Título: EUA estimulam projetos de eficiência energética
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Fonte: Gazeta Mercantil, 03/03/2009, InfraEstrutura, p. C4

Knoxville, Tennessee ( EUA) , 3 de Março de 2009 - Quem entra no subsolo do Posto 9 do Corpo de Bombeiros dessa cidade vê um amontoado de velhos hidrantes, imagens saídas das tirinhas de Dr. Pepper, ancinhos e equipamentos espalhados, mas, para os especialistas em eficiência energética, o prédio construído nos anos 60 apresenta outro tipo de problema: aquecedores de água de potência excessiva para os chuveiros dos bombeiros, geladeiras antigas e iluminação obsoleta.

Quando terminar a elaborada inspeção das instalações elétricas, Knoxville saberá quais das 99 cidades desperdiçam mais energia. A cidade prevê iniciar as reparações no terceiro trimestre, a tempo de pegar um tsunami de verba de estímulo federal reservada para tarefas prosaicas como substituir lâmpadas e consertar dielétricos mal vedados.

O momento é excelente para a cidade de Knoxville. O município iniciou o árduo trabalho de catalogar as deficiências antes de o projeto de lei de estímulo ser aprovado, e está bem adiantada no planejamento dos próximos passos. Mas os especialistas se preocupam que as outras beneficiárias, especialmente as cidades, não estejam preparadas para supervisionar as imensas somas dos recursos destinados a aprimorar a eficiência no uso de energia que estão prestes a receber.

A verba prevista no projeto de lei é suficiente para cobrir uma grande expansão de projetos para aprimorar a eficiência nos EUA. Mas como ocorre em outras partes do pacote de estímulo, o plano está criando tensão entre gastar o dinheiro rapidamente, para obter estímulo econômico rápido, e gastar bem o dinheiro, para obter os melhores resultados no longo prazo.

"Há grande oportunidade aqui para expansão dos programas de eficiência energética nesse país", disse Lowell Ungar, diretor de programas da Alliance to Save Energy (ASE), uma organização que promove a eficiência energética. "Mas há certamente possibilidade de desperdício".

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, sancionou o pacote de estímulo em 17 de fevereiro, saudando-o como uma injeção de dinheiro suficiente para ajudar a tirar a economia da letargia e, ao mesmo tempo, adiantar muitas de suas prioridades de campanha. A aceleração da transição energética do país está no topo da lista. Muitos especialistas na área concordam com ele que a economia obtida com os investimentos cuidadosamente selecionados em eficiência energética no final será maior do que o custo deles ao reduzir as contas de luz.

Nada menos que US$ 20 bilhões da lei de estímulo foram destinados para programas como o aumento da eficiência no uso de eletricidade nos prédios públicos e nas casas de famílias pobres, e para tentar encontrar maneiras melhores para poupar energia. Esse é o maior projeto de lei assinado na história, dizem os partidários dos programas. Dentro de poucos meses, o dinheiro começará a ser depositado nas contas bancárias das agências municipais e estaduais com número reduzido de funcionários, que estão acostumadas a catar um centavo aqui, um dólar ali.

Utah espera que sua agência energética estadual receba US$ 40 milhões para os programas de promoção de eficiência energética, energia renovável e programas relacionados - 123 vezes o tamanho da verba da agência, disse Jason Berry, que coordena a unidade formada por quatro pessoas. Agora ele poderá contratar mais pessoas.

O pacote contém US$ 5 bilhões para isolar as residências de famílias de baixa renda do clima frio por meio do Departamento de Energia, dinheiro suficiente para dar aos programas estaduais que coordenam esse trabalho 10 a 30 vezes a verba que receberam no ano passado, disse Christina Kielich, porta-voz do departamento.

Para aqueles que defendem esse programa relativamente obscuro, "é como se tivessem finalmente chegado ao outro lado do deserto e estivesse chovendo", disse Seth Kaplan, vice-presidente da Conservation Law Foundation, um grupo de defesa do meio ambiente.

O pacote de estímulo também destina US$ 4,5 bilhões para modernizar os prédios federais e US$ 2,5 bilhões para pesquisa nas áreas de eficiência energética e energia renovável. A maior fatia, US$ 6,3 bilhões, será distribuída pelo Departamento de Energia em verbas para os governos municipais e estaduais, que poderão usá-las para instalar vidraças mais espessas nos prédios do governo e conceder reembolsos para os proprietários de residências que substituírem suas lâmpadas.

As residências e os prédios comerciais respondem por 39% do consumo nacional de eletricidade. Os especialistas dizem que aprimorar a eficiência não representa só economia, mas também uma boa maneira de reduzir as emissões dos gases responsáveis pelo efeito estufa que gera o aquecimento global.

Mas calcular como gastar o dinheiro de modo eficaz - saber quais universidades precisam calafetar suas portas, por exemplo, ou quais paredes de postos do corpo de bombeiros têm isolamento térmico muito tênue - pode envolver longas e complexas análises por parte de técnicos especializados.

"As pessoas são muito conservadoras com relação aos seus prédios", disse Donald Gilligan, presidente da National Association of Energy Service Companies, um grupo de classe. "Ninguém quer instalar uma tecnologia falha nos prédios escolares ou ter problemas com a iluminação".

Em Knoxville, uma equipe de inspetores contratada pela prefeitura está há seis meses inspecionando os cantos sujos dos postos de bombeiros e policiais e mesmo dos centros de convenções, onde um funcionário referiu-se à área de caldeira no andar de baixo como uma "sala que come dinheiro".

Redução na conta de luz

Knoxville - que informa que o dinheiro do pacote de estímulo pode ajudar a acelerar ou expandir seu programa - espera reduzir as contas de luz da cidade em até 25%, e a cidade está "definitivamente na crista da onda no que se refere a eficiência energética e a municipalidades que criam programas para promover a eficiência", disse John Plack Jr., diretor do projeto de desenvolvimento para a Ameresco, que está conduzindo a inspeção das instalações elétricas de Knoxville.

Na região sudeste do país, onde Plack trabalha, os preços baixos de eletricidade muitas vezes contribuíram para adiar as decisões de poupar energia, ao contrário da Califórnia e de boa parte da região nordeste. Por exemplo, Nashville, a 321 quilômetros no oeste de Knoxville, não conduziu uma inspeção nas instalações elétricas dos seus prédios municipais, embora espere usar o dinheiro do pacote de estímulo para inspecionar seus postos de bombeiros e bibliotecas.

"Muitos municípios ignoram completamente que esses programas estão avançando", disse Kaplan, referindo-se especialmente às cidades menores. "Elas não têm a infraestrutura para lidar com isso".

O Departamento de Energia, que está distribuindo a maior parte das subvenções, tem sido criticado no Capitólio pelos atrasos nos desembolsos de outros tipos de assistência para promover o desenvolvimento de energia limpa. Kielich disse, numa mensagem de e-mail, que o departamento espera que as subvenções para o aprimoramento da eficiência energética comecem a seguir para as agências municipais e estaduais dentro de 120 dias, e que planejava iniciar o desembolso do dinheiro para cobrir o programa de isolamento térmico "de modo eficaz e responsável".

(Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 4)(The New York Times)