consecutivos de retração, o país nórdico entra tecnicamente em recessão.

Os números ruins não se restringiram ao PIB. Nos três últimos meses do ano passado a produção industrial despencou 6,1%, na comparação com o mesmo período de 2007, com o consumo dos lares suecos caindo 3,3% em igual intervalo. Mas a pior notícia ficou por conta do comércio externo. A importação recuou 5,4% e as exportações caíram respeitáveis 7,2% no quarto trimestre de 2008. Considerando que mais da metade (53%) do PIB do país depende diretamente das vendas externas, é possível imaginar a magnitude do problema enfrentado pelo país nórdico.

A queda da demanda global foi um dos fatores apontados como o principal responsável pelos números negativos. "Com a crise, estamos esperando uma queda de 5% em nossas exportações para este ano de 2009", afirmou Ulf Berg, presidente do Swedish Trade Council, entidade ligada ao governo e à indústria sueca, cujo objetivo é fomentar o comércio exterior do país.

Comércio internacional

O fluxo de comércio internacional crescia a um ritmo de 7% ao ano nos três anos, e em 2008 o país nórdico exportou US$ 200 bilhões, para um PIB de US$ 417 bilhões. "Nossa estimativa, que está em linha com a perspectiva econômica da União Européia, é de recuo entre 1% e 2% em nosso PIB para este ano", destacou Berg. Ele ressalta que a queda no comércio exterior afetará toda a indústria do país e a cadeia de produção de diversos setores, especialmente o de caminhões e ônibus.

A esperança é que os Estados Unidos, que respondiam por 30% do mercado mundial antes da crise, comecem a se recuperar, e com isso alavanquem novamente o comércio internacional, avalia o executivo. Ele salienta que em 2007 a região que engloba os EUA, o México e o Canadá respondeu por 9% do total de vendas externas da Suécia, e apesar de não ter os números oficiais de 2008, Berg estima que as vendas para a América do Norte não alcançaram 7% do total comercializado no ano passado.

Os maiores parceiros são a Alemanha, Noruega e Reino Unido, que consumiram, cada um, cerca de 10% das exportações suecas. Porém, como estes países também estão sendo severamente impactados pela crise, "as perspectivas não são as melhores", lamenta Berg. Outra notícia desalentadora é a turbulência enfrentada por alguns países bálticos, como Polônia e Hungria, cujo abalo na economia deverá se refletir nos bancos suecos, que possuem grandes investimentos nesses países. "Nossos bancos não tem grande exposição com ativos tóxicos (derivativos), mas na parte dos investimentos eles deverão penar um pouco", pondera o presidente do Swedish Trade Council.

Mercado de trabalho

Conhecida por seu forte sistema de proteção social, a Suécia ainda não registrou um grande número de demissões em seu mercado de trabalho. "Aqui não há grandes custos para demitir, mas as empresas tem que anunciar demissões com seis meses de antecedência", explica Berg. Por este motivo, ele espera uma onda de demissões no segundo semestre deste ano, agravadas pelo fato de que "grande parte do sistema de proteção social depende das exportações", argumenta.

Entretanto, o executivo afirma que o governo tem adotado medidas para minimizar o impacto da crise nas exportações suecas, especialmente por meio da concessão de crédito para as pequenas e médias empresas exportadoras do país. E acrescenta que, ao contrário dos EUA, não houve no país uma crise de crédito após o agravamento da crise financeira em setembro último, mas sim uma expansão dos empréstimos. "Diversas empresas suecas, as grandes inclusive, estão voltando ao país para buscar o crédito que não conseguem mais lá fora, e até o momento o governo tem dado conta da demanda", conclui.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 16)(Bruno De Vizia - O jornalista viajou à Suécia a convite do Saab Group.)