Título: Pão de Açúcar tem R$ 1,6 bi em caixa para superar tempos de crise
Autor: Oliveira,Regiane de
Fonte: Gazeta Mercantil, 04/03/2009, Brasil, p. A10

São Paulo, 4 de Março de 2009 - É com a mesma estratégia conservadora adotada no ano passado que o Grupo Pão de Açúcar pretende passar ao largo da crise financeira e garantir o crescimento em 2009. Neste primeiro trimestre, os investimentos de R$ 1,2 bilhão previstos para a abertura de até 100 lojas, bem como os planos de criar uma subsidiária para atuar no mercado imobiliário, ou mesmo, a possibilidade de aproveitar a crise para crescer com aquisições, estão congelados. O que não significa que a empresa esteja com o "pé no breque", garante Cláudio Galeazzi, diretor-presidente da companhia. "Estamos aguardando o final do trimestre para averiguar a equação crise econômica/resultados da empresa. Dependendo de como for, vamos colocar o pé no acelerador", diz o executivo.

Segundo Galeazzi, recursos não faltam. O modelo de recuperação implementado nos últimos dois anos, finalmente, mostrou resultados concretos. Com uma redução agressiva no valor dos investimentos, renegociação da dívidas de curto prazo, redução de seis dias no número de estoque, entre outros, a empresa encerrou o ano de 2008 com recursos em caixa de pouco mais de R$ 1,6 bilhão, valor digno de dar inveja às empresas menos precavidas .No início de 2008, o caixa da companhia contava com cerca de R$ 500 milhões.

A estratégia foi traçada em abril de 2008, antecipando um possível cenário de dificuldades na área imobiliária. "Renegociamos o perfil da dívida de forma a só termos vencimentos significativos em junho de 2010. Também reduzimos os investimentos e tomamos uma medida, até considerada draconiana, de analisar todos os processos comerciais e reduzir os estoques. Com isso conseguimos uma posição de caixa confortável", diz Galeazzi.

Essas ações, aliadas às políticas que já vinham sendo implementadas, como o orçamento base zero e readequação de preços e de sortimento de produtos, fizeram com que a empresa conseguisse bater todas as metas prometidas para o ano de 2008 (ver tabela).

As vendas brutas da empresa ultrapassaram a meta de R$ 20 bilhões, chegando a R$ 20,9 bilhões, valor 18,2% superior ao de 2007. As vendas em lojas abertas há pela menos um ano também apresentou crescimento. No ano, a alta foi de 2,6% em valores reais (deflacionados pelo IPCA). Já o Ebitda (Lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização), foi 32,5% maior, em R$ 1,34 bilhão. O lucro líquido fechou o ano com alta de 41,6%, em R$ 298 milhões.

De acordo com Enéas Pestana, vice-presidente administrativo financeiro da companhia, a recompensa pela estratégia adotada em 2008 já foi entregue pelo mercado financeiro. Na contramão de outras empresas de varejo, as ações do Grupo Pão de Açúcar têm mantido um bom preço de mercado. "Não é que subimos muito, só não caímos. Outras empresas do varejo tiveram uma desvalorização forte, enquanto nossos papéis mantêm-se na faixa de R$ 30", explica Pestana. No acumulado de doze meses, encerrado em fevereiro, os papéis da empresa tiveram queda de 20%. Ontem, as ações do grupo fecharam em R$ 29,20, com alta de 1,88%.

Na avaliação de Galeazzi, esse "prestígio" deve-se ao negócio do grupo: "Temos uma ação defensiva, porque devido ao tipo do negócio, que é 70% baseado na venda de alimentos, somos os últimos a sentir a crise e os primeiros a sair dela." A empresa vem realizando um programa teste de recompra de ações, com duração de três meses, "para sentir o mercado", diz Pestana. A previsão é que esse programa possa ser estendido por mais tempo.

Mas a reação do mercado vai depender do que a rede pretende fazer para crescer neste ano. Galeazzi já adianta a possibilidade de que os investimentos previstos (R$ 1,2 bilhão) sejam realizados é pequena, pois pode faltar tempo e não oportunidades. Aliás, por enquanto, os executivos afirmam que a empresa não tem do que reclamar das vendas. "Só não vendemos em janeiro os produtos que a indústria não entregou, como celulares", diz Pestana. No entanto, Galeazzi não parece tão otimista quanto as vendas para o ano: "Na pior das hipóteses manteremos as vendas, se possível vamos crescer. Mas estamos preparados para um 2009 difícil."

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 10)(Regiane de Oliveira)