Título: Confronto entre PT e PTB por comando de comissão
Autor:
Fonte: Gazeta Mercantil, 04/03/2009, Brasil, p. A11

Brasília, 4 de Março de 2009 - O PT vai hoje para o corpo a corpo contra o PTB na definição da presidência da Comissão de Infraestrutura do Senado (CI), um nó que vem paralisando a Casa desde o início do ano legislativo. A batalha interna à base governista opõe os senadores Fernando Collor (PTB-AL) e Ideli Salvatti (PT-SC) na disputa pelo cargo e tem origem ainda na articulação que levou o senador José Sarney (PMDB-AP) à presidência do Senado: em troca de apoio a Sarney, o líder do PMDB na Casa, Renan Calheiros (AL) ofereceu a presidência de uma comissão ao PTB.

A princípio, a proposta era conduzir Collor ao comando da Comissão de Relações Exteriores (CRE), posto também cobiçado pelo PSDB que, pelo critério de proporcionalidade, tem primazia na escolha da comissão por ter uma bancada maior do que a do PTB. A bancada tucana contou com apoio petista na comissão - reflexo também do apoio do PSDB à candidatura do senador Tião Viana (PT-AC) à presidência da Casa.

A aliança circunstancial entre as duas legendas teria irritado os petebistas, que partiram para o confronto com Ideli na Comissão de Infraestrutura. A base governista, mais especificamente o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR) passou todo o feriado de carnaval à procura de um consenso na acomodação dos aliados, sem sucesso. Nenhum dos lados cedeu e a disputa por votos, convocada para hoje por Sarney como tentativa de desatravancar a agenda da Casa, acontece sob o signo dos ressentimentos e da rachadura entre os partidos de sustentação do governo.

Collor alega ter ao menos uma maioria apertada entre os 21 senadores que compõem a comissão. Contando com o apoio do DEM - dono de três cadeiras na CI - o senador petebista acredita ter 11 votos. "Não podemos aceitar que afrontem o critério da proporcionalidade", reage Ideli. Mais uma vez, o PTB perde para o PT se for seguido esse critério. São sete os senadores petebistas. A bancada do PT reúne 12 senadores.

Na tentativa de minimizar os estragos e buscar a conciliação dentro da base, acena-se para Ideli com a possibilidade da liderança do governo no Congresso, cargo hoje ocupado por Roseana Sarney (PMDB-MA), que deve se licenciar por problemas de saúde. "A disputa não é boa para a base, nós sabemos, mas o PMDB não tem alternativa se não o cumprimento do acordo firmado com o PTB", diz Renan Calheiros. Segundo ele, a legenda não fará oposição à entrega da liderança ao PT, se esse for o preço do acordo. "A liderança do governo no Congresso é tradicionalmente um cargo do PMDB, mas o partido se dispõe a abrir mão do cargo, e o nome para esse posto é o da senadora Ideli."

Líderes da base concordam, contudo, que o governo não passará pelo teste da disputa pelas comissões sem carregar sequelas. O Planalto não pode abrir mão dos sete votos do PTB em uma Casa onde a bancada governista não constitui uma maioria constante. Também ficará em situação desconfortável ao ver o comando da Comissão de Infraestrutura - por onde passarão todos os projetos incluídos no guarda-chuva do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) - cair nas mãos de um magoado Collor. Riscos à parte, o Senado decide hoje o comando de todas as suas comissões e conclui o desenho da Casa nos dois últimos anos do mandato de Luiz Inácio Lula da Silva.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 11)(Karla Correia)