Título: Pessimismo faz bolsa perder mais de 5%
Autor: Feltrin,Luciano
Fonte: Gazeta Mercantil, 03/03/2009, Finanças, p. B1

São Paulo, 3 de Março de 2009 - A semana e o mês começaram, para o mercado de capitais global, em clima de grande pessimismo. Em uma sessão que mesclou anúncios de novos prejuízos de instituições financeiras com mais ceticismo dos investidores em relação à eficácia do programa de socorro destinado a elas, a bolsa paulista acompanhou suas similares no mundo, recuando 5,1%, aos 36.234 pontos. É o menor nível do Ibovespa - carteira teórica que contém os 66 papéis mais negociados da BM&F Bovespa - desde dezembro. No ano, a bolsa já acumula perdas de 3,5%. O giro financeiro do dia foi de R$ 3,9 bilhões.

Entre as principais notícias negativas do dia estiveram os prejuízos registrados pela seguradora AIG e pelo britânico HSBC.

A AIG teve perdas de US$ 61,7 bilhões no quarto trimestre do ano passado. Para evitar que a companhia quebre, o Tesouro norte-americano aportará US$ 30 bilhões na instituição. No ano passado, o governo dos Estados Unidos já havia colocado cerca de US$ 150 bilhões no grupo.

Pior cenário

O HSBC também contribuiu para elevar o tom das preocupações do mercado acionário global. A operação mundial do banco viu seus lucros encolherem mais de 60% no ano passado. "Os números são ruins o suficiente para falar por si", diz o economista-chefe da Gradual Corretora, Pedro Paulo Silveira. O cenário é o pior possível em termos de ambiente macroeconômico. O recado dado pelos mercados é o de que o modelo apresentado de salvamento às instituições financeiras não tem um suporte razoável no preço dos ativos", explica.

Para outros analistas, mesmo que os planos do governo norte-americano para dar liquidez aos bancos seja altamente sofisticado, a grande dificuldade será torná-lo razoáveis na prática. "A solução para os bancos certamente terá de passar antes pela precificação adequada dos ativos imobiliários", projeta o sócio-diretor da InvestCerto, Luiz Rogé.

Em um dia de nervosismo acentuado, as bolsas ao redor do globo cederam para níveis considerados abaixo dos pisos. Foi o caso, por exemplo, do Dow Jones, que recuou 4,24%, para 6.763 pontos, seu menor patamar desde abril de 1997. "Com o risco de saber quem serão os próximos a sofrer com a crise, as bolsas internacionais já furaram suas mínimas. E não dá para dizer que o piso chegou", afirma o gestor.

Queda generalizadaO mau humor dos mercados não poupou setores. Ações de bancos recuaram no já conhecido movimento promovido por investidores que detêm aplicações em diversas partes do mundo. Muitos vendem suas ações no País para cobrir prejuízos no exterior. E fazem os papéis do setor desabar na bolsa local.

As perdas do dia, no entanto, estiveram distribuídas em diversos segmentos. A queda do Ibovespa foi puxada pelas ações da Gafisa, que recuaram quase 9,5%, vendidas a R$ 8,97. Logo atrás esteve a Aracruz, cujas ações PNB tombaram 8,1%, a R$ 1,57.

Vale e Petrobras, principais vedetes do pregão local, recuaram forte, perdendo mais de 5%.

Entre os papéis do Ibovespa, a única alta foi da Natura, de apenas 0,14%, a R$ 21. "Seu produto final é menos afetado pela crise de crédito", diz o analista da WinTrade, José Góes.

Ver também págs. B2 e B8

(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 1)(Luciano Feltrin)