Título: Florestas brasileiras atraem interesse de fundos estrangeiros
Autor: Rosa, Silvia
Fonte: Gazeta Mercantil, 04/03/2009, Gazetainveste, p. B3

São Paulo, 4 de Março de 2009 - Com grande oferta de área disponível e condições climáticas favoráveis, o Brasil tem despertado o interesse de fundos estrangeiros que investem na plantação de florestas com fins comerciais, conhecidos como Timos (Timber Investment Management Organization). Esse tipo de investimento começou a se desenvolver na metade da década de 80 nos Estados Unidos e começa a despertar a atenção de gestores locais.

A Claritas Investimentos lançou em janeiro o Fundo de Investimento em Participação (FIP) Floresta do Brasil, de R$ 101,8 milhões, com foco na venda de madeira para o mercado de celulose, energia e ferraria. Segundo o gestor e corresponsável pelos projetos florestais da Claritas, Marcelo Sales, cerca de 25% desses recursos foram captados com investidores estrangeiros. "Apesar da crise, o apetite dos estrangeiros para esse setor continua muito forte."

Os investimentos serão realizados por meio da Corus Agroflorestal, especializada na gestão de ativos florestais. "O negócio já está acertado e só estamos aguardando a aprovação pelo comitê de investimento", diz Sales A empresa já tem 4 mil hectares de floresta de eucalipto em Campo Grande e Três lagoas, no Mato Grosso do Sul, voltados para o fornecimento para a indústria de papel e celulose.

Outro foco da empresa é o mercado de energia, com o fornecimento de carvão vegetal para indústrias siderúrgicas, além de madeira pronta para a indústria de ferraria. "Estamos olhando investimento nas regiões Centro-Oeste e Sul e em Minas Gerais", diz Sales. Ele destaca que a vantagem desse tipo de investimento é que, em eventual queda de preço no mercado, ele pode esperar a melhora do cenário para cortar as árvores.

A gestora de fundos de private equity Stratus também investiu no setor, com a compra de participação na Timber Value, que atua nos setores de manejo sustentável de florestas e na gestão de ativos florestais, voltada para a venda de madeira certificada. "É um ativo interessante para investidores de longo prazo, que pode render até 15% ao ano", afirma Carlos Kokron, diretor da Stratus. Kokron afirma que o investimento foi realizado pelo fundo da gestora voltado para investimentos sustentáveis, que inclui as áreas de reciclagem de lixo, tratamento de água e esgoto e energia renovável.

O advogado do Fleury, Malheiros, Gasparini, De Cresci e Nogueira Lima - que representa os fundos estrangeiros no Brasil -, Aldo de Cresci, destaca que esse tipo de investimento tem atraído investidores com perfil de longo prazo, como fundos de pensão, fundos de universidades (endowments) e family offices. "O tempo de crescimento de algumas árvores para o corte é de, no mínimo, 7 anos, quando o investidor começa a ter retorno."

Chegada de estrangeiros

O presidente da TTG Brasil- empresa especializada na prospecção, aquisição e gestão de ativos florestais -, Carlos Alberto Guerreiro, destaca que houve um aumento da participação dos investidores estrangeiros nos últimos dois anos. "Nos Estados Unidos, esses fundos passaram a ser fornecedores de empresas como a Internacional Paper, que deixou a área de plantio para se dedicar a fabricação de papel e celulose."

Grandes fundos dedicados a investimento nesse setor, os chamados Timos, já estão no Brasil. Um dos primeiros a chegar foi a Global Forest Partners (GFP), que adquiriu em 2001 as florestas da antiga Pisa no Paraná.

Nos últimos anos, grandes gestores têm realizado negócios no País, seja pela parceria com um sócio local ou investimentos diretos na plantação de florestas. Entre eles está a gestora norte-americana Hancock Timber Resources Group (HTRG), considerado o maior Timo do mundo, com US$ 8,5 bilhões de ativos sob gestão, que chegou no País em 2005 e é proprietária de 20 mil hectares de florestas de pinus no Paraná. O RMK Timberland Group, com cerca de US$ 1 bilhão sob gestão, também tem negócios nos Estados de Minas Gerais e Rio Grande do Sul.

Há seis anos no mercado de gestão florestal, a Nemus tem atuado em parceria com diversos Timos estrangeiros, como a Phaunos, com US$ 2,5 bilhões de ativos sob gestão, e que deve investir cerca de US$ 150 milhões no Brasil até o final deste ano. "Atuamos tanto na prospecção de negócios como na gestão dos ativos florestais, com expertise em plantações de teca e eucalipto", afirma Rodrigo Derdyk, presidente da Nemus. A gestora conta hoje com parceria com três fundos estrangeiros, cujos investimentos devem somar US$ 1,5 bilhão, sendo responsável pela administração de 120 mil hectares de florestas plantadas. "Com a redução das áreas de plantio, o Brasil atrai os investidores com grande oferta de terra disponível."

Segundo Cresci, as regiões mais procuradas para esse tipo de investimento são Mato Grosso, região Sul e Sudeste, e Piauí e Bahia, que despertam interesse pelo baixo custo.

(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 3)(Silvia Rosa)